Justino era aniquilacionista?
A paz do Senhor a todos! Hoje trago uma reflexão sobre Justino Mártir, um dos mais importantes Pais da Igreja do século II, conhecido por sua defesa da fé cristã diante de heresias e do pensamento pagão. Alguns grupos aniquilacionistas afirmam que ele compartilhava sua visão de que, no fim, os ímpios não seriam atormentados eternamente, mas exterminados. No entanto, será que essa alegação encontra respaldo em seus escritos? Vamos analisar suas obras à luz dessa questão, buscando compreender se sua visão da punição final estava de fato alinhada com essa interpretação ou com a doutrina tradicional da Igreja.
Antes de qualquer coisa, é necessário afirmar que nossa fé não se fundamenta nas opiniões dos Pais da Igreja, ainda que sejam antigos e respeitados, mas unicamente nas Escrituras, que são a base da verdade divina. No entanto, é importante ressaltar que as opiniões desses homens têm valor histórico e teológico, pois nos ajudam a compreender que o cristianismo praticado hoje é o mesmo que foi vivido e ensinado nos tempos próximos ao período apostólico.
Vamos para a primeira obra conhecida, que é a Primeira Apologia e vermos como o apologista do século 2 entende:
"E Platão , da mesma maneira, costumava dizer que Radamanto e Minos puniriam os perversos que vieram antes deles; e dizemos que a mesma coisa será feita, mas nas mãos de Cristo , e sobre os perversos nos mesmos corpos unidos novamente aos seus espíritos que agora devem sofrer punição eterna; e não apenas, como Platão disse, por um período de mil anos. E se alguém disser que isso é incrível ou impossível, esse erro nosso é um que diz respeito somente a nós mesmos, e a nenhuma outra pessoa, desde que você não possa nos condenar por fazer qualquer mal." (Capítulo 8)
Justino Mártir, de forma clara e inconfundível, não era aniquilacionista. Em sua Primeira Apologia (Capítulo 8), ele rejeita qualquer ideia de extinção ou destruição final dos ímpios, como defendem os aniquilacionistas. Justino afirma explicitamente que a punição dos ímpios será eterna, ao contrário do mito de Er de Platão, que sugere uma punição temporária, isto é, de mil anos. Ele alude diretamente a Mateus 25:46, onde Jesus ensina sobre o castigo eterno para os ímpios, reforçando que o sofrimento no juízo final não terá fim. Justino não apenas refuta a visão platônica, mas também contradiz qualquer interpretação que minimize a gravidade e a perpetuidade do castigo, afirmando com firmeza que os ímpios sofrerão eternamente, ressuscitados em seus corpos e unidos aos seus espíritos. Sua visão está em total harmonia com a doutrina cristã histórica, que ensina a punição eterna, e em total desacordo com as doutrinas aniquilacionistas.
Eu já vi em certas exposições universalistas (pessoas que creem que, fim todos serão salvos) que quem acreditava que os ímpios passariam mil anos era Justino. Entretanto toda essa tentativa é derrubada quando vemos, que no "Mito de Er", essa era a duração do tormento do ímpio na visão platônica.
"Mas se vocês não derem atenção às nossas orações e explicações francas, não sofreremos nenhuma perda, pois cremos (ou melhor, na verdade, estamos persuadidos) de que todo homem sofrerá punição no fogo eterno de acordo com o mérito de sua ação, e prestará contas de acordo com o poder que recebeu de Deus , como Cristo insinuou quando disse: A quem Deus deu mais, mais será exigido. Lucas 12:48" (Capítulo 17)
Curiosamente, Justino explica de maneira clara que a punição eterna dos ímpios será no fogo eterno, uma doutrina amplamente aceita no cristianismo desde seus primórdios e que permanece firme até hoje. Isso contrasta diretamente com a ideia de que o fogo seja eterno em consequências, como defendido por algumas correntes aniquilacionistas. Se, como Justino afirma, os ímpios serão punidos não por mil anos, mas eternamente, e essa punição ocorrerá no fogo, é inegável que o fogo em questão é eterno em duração, não limitado ao tempo ou à extinção.
