O [mau] uso aniquilacionista de Romanos 2:7 e Gálatas 6:8


"Aqueles que, com perseverança em fazer o bem, buscam glória, honra e incorruptibilidade, terão a vida eterna." (Romanos 2:7)

"Quem semeia para a sua carne, da carne colherá corrupção; mas quem semeia para o Espírito, do Espírito colherá a vida eterna." (Gálatas 6:8)

A paz do Senhor!

Nesta publicação, farei mais uma análise de textos usados pelos aniquilacionistas para deixar o inferno mais "tranquilo" para o infiel. Eles dizem que, enquanto os justos receberão corpos glorificados e incorruptíveis, os ímpios terão corpos sujeitos à corrupção, isto é com "prazo de validade", o que levaria à sua extinção. Para apoiar essa ideia, usam passagens como Romanos 2:7 e Gálatas 6:8, como foi exposto acima. Porém, quando olhamos essas passagens no contexto maior da Bíblia, vemos que o seu significado não é bem assim como acreditam. 

Antes de qualquer coisa, vale lembrar que o motivo do alarde aniquilacionista reside unicamente no termo grego "phthora" (φθορά), em Gálatas 6:8, que significa "corrupção" e pode transmitir a ideia de algo passível de decomposição. Curiosamente, é a mesma palavra utilizada para descrever o corpo corruptível ("phthora"), isto é, o corpo carnal, conforme mencionado em 1 Coríntios 15:42: “Semeia-se o corpo em corrupção ("phthora"), ressuscita em incorrupção.” Já o termo grego para "incorruptível" em Romanos 2:7, aphtharsia (ἀφθαρσία), também traz a mesma ideia, indicando algo que é livre da decomposição e da corrupção.

Sobre a natureza do corpo do ímpio após a ressurreição, eu já fiz um comentário na seguinte PUBLICAÇÃO. Nesta, farei apenas um observação em cima da versão aniquilacionista das passagens acima.

O texto de Gálatas é fácil de entender quando o lemos de forma simples. Podemos imaginar a carne e o Espírito como dois tipos de solo para semear. O texto diz que quem semeia na carne, dela, colherá corrupção, ou seja, tudo o que a carne produz é passageiro e se perde com o tempo (Gálatas 6:8). Já quem semeia no Espírito colherá a vida eterna, porque é o Espírito Santo que dá vida ao ser humano (Romanos 8:11). Ou seja, o texto não está falando sobre dois tipos de corpos após a ressurreição, mas sobre duas realidades agora: a carne, que é temporária, e o Espírito, que nos dá a vida eterna.

Um texto correlato seria justamente João 6:63, onde Jesus diz: 

"O Espírito é o que vivifica; a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos disse são espírito e são vida." 

Na realidade, a Bíblia está repleta de exemplos em que os desejos carnais, terrenos e temporários são colocados em em contraste com as coisas de Deus, que são eternas:

"Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem, e onde ladrões escavam e roubam; mas ajuntai para vós tesouros no céu, onde traça nem ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam nem roubam." (Mateus 6:19-20, ARA)

"Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela que subsiste para a vida eterna, a qual o Filho do Homem vos dará; porque Deus, o Pai, o confirmou com o seu selo." (João 6:27, ARA)

"não atentando nós nas coisas que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se não veem são eternas.” (2 Coríntios 4:17-18, ARA)

Ou seja, note que são as mesmas palavras (no caso de João 6:63) e ideias usadas em Gálatas 6:8. Enquanto a carne para nada aproveita, o Espírito é quem dá a vida eterna. Esse paralelo reforça a ideia de que a carne, com sua natureza perecível, não traz benefícios duradouros, mas é o Espírito que, ao vivificar o ser humano, oferece a verdadeira vida.

Ou seja, tudo o que a carne deseja, como sexo, adultérios, orgias e outras coisas, são coisas passageiras. Esses prazeres podem parecer bons por um tempo, mas são temporários e não trazem verdadeira satisfação. Assim como nossa vida aqui neste mundo é curta, essas coisas também não duram. O que realmente nos dá vida eterna é o Espírito, que nos leva a algo muito mais duradouro do que os prazeres momentâneos da carne.

O texto de Romanos 2:7 fica mais claro quando comparado com 1 Coríntios 9:25, onde Paulo diz: 

"E todo aquele que luta, de tudo se abstém; eles o fazem para alcançar uma coroa corruptível (phthartos , φθαρτός), nós, porém, uma incorruptível (aphtharsia,  ἀφθαρσία)."

Aqui, ele contrasta os esforços por recompensas terrenas com a busca por um prêmio eterno. Da mesma forma, em Romanos, Paulo mostra que aqueles que perseveram no bem estão em busca de glória, honra e incorruptibilidade — ou seja, de tesouros eternos, e não dos desejos passageiros deste mundo.

Em outras palavras, longe de apoiar a ideia defendida pelos aniquilacionistas — de que os ímpios receberão corpos com “prazo de validade” enquanto os justos terão corpos eternos — o texto está, na verdade, fazendo um contraste entre o que é terreno e passageiro, fruto da carne, e o que é celestial e eterno, fruto do Espírito. O foco de Paulo não está em descrever diferentes tipos de corpos pós-ressurreição, mas em mostrar que tudo o que procede da carne é temporário e corruptível, enquanto aquilo que vem do Espírito é incorruptível e conduz à vida eterna.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Só 144 mil morarão no céu?

O Decálogo nas duas alianças

Destruídos ou perdidos?