Os ímpios terão corpos glorificados?

 


A paz do Senhor! Hoje farei uma abordagem de uma dúvida que fica na cabeça de muitos, que é o fato de os ímpios sofrerem eternamente, sendo que o corpo incorruptível e a vida eterna são uma dádiva dada aos santos, e não aos perdidos. Isso tem feito muitos negarem até a crença tradicional do castigo eterno, buscando opiniões alternativas, como um tormento temporário seguido de aniquilação.

Em primeiro lugar, é bom mostrar em quais versículos esse problema aparenta surgir e colocar em xeque a visão bíblica do sofrimento perpétuo:

"[48]  À semelhança do homem terreno, assim também são os da terra. E à semelhança do homem celestial, assim também são os do céu. [49]  Assim como trouxemos a imagem do homem terreno, traremos também a imagem do homem celestial.  [50]  Mas digo isto, irmãos: Carne e sangue não podem herdar o reino de Deus; nem o que é perecível pode herdar o imperecível. [51]  Eu vos digo um mistério: Nem todos iremos falecer, mas todos seremos transformados, [52]  num momento, num abrir e fechar de olhos, ao som da última trombeta. Porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão imperecíveis, e nós seremos transformados. [53]  Pois é necessário que aquilo que perece se revista do que é imperecível, e o que é mortal se revista do que é imortal." 1Coríntios 15:48-53 A21

"[12]  Quem tem o Filho tem a vida; quem não tem o Filho de Deus não tem a vida." 1João 5:12 A21

Bem, vamos começar com a ideia de imortalidade. É essencial ter em mente que não podemos divorciar o pensamento de Paulo do de Jesus. Afinal, ambos devem se complementar, e não se contradizer. E isso pode ser exemplificado logo abaixo:

"[41]  O Filho do homem enviará seus anjos, e eles ajuntarão do seu reino tudo que serve de tropeço, e os que praticam o mal, [42]  e os lançarão na fornalha de fogo; ali haverá choro e ranger de dentes. [43]  Então os justos resplandecerão como o sol no reino de seu Pai. Quem tem ouvidos, ouça." Mateus 13:41-43 A21

O lado ótimo deste texto é que ele praticamente diz as mesmas coisas que o de I Coríntios 15. Enquanto Paulo fala do corpo incorruptível, Jesus fala claramente como será essa forma no versículo 43. Essa afirmação é confirmada na própria transfiguração de Jesus, em que as mesmas características são descritas pelo escritor (Mt 17:2). Eu poderia acrescentar também o reino descrito em I Coríntios 15:24, que certamente é o mesmo do versículo 43.

Entretanto, não podemos deixar de lado a descrição do versículo 42. Enquanto os justos estarão com corpos glorificados no Reino de Deus, os descrentes estarão CHORANDO no fogo? Sim, choro no fogo! É claro que por meios naturais isso é impossível, não é mesmo? Veja que isso seria até um problema para aqueles que aderiram ao tormento temporário seguido de aniquilação. Há até quem sugere um sofrimento temporário e proporcional aos pecados no fogo, o que dificultaria mais ainda; pois como sabemos, a mesma resistência que uma pessoa tem não é a de outrem. A pessoa não recebe resistência física pela quantidade de pecados que comete para poder sofrer mais que a outra, não é mesmo? Abaixo há um vídeo científico para melhor elucidação sobre o assunto:

Mas alguém poderia sugerir: “Ah, então a visão bíblica seria uma aniquilação instantânea!” Isso não resolveria, pois o próprio texto é enfático em afirmar pranto no fogo, o que exige tempo. Um aniquilacionismo instantâneo não explicaria essa descrição bíblica. No geral, o tormento, seja temporário ou eterno, num ponto de vista humano, seria ilógico; já uma aniquilação instantânea se chocaria com a Bíblia. 

Eu creio que alguém logo pensará: Então há contradição na Bíblia? É claro que não! O que muitos não sabem é que corpo glorificado não é critério para existir eternamente, mas para herdar o reino, como o próprio Paulo deixa claro. Quem duvida disso está com certeza negando o poder de Deus.

