Um repouso cansativo

 


 

A paz do Senhor! Hoje farei uma breve análise bíblica sobre a guarda do sábado, um tema que, por vezes, se torna exaustivo devido à insistência dos guardadores deste dia em defendê-lo e impô-lo de maneira fervorosa. No entanto, vamos tratar o assunto com serenidade e buscar a resposta bíblica para essa questão. Vale lembrar que já abordei a questão do Decálogo nas duas alianças anteriormente (veja AQUI). Para dar início a esta nova reflexão e ir direto ao ponto, cito um trecho de Hebreus:

"Pois, quando se muda o sacerdócio, necessariamente há também mudança de lei. Porque aquele de quem são ditas estas coisas pertence a outra tribo, da qual ninguém prestou serviço ao altar; pois é evidente que nosso Senhor procedeu de Judá, tribo à qual Moisés nunca atribuiu sacerdotes. E isto é ainda muito mais evidente, quando, à semelhança de Melquisedeque, se levanta outro sacerdote, constituído não conforme a lei de mandamento carnal, mas segundo o poder de vida indissolúvel. Porquanto se testifica: Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque. Portanto, por um lado, se revoga a anterior ordenança, por causa de sua fraqueza e inutilidade (pois a lei nunca aperfeiçoou coisa alguma), e, por outro lado, se introduz esperança superior, pela qual nos chegamos a Deus". Hebreus 7:12‭-‬19 ARA

Embora a fé não anule a lei (Rm 3:31), o texto é claro ao afirmar que ela gera mudanças. No exemplo acima, a mudança é no serviço sacerdotal: o que antes era de Arão, agora pertence a Cristo. Aproveitando essa passagem da epístola, o autor destaca o propósito da primeira aliança:

"Se Ele estivesse na terra, nem mesmo sacerdote seria, visto existirem aqueles que oferecem os dons segundo a lei. Esses sacerdotes ministram em figura e sombra das coisas celestes, assim como Moisés foi divinamente instruído quando estava para construir o tabernáculo: 'Vê que faças todas as coisas de acordo com o modelo que te foi mostrado no monte.' Agora, contudo, Jesus obteve um ministério muito mais excelente, pois Ele é também o Mediador de uma aliança superior, instituída com base em promessas superiores. Porque, se aquela primeira aliança tivesse sido sem defeito, de maneira alguma estaria sendo buscado lugar para uma segunda." (Hebreus 8:4-7 ARA)

O autor afirma que o rito sacerdotal da primeira aliança era uma figura e sombra do serviço de Cristo. Para tornar essa ideia mais clara, observe como ele detalha essa noção de sombra:

"Ora, depois de tudo isto assim preparado, continuamente entram no primeiro tabernáculo os sacerdotes para realizar os serviços sagrados; mas, no segundo, o sumo sacerdote, ele sozinho, uma vez por ano, não sem sangue, que oferece por si e pelos pecados de ignorância do povo." (Hebreus 9:6-7 ARA)

Agora, comparando com Jesus:

"Quando, porém, veio Cristo como sumo sacerdote dos bens já realizados, mediante o maior e mais perfeito tabernáculo, não feito por mãos, quer dizer, não desta criação, não por meio de sangue de bodes e de bezerros, mas pelo seu próprio sangue, entrou no Santo dos Santos, uma vez por todas, tendo obtido eterna redenção." (Hebreus 9:11-12 ARA)

Ao analisarmos essas passagens, vemos que o serviço do sumo sacerdote terrestre era apenas uma representação simbólica do serviço de Jesus. No início do capítulo 10, o autor reforça a função da antiga aliança:

"Ora, visto que a lei tem sombra dos bens vindouros, não a imagem real das coisas, nunca jamais pode tornar perfeitos os ofertantes, com os mesmos sacrifícios que, ano após ano, perpetuamente, eles oferecem." (Hebreus 10:1 ARA)

Até o momento, podemos concluir o seguinte:

Serviço sacerdotal arônico: uma sombra.

Serviço sacerdotal de Jesus: a imagem real.

Para tornar isso ainda mais didático, pense na seguinte analogia: a sombra de João é apenas uma representação de João, enquanto João em si é a imagem real. Da mesma forma, os elementos da antiga aliança prefiguravam a obra redentora de Jesus. Por exemplo, a entrada anual do sumo sacerdote no Santo dos Santos era uma simbologia da entrada de Jesus no céu, o verdadeiro lugar santo, de uma vez por todas.

Agora, vamos para outra parte das Escrituras e esclarecer a questão do sábado:

"Ninguém, pois, vos julgue por causa de comida e bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou sábados, porque tudo isso tem sido sombra das coisas que haviam de vir; porém o corpo é de Cristo." (Colossenses 2:16-17 ARA)

Mais uma vez, vemos a repetição clara da mesma ideia encontrada em Hebreus. Na epístola aos Hebreus, o serviço sacerdotal da antiga aliança é explicitamente caracterizado como uma sombra que prefigurava o ministério de Cristo, o qual é a realidade final e plena. Da mesma forma, em Colossenses, Paulo deixa claro que os alimentos, festivais e até o sábado, prescritos na Lei Mosaica, são apenas sombras de algo maior: o corpo, que é Cristo. Ou seja, todos esses elementos cerimoniais do Antigo Testamento não tinham fim em si mesmos, mas apontavam para a imagem real que é a pessoa e a obra de Jesus.

