Os aniquilacionistas e a morte eterna em Mateus 25:46
"E irão estes para o castigo [morte] eterno(a), porém os justos, para a vida eterna."
Análise da suposta antítese
"Quem obedece aos mandamentos preserva a sua vida, mas quem despreza os seus caminhos morrerá" (Provérbios 19:16)
"Quem permanece na justiça viverá, mas quem sai em busca do mal corre para a morte" (Provérbios 11:19)
"Porque, se viverdes segundo a carne, morrereis; mas, se pelo Espírito mortificardes as obras do corpo, vivereis" (Romanos 8:13).
No entanto, afirmar que Mateus 25:46 segue a mesma linha de pensamento é, no mínimo, uma simplificação que não faz justiça ao contexto e ao significado correto do texto.
O caso de Daniel 12:2 merece atenção especial. Os aniquilacionistas frequentemente associam o horror descrito neste versículo ao que é retratado em Isaías 66:24, mas este último texto é claramente simbólico. A vergonha ou desonra, por outro lado, é mais bem compreendida à luz de Jeremias 23:40, que faz referência a uma mancha na história de Israel (que é replicada novamente no futuro dos ímpios), não à morte. Além disso, é importante observar que o texto de Daniel 12:2-3 é citado em Mateus 13:41-43, onde também se menciona o resplendor dos justos, estabelecendo uma conexão entre os dois. Em termos de comparação, a vergonha e o horror, colocados em contraste com a vida, não indicam a morte, mas sim a exclusão do reino, resultando na condenação à fornalha de fogo, onde haverá choro e ranger de dentes.
Significado do termo segundo especialistas?
"Kolasis: castigo, punição, tormento, talvez com a ideia de privação".
O renomado erudito Bill Mounce também fornece uma definição semelhante:
"E todo aquele que transgredir a lei do teu Deus e do rei será castigado (kolasthísontai) diligentemente, seja com a morte, outra pena, multa em dinheiro ou prisão." (I Esdras 8:24, LXX).
Contexto bíblico: ser destinado a um lugar de sofrimento
Observe que os termos destacados ajudam a compreender o contexto. A conjunção “assim” introduz uma conclusão baseada no que foi previamente exposto. Quando Pedro menciona que Deus sabe livrar os piedosos, ele se refere claramente ao livramento de Ló (v. 5). Da mesma forma, ao afirmar que Deus sabe reservar os injustos para o Dia do Juízo sob castigo, ele faz uma analogia principalmente com o destino dos anjos caídos, usando justamente a mesma linguagem e atribuindo a expressão "kolazomenous" como conclusão. Ou seja, Pedro entendia o aprisionamento dos anjos como um tipo de castigo. Um ponto a ser destacado é o versículo 10, que inclui os desobedientes no castigo que será futuro, e o versículo 17 esclarece o tipo de castigo que os aguarda:
"Esses tais são como fonte sem água, como névoas impelidas por temporal. Para eles está reservada a negridão das trevas;” (2 Pedro 2:17 -ARA)
O livro de Judas apresenta um paralelismo semelhante:
“[12] Estes homens são como rochas submersas, em vossas festas de fraternidade, banqueteando-se juntos sem qualquer recato, pastores que a si mesmos se apascentam; nuvens sem água impelidas pelos ventos; árvores em plena estação dos frutos, destas desprovidas, duplamente mortas, desarraigadas; [13] ondas bravias do mar, que espumam as suas próprias sujidades; estrelas errantes, para as quais tem sido reservada a negridão das trevas, para sempre.” (Judas 1:12-13)
"Para quem a névoa das trevas está reservada para sempre - A palavra traduzida como 'névoa' aqui (ζόφος zophos) significa propriamente almíscar, escuridão espessa, escuridão (veja 2 Pedro 2:4 ); e a frase 'névoa de escuridão' foi projetada para denotar escuridão 'intensa', ou a escuridão mais densa. Refere-se, sem dúvida, ao local do castigo futuro, que muitas vezes é representado como um local de intensa escuridão. Veja as notas em Mateus 8:12 . Quando se diz que isto está 'reservado' para eles, significa que está preparado para eles, ou é mantido em estado de prontidão para recebê-los. É como uma prisão ou penitenciária construída na expectativa de que haverá criminosos e na expectativa de que haverá necessidade disso. Assim, Deus construiu a grande prisão do universo, o mundo onde os ímpios habitarão, com o conhecimento de que haveria ocasião para isso; e assim ele o mantém de geração em geração para que esteja pronto para receber os ímpios quando a sentença de condenação for proferida sobre eles. Compare Mateus 25:41 . A palavra 'para sempre' é uma palavra que denota adequadamente a eternidade (εἰς αἰώνα eis aiōna) e é uma palavra que não poderia ter sido usada se significasse que eles não sofreriam para sempre. Compare as notas em Mateus 25:46."
