O lago de fogo não é real?



A paz do Senhor! Hoje abordarei mais uma tentativa de negar o destino eterno dos ímpios, que é se aproveitando do caráter figurado do livro de Apocalipse. Isso era uma alegação, a princípio, só das testemunhas de Jeová, mas agora tem ganhado adeptos de várias vertentes cristãs. Para essas pessoas, o lago de fogo não é real, mas apenas um símbolo de aniquilação. Para isso, um versículo da Bíblia torna-se o queridinho desses grupos:

Apocalipse 20:14 TB

[14] A morte e o Hades foram lançados no lago de fogo. Esta é a segunda morte, o lago de fogo. 

Com base neste texto, muitos amigos têm gritado para os quatro cantos da terra que não existe lago de fogo. Eu poderia mostrar duas bases, além do fato de Apocalipse ser um texto majoritariamente figurado, levantadas por essas pessoas de acordo com o versículo acima:

*Não é possível o lago de fogo ser literal pelo fato de a morte e o Hades serem lançados nele;

*O próprio texto é claro em chamá-lo de "segunda morte"; sendo assim, ele seria o símbolo, e a segunda morte, o simbolizado. 

Pra começarmos a refutação, vale dizer que Apocalipse não é um texto todo alegórico, mas majoritariamente alegórico. Sim, há muita coisa literal nele, como os santos, as ressurreições, o milênio, a Nova Jerusalém, etc. Ademais, em livros predominantemente simbólicos, há mesclas do real com o irreal. Duvida disso? Vejamos:

Apocalipse 1:16 ARC

[16] E ele tinha na sua destra sete estrelas; e da sua boca saía uma aguda espada de dois fios; e o seu rosto era como o sol, quando na sua força resplandece.

O texto acima retrata Jesus, que é literal. Inclusive, até o rosto resplandecente é real, pois é confirmado em outras partes da Bíblia:

Mateus 17:2 TB

[2] Foi transfigurado diante deles; o seu rosto resplandeceu como o sol, e as suas vestes tornaram-se brancas como a luz. 

Porém, a espada que sai da boca do Senhor não é literal, mas um símbolo de sua Palavra:

Isaías 49:1-2 TB

[1] Ouvi-me, ilhas; e escutai, povos de longe. Jeová chamou-me desde o ventre, desde as entranhas de minha mãe, fez menção do meu nome; [2] fez a minha boca como uma espada aguda e, na sombra da sua mão, me escondeu; fez-me como uma seta polida, e, na sua aljava, me encobriu

Hebreus 4:12 TB

[12] Pois a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante que qualquer espada de dois gumes, e que penetra até a divisão de alma e espírito, e de juntas e medulas, e pronta para discernir as disposições e pensamentos do coração. 

Vemos, portanto, um mescla do que é real (Jesus) com o que não é (a espada).

O mesmo padrão também podemos ver à frente. O Cordeiro no céu, por exemplo, não é literal, mas os anjos que o glorificam, são (Ap 5:11,12). O mesmo vale para os santos e besta que os vence (Ap 13: 5-7). Todos são casos de interação do literal com o alegórico. Em regra, podemos concluir que, embora junto de seres inanimados, Jesus, os anjos e os santos são reais porque são confirmados em outros trechos das Escrituras; e o mesmo podemos sugerir do lago de fogo.

Vamos pegar o texto de Apocalipse 20:

Apocalipse 20:10 TB

[10] e o Diabo, que os seduzia, foi lançado no lago de fogo e enxofre, onde se acham a besta e o falso profeta. Eles serão atormentados dia e noite pelos séculos dos séculos.

É importante frisar que, muitas vezes, o símbolo também deve ser lido à luz do simbolizado. Por exemplo, Apocalipse fala do trono de um Cordeiro (símbolo), mas o trono é de Jesus (simbolizado). Da mesma forma, o tormento da besta e do dragão (símbolos) é o tormento do diabo e do filho da perdição que surgirá no fim (2 Ts. 2:3). E o texto citado acima demonstra dois fatos curiosos sobre o diabo: ter como destino o fogo e seu tormento. Será que o mesmo padrão aplicado a Jesus em Apocalipse 1 pode ser feito com Apocalipse 20:10? A resposta é sim. Por exemplo, em outra passagem, a Bíblia deixa claro o destino de fogo para o inimigo:

Mateus 25:41

[41] Então, o Rei dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos.