"E se você também ler estas palavras com um espírito hostil, você não pode fazer mais, como eu disse antes, do que nos matar; o que de fato não nos causa dano, mas a você e a todos os que injustamente nos odeiam e não se arrependem, traz punição eterna pelo fogo" (Capitulo 45)
Já no capítulo 28, Justino praticamente mescla Apocalipse 20:10 com o texto de Mateus 25:46, inserindo um verbo da raiz de "kolazo" no lugar de "basonos". E olha que há muita gente que questiona a tradução "tormento eterno" em Mateus 25:46:
"Pois entre nós o príncipe dos espíritos malignos é chamado de serpente, e Satanás , e o diabo , como você pode aprender ao olhar para os nossos escritos. E que ele seria enviado para o fogo com seu exército, e os homens que o seguem, e seria punido por uma duração sem fim, Cristo predisse." (Capítulo 28)
A punição no fogo eterno é um tema recorrente na Segunda Apologia de Justino. Ele menciona várias vezes, como nos capítulos 1, 2, 7 e 8, que tanto os ímpios quanto os demônios serão punidos no fogo eterno pelos seus pecados. Justino também deixa claro que essa ideia não é apenas uma ameaça, mas está ligada à justiça de Deus e à moralidade, como ele explica no capítulo 9. Para ele, o fogo eterno é uma parte essencial do juízo final.
Agora, sabendo que, para Justino, a punição não era temporária, como Platão acreditava ao associar um castigo de mil anos, mas sim eterna, e que esse castigo seria no fogo eterno, podemos analisar um texto frequentemente citado pelos aniquilacionistas. Observemos:
" Por isso Deus atrasa causar a confusão e destruição do mundo inteiro, pela qual os anjos , demônios e homens perversos deixarão de existir, por causa da semente dos cristãos , que sabem que eles são a causa da preservação na natureza. Pois, se não fosse assim, não teria sido possível para você fazer essas coisas e ser impelido por espíritos malignos ; mas o fogo do julgamento desceria e dissolveria completamente todas as coisas, assim como antigamente o dilúvio não deixou ninguém além dele apenas com sua família que é por nós chamado Noé , e por você Deucalião, de quem novamente tais números vastos surgiram, alguns deles maus e outros bons." (Segunda Apologia, Capítulo 7)
No Capítulo 7, Justino faz uma comparação clara com o tempo de Noé. Ele explica que, assim como o dilúvio destruiu todos os ímpios da terra, no fim dos tempos, o fogo do julgamento de Deus destruirá os perversos. Justino diz que, se não fosse pela preservação dos cristãos, o mundo já teria sido destruído completamente, como aconteceu com o dilúvio, onde apenas Noé e sua família foram salvos. Mas sejamos sinceros que haja trechos que causam dúvidas sobre o restante das falas de Justino, não é mesmo?
Mas, para melhores esclarecimentos, veja agora o que ele diz no mesmo capítulo:
"Mas, uma vez que Deus no princípio fez a raça dos anjos e dos homens com livre-arbítrio , eles sofrerão justamente no fogo eterno a punição de quaisquer pecados que tenham cometido."
Se os ímpios realmente não existirão, concordo com Justino nesse ponto. Mas onde eles não existirão? Na terra? Certamente não no fogo eterno. Justino, ao contrário, deixa claro em vários momentos que a punição para os ímpios será eterna e ocorrerá no fogo eterno. Realmente virá um fogo de Deus que purificará o mundo, assim como as águas purificaram no tempo de Noé, mas ao mesmo tempo os ímpios serão ressuscitados para serem lançados no fogo da Geena (inferno). A não ser que o aniquilacionista creia que, já que os ímpios passarão a eternidade no fogo, e não mil anos, a terra também passe esse período queimando, o que não faz sentido nenhum.
É sempre bom deixar claro também que nós não vemos problema nenhum em nossa teologia por termos que são traduzidos por "matar" ou "destruir" aplicado aos ímpios e demônios, como mostro NESTA publicação.
Em conclusão, Justino Mártir, como vimos ao longo de suas obras, especialmente na Primeira Apologia e na Segunda Apologia, claramente rejeita a ideia aniquilacionista de que os ímpios seriam simplesmente exterminados no fim dos tempos. Ele, ao contrário, ensina que a punição para os ímpios será eterna e ocorrerá no fogo eterno, uma doutrina que se alinha com o entendimento tradicional da Igreja desde os primórdios. Justino não só refuta a visão de uma punição temporária, como a defendida por Platão, mas também reforça a perpetuidade dessa punição, associando-a diretamente com o juízo final de Deus. O fogo eterno, portanto, não é um conceito limitado ou simbólico, mas sim a realidade do castigo para os ímpios, conforme a justiça divina. Dessa forma, embora a teologia dos Pais da Igreja não seja a base exclusiva da nossa fé, é inegável que ela contribui para nossa compreensão da continuidade da doutrina cristã ao longo dos séculos, especialmente em temas tão fundamentais como o destino final dos ímpios. Assim, podemos concluir que a visão de Justino sobre a punição eterna no fogo eterno é em total desacordo com as doutrinas aniquilacionistas, reafirmando o ensinamento bíblico de uma punição sem fim para aqueles que rejeitam a Deus.
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