"[21] Vendo-o Pedro, perguntou a Jesus: Senhor, e a este que sucederá? [22] Jesus respondeu-lhe: Se eu quiser que ele fique até eu voltar, que tens tu com isso? Segue-me tu. [23] Espalhou-se, pois, este boato entre os irmãos de que aquele discípulo não morreria; entretanto, Jesus não disse a Pedro: Ele não morrerá, mas: Se eu quiser que ele fique até eu voltar, que tens tu com isso?" ‭João 21:21-23 TB

O próprio Senhor confessa ter poder para manter João vivo até a sua vinda, se ele quisesse. E olha que já faz dois milênios! A própria Bíblia é recheada de eventos em que corpos normais não suportariam tais processos físicos e cronológicos, mas Deus permitiu que eles acontecessem, como é o caso dos três judeus na fornalha ardente que não morreram (Dn 3:20-28), Elias passando 40 dias sem comer (I Rs 19:7) e até o caso dos quarenta anos no deserto, em que as roupas não estragaram nem os pés do povo incharam (Ne 9:21).

O caso dos 40 anos no deserto é um excelente exemplo de que Deus tem o poder de preservar a matéria na punição pelo tempo que Ele desejar, assim como fará no fogo eterno. Durante esse período, as vestes e sandálias dos israelitas não se desgastaram (Deuteronômio 8:4; 29:5), demonstrando que Deus pode sustentar a existência de algo mesmo em condições adversas. Da mesma forma, no juízo final, Ele poderá manter os ímpios no lago de fogo sem que sejam consumidos instantaneamente, conforme ensinado nas Escrituras.

Eu creio que todos que acreditam num tormento no fogo certamente irão por essa linha de raciocínio. A não ser que alguém sugira um terceiro tipo de corpo, que não é bíblico. Tudo acontecerá se Cristo quiser (Jo 21:22). E ele quer!

Mas é realmente necessário um texto que fala detalhadamente como o corpo do ímpio sofrerá no fogo?

Não. Não é necessário ter um texto afirmando com detalhes como o corpo do ímpio sofrerá eternamente no fogo para validar o tormento eterno. Basta existirem textos que nos conduzam a essa conclusão. O maior exegeta da história, Jesus Cristo, provou isso ao citar o Salmo 110:1. Ao questionar os fariseus sobre o Messias ser descendente direto de Davi (Mateus 22: 41-45), Ele destacou que Davi chama o Messias de "Senhor", algo que seria incoerente, já que um pai jamais chamaria seu filho ou descendente de "Senhor". Essa interpretação mostra que a compreensão das Escrituras pode ser alcançada sem uma descrição minuciosa de cada detalhe, mas pela lógica e coerência do que está revelado. Da mesma forma, a doutrina do tormento eterno é respaldada pela soma dos textos bíblicos, ainda que não se explique exatamente como o sofrimento acontece.

Mas e a vida eterna somente para os cristãos? 

Para começarmos a nos aprofundarmos nisso, é preciso vermos o que a Bíblia define como vida eterna, se é apenas o corpo glorificado ou então todas as bençãos concedidas pela cruz:

"[45] Se o teu pé te servir de pedra de tropeço, corta-o; melhor é entrares na vida aleijado, do que, tendo dois pés, seres lançado na Geena. 

[47] Se o teu olho te servir de pedra de tropeço, arranca-o; melhor é entrares no reino de Deus com um só de teus olhos, do que, tendo dois, seres lançado na Geena,"  Marcos 9:45, 47 TB‬

Veja que tanto a vida quanto o reino são colocados por Jesus como sinônimos. Segundo algumas escatologias, com exceção de pré-tribulacionismo, o texto de Mateus 25:46 ficaria estranho, já que o texto afirma que os servos de Deus irão (no futuro em relação ao juízo) para a vida eterna; mas essas pessoas já estariam em corpos glorificados pelo menos mil anos antes. Com certeza, a pessoa teria de afirmar que a vida aí seja equivalente a reino, mas não aprofundarei muito nessa questão. Em regra, torna-se um ponto problemático para todos os lados.