E no próprio livro, os demônios confirmam o seu tormento futuro:

Mateus 8:28-29 ARA

[28] Tendo ele chegado à outra margem, à terra dos gadarenos, vieram-lhe ao encontro dois endemoninhados, saindo dentre os sepulcros, e a tal ponto furiosos, que ninguém podia passar por aquele caminho. [29] E eis que gritaram: Que temos nós contigo, ó Filho de Deus! Vieste aqui atormentar-nos antes do tempo?

O próprio inimigo de nossas almas admite que será atormentado, apenas alega pra Jesus que ainda não era o tempo.  Diante disso, vemos que assim como o rosto resplandecente de Jesus, o fogo e o tormento são apresentados como destino do demônio em outros trechos da Bíblia. Apocalipse 20:14, trecho que mostra a morte e o Hades sendo lançados no fogo é apenas uma mescla do literal e do alegórico, assim como em outros trechos das Escrituras. João queria apenas afirmar que esses poderes não iriam mais imperar sobre a Nova Terra:

Apocalipse 6:8 TB

[8] Olhei, e eis um cavalo amarelo, e o que estava montado sobre ele chamava-se a Morte; o Hades seguia com ele, e foi-lhes dado poder sobre a quarta parte da terra, para matar com a espada, com a fome, com a peste e pelas feras da terra.

Apocalipse 21:4 TB

[4] e enxugará toda lágrima dos olhos deles. Não haverá mais morte, nem haverá mais pranto, nem choro, nem dor, porque as primeiras coisas são passadas.

Um ponto interessante é que, antes de serem lançados no lago de fogo, a morte e o Hades estavam na terra, e nenhum negador do tormento eterno afirmará que a terra, nesse contexto, é simbólica.

Mas e o fim do versículo 14?

Alguém poderia alegar que ainda falta explicar o fato do texto dizer que o lago de fogo seria a segunda morte. Alguns criam até uma ligação com passagens como a de baixo:

Apocalipse 1:20 TB

[20] Eis aqui o mistério das sete estrelas que viste na minha destra e dos sete candeeiros de ouro: as sete estrelas são os anjos das sete igrejas, e os sete candeeiros são as sete igrejas.

Ou seja, assim como essas estrelas seriam/simbolizariam os anjos/mensageiros/líderes dessas igrejas, o lago de fogo seria/simbolizaria outra morte. O grande problema é que, como mostrado anteriormente, o fogo e o tormento do diabo são descritos em outros trechos da Bíblia. Como se não bastasse, o mesmo padrão é encontrado em contextos em que não são simbologias. Vejamos:

Apocalipse 22:16 TB

[16]  Eu, Jesus, enviei o meu anjo para vos testificar essas coisas a favor das igrejas. Eu sou a Raiz e a Geração de Davi, a Estrela brilhante, e da manhã.

Eu acredito que nenhuma alma temente a Deus vai acreditar que Jesus seria/simbolizaria uma raiz ou estrela, não é mesmo?  Acabou? Não!

Apocalipse 11:3-4 TB

[3] Darei às minhas duas testemunhas que, vestidas de saco, profetizem durante mil e duzentos e sessenta dias. [4] Estes são as duas oliveiras e os dois candeeiros postos diante do Senhor da terra.

E novamente, nenhuma alma sensata admitirá que essas testemunhas sejam o símbolo; e as oliveiras e candeeiros, os simbolizados. Pelo menos, eu nunca vi até hoje!

Em resumo, o que temos são a dificuldade de não entender textos alegóricos, como Apocalipse, ou um entendimento limitado apenas a alguns trechos do livro. Se a linha de raciocínio desses intérpretes fosse levado a sério, teríamos também de alegorizar Jesus, os anjos e todas as outras verdades bíblicas expostas no livro. Afinal, se no lago de fogo, que para eles não existe fisicamente, estará um dragão, na Nova Jerusalém haverá um Cordeiro, e nem por isso negaremos que nos aguarda uma cidade de ouro e cristal; porém se trata apenas do que foi falado anteriormente, que em livros predominantemente alegóricos, há mesclas de elementos reais (Nova Jerusalém) e irreais (Cordeiro):

Apocalipse 22:3 ARC

[3] E ali nunca mais haverá maldição contra alguém; e nela estará o trono de Deus e do Cordeiro, e os seus servos o servirão.

 


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