Se você quer se aprofundar mais, aproveita e pegue todos os textos de Mateus que falam do pós-juízo claramente e verifique a ideia transmitida. Todos falarão do castigo dos ímpios como ser destinado a um lugar separado onde haverá choro e ranger de dentes (Mt 8:12, 13:41-43, 13:49 e 50). Até o contexto imediato aponta para isso, como é o caso das parábola dos servo inútil (Mt 25:30), o qual também teve como castigo o lançamento nas trevas.
O cristianismo dos primeiros séculos e o castigo eterno
A primeira citação está na obra "O Martírio de Policarpo", que é datada do início do século 2. Para quem não sabe, Policarpo foi discípulo do próprio apóstolo João. Veremos como este homem de Deus interpretava a punição eterna:
"Em seguida, o procônsul ameaçou queimá-lo vivo. Policarpo respondeu: “Você me ameaça com fogo que queima durante um momento e logo se apaga. Você não conhece o fogo vindouro do julgamento e castigo eterno (αἰωνίου κολάσεως) reservado para os ímpios. Por que está se delongando? Faça o que lhe agradar”. (Martírio de Policarpo, capítulo XI)
A obra pode ser vista no original AQUI
Acima, é notório a distinção que Policarpo faz de sua punição (temporária) com a do juízo vindouro (eterna). Até a perspectiva moderna dos aniquilacionistas sobre o conceito de o fogo ser eterno em consequências e não em duração é algo completamente distante da mentalidade de Policarpo.
A "Primeira Apologia de Justino" (séc. II) também é imprescindível, pois, assim como a obra anterior, mostra claramente a visão cristã dos primeiros séculos e o entendimento do verbete. Justino escreveu a "Primeira Apologia" para defender os cristãos contra acusações injustas e perseguições. Ele buscava explicar a fé cristã e refutar os mal-entendidos e as calúnias que eram comuns naquela época. Observemos:
"Pois entre nós o príncipe dos espíritos malignos é chamado de serpente, e de Satanás, e de diabo, como você pode aprender examinando nossos escritos. E que ele seria enviado ao fogo com seu exército e os homens que o seguem, e seria punido (κολασθησομένους) por período interminável, Cristo predisse". (Cap 28).
O termo grego em destaque faz parte da mesma raiz grega de "kolasis", que é "kolazo". Não é obrigado ser um gênio pra notar que o comentário de Justino é feito em cima do texto de Mateus 25:46 e Apocalipse 20:10. Talvez aqueles que criticam a tradução da ACF em Mateus 25:46 ("tormento eterno") deveriam repensar, não é mesmo?
Mas se você acredita que isso é insuficiente, veja a mesma frase de Jesus sendo usada por Justino:
"E Platão, da mesma maneira, costumava dizer que Radamanto e Minos puniriam os ímpios que vieram antes deles; e dizemos que a mesma coisa será feita, mas pelas mãos de Cristo, e sobre os iníquos nos mesmos corpos unidos novamente aos seus espíritos que agora sofrerão o castigo eterno (κόλασις αἰωνία), e não apenas, como disse Platão, por um período de mil anos. E se alguém disser que isso é incrível ou impossível, este nosso erro é algo que diz respeito apenas a nós mesmos, e a mais nenhuma outra pessoa, desde que você não possa nos condenar por causar qualquer dano". (Cap. 8)
É importante frisar que essa obra de Justino foi endereçada para pagãos. Portanto, ele jamais iria criar um conceito desconhecido, já que, se esse for o caso, os destinatários não entenderiam.
A obra de Justino pode ser encontrada no original AQUI e AQUI.
Logo, ao compararmos os usos de palavras relacionadas ao radical "kolazo", os textos que abordam o pós-juízo e até mesmo a mentalidade do cristianismo primitivo, a conclusão que chegamos é a que sempre tivemos: que o castigo eterno é simplesmente ser destinado para um lugar de sofrimento sem fim. Certos argumentos são até criativos, como é o caso do abordado sobre o aniquilacionismo nesta publicação, mas não corresponde à realidade das Escrituras. Fiquem com Deus!
Cristão esotérico, deturpando uma arqueologia que não lhe pertence.
ResponderExcluirArrependa-se enquanto há tempo para que as palavras acima não se cumpram em sua vida.
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