Talvez um texto que reflita claramente essa ideia esteja em uma parábola do Senhor Jesus:

"[24] porque este meu filho era morto e reviveu, estava perdido e se achou. E começaram a regozijar-se." Lucas 15:24 TB‬

E novamente, a ideia de estar vivo é estar com o Pai; já morto, distante. E falando de estar distante do Pai e do reino, deixemos que a própria Bíblia se explique no conceito de morte para o ímpio:

"[7] O vencedor herdará essas coisas; eu serei o seu Deus, e ele será meu filho. [8] Mas, quanto aos medrosos, e aos incrédulos, e aos abomináveis, e aos homicidas, e aos fornicários, e aos feiticeiros, e aos idólatras, e a todos os mentirosos, sua parte será no lago que arde com fogo e enxofre, que é a segunda morte." Apocalipse 21:7-8 TB‬ 

É óbvio que qualquer pessoa logo notará as equivalências nos textos apresentados. Assim como o filho vivo está ao lado do Pai na Parábola; o morto está igualmente separado, neste caso, no lago de fogo. Note que o mesmo apóstolo que declara que os descrentes não têm a vida eterna (I Jo 15:12) também declara o que será a morte deles, o lago de fogo. 

Tudo deve se harmonizar nas Escrituras. Se por um lado a Bíblia chama o castigo final de segunda morte, por outro ela declara essa punição muito pior que a primeira:

"[28] Aquele que transgride a Lei de Moisés, sendo-lhe provado com duas ou três testemunhas, morre sem misericórdia; [29] de quanto mais severo castigo, pensais vós, será julgado digno aquele que calca aos pés o Filho de Deus e tem em conta de profano o sangue da aliança com que foi santificado, e ultraja ao Espírito da graça?" Hebreus 10:28-29 TB

Quando o feitiço volta contra o feiticeiro

A Bíblia ensina claramente o meio pelo qual os justos ressuscitarão: que é pelo poder vivificador do Espírito Santo que habita neles. Como está escrito em Romanos 8:11:

 “E, se o Espírito daquele que ressuscitou a Jesus dentre os mortos habita em vós, aquele que ressuscitou a Cristo dentre os mortos também vivificará os vossos corpos mortais, pelo seu Espírito que em vós habita.

 No entanto, quando se trata dos ímpios, a Escritura não menciona o meio pelo qual eles serão ressuscitados, embora deixe claro que haverá uma ressurreição para a condenação, como ensinado em João 5:28-29 e Apocalipse 20:11-15.

Se o argumento aniquilacionista de que os ímpios não sofrerão eternamente por falta de menção a um corpo glorificado for levado a sério, a mesma lógica poderia ser aplicada à própria ressurreição dos ímpios. Afinal, a Bíblia também não especifica o meio pelo qual eles ressuscitarão. No entanto, isso não invalida a realidade de sua ressurreição, que é um ato soberano de Deus. Assim, essa ausência de detalhes não compromete o ensino bíblico de que os ímpios serão ressuscitados para enfrentarem o juízo eterno, mesmo sem um corpo glorificado ou o poder vivificador do Espírito Santo.

Finalizando por aqui, realmente o injusto não terá corpo glorificado, mas afirmar que isso seria motivo para anular a pena eterna das pessoas no fogo, além de se chocar com o texto sagrado, também anularia outras visões alternativas, pois uma pessoa normal não suportaria tempo para chorar dentro do fogo quanto mais ser atormentado temporaria e proporcionalmente aos pecados como sugerem alguns. Mas tudo, independentemente de ser possível ou não na ótica humana, vai depender da vontade divina. Já sobre a vida eterna e morte do ímpio, a própria Bíblia se explica dando a definição de segunda morte como um lugar de sofrimento e distante de Deus. Amém! Fiquem com Deus!

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