Interpretar essas passagens de Hebreus e Colossenses de forma distinta, atribuindo peso permanente a observâncias que foram claramente descritas como símbolos, seria não apenas inconsistente, mas uma distorção desonesta do contexto e da intenção apostólica. Tal abordagem ignora a coerência teológica e a unidade da mensagem bíblica em relação à supremacia de Cristo sobre o antigo sistema cerimonial.

Tentativas absurdas para tirarem o sábado de Colossenses 2: 16, 17

Alguns, com a intenção de contornar a clareza do texto, argumentam que, por "sábados" estar no plural, Paulo estaria se referindo a outros dias festivos, como o Dia da Expiação (Lv 23:32) e outros festivais judaicos. No entanto, essa interpretação enfrenta sérios problemas. O primeiro deles é desconsiderar a sequência padrão apresentada nas Escrituras: dia de festa + lua nova + sábado. Essa ordem é claramente uma referência a intervalos de tempo específicos: as festas judaicas ocorrem anualmente, as luas novas mensalmente e, por exclusão, o sábado refere-se ao ciclo semanal. Essa estrutura temporal está amplamente documentada na Bíblia, e qualquer tentativa de modificar essa leitura ignora a consistência da narrativa bíblica.

É importante lembrar que Paulo, sendo um profundo conhecedor do Antigo Testamento, faz uso dessa sequência de forma proposital, pois ela é abundantemente encontrada nas Escrituras. Vejamos alguns exemplos que ilustram esse padrão:

“E para cada oferecimento dos holocaustos do Senhor, nos sábados, nas Festas da Lua Nova e nas festas fixas, perante o Senhor, segundo o número determinado.” (1 Crônicas 23:31 ARA)

“Eis que estou para edificar a casa ao nome do Senhor, meu Deus, e consagrá-la para queimar perante ele incenso aromático, e lhe apresentar o pão contínuo da proposição e os holocaustos da manhã e da tarde, nos sábados, nas Festas da Lua Nova e nas festividades do Senhor, nosso Deus; o que é obrigação perpétua para Israel.” (2 Crônicas 2:4 ARA)

“E isto segundo o dever de cada dia, conforme o preceito de Moisés, nos sábados, nas Festas da Lua Nova, e nas festas fixas, três vezes no ano: na Festa dos Pães Asmos, na Festa das Semanas e na Festa dos Tabernáculos.” (2 Crônicas 8:13 ARA)

“E para os pães da proposição, e para a contínua oferta de manjares, e para o contínuo holocausto dos sábados e das Festas da Lua Nova, e para as festas fixas, e para as coisas sagradas, e para as ofertas pelo pecado, e para fazer expiação por Israel, e para toda a obra da casa do nosso Deus.” (Neemias 10:33 ARA)

Essas passagens mostram que Paulo, ao escrever aos colossenses, não estava criando uma nova distinção ou redefinindo o significado de "sábados". Pelo contrário, ele seguia a mesma sequência que encontramos no Antigo Testamento, uma ordem que ele, como mestre da Lei, conhecia intimamente. Interpretar de outra forma, tentando dissociar o "sábado" mencionado da prática semanal estabelecida, é forçar o texto além de seus limites contextuais.

Em resumo, Paulo não estava inovando, mas sim reiterando uma sequência familiar ao leitor judaico, reforçando a transição do que era sombra (os elementos cerimoniais da Lei) para a realidade plena encontrada em Cristo.

Sobre o termo estar no plural, o mesmo, no grego, está em Lucas 4:16 e Êxodo 20: 8 (LXX). Veja as ocorrências da palavra grega AQUI.

Acabou? Não! Recentemente, alguns sabatistas se agarraram ao termo "julgue" presente em Colossenses, argumentando que Paulo estava apenas dizendo aos colossenses para não permitirem que os pagãos os julgassem por observarem as leis de comida, bebida, dias de festa, lua nova e sábados. No entanto, essa interpretação é falha e suscita uma pergunta crucial: se os colossenses realmente guardavam todos esses rituais da Lei, por que os sabatistas não fazem o mesmo? Não parece haver uma resposta satisfatória para isso.

É importante notar que o termo grego "julgue" também aparece em Romanos 14:3: “quem come não despreze o que não come; e o que não come não julgue o que come, porque Deus o acolheu.” Nesse contexto, o julgamento vem da parte daqueles que seguem determinadas regras, enquanto aqueles que não seguem tendem a desprezar. Portanto, se quisermos alinhar a passagem de Colossenses com a perspectiva sabatista, seria mais apropriado dizer: “portanto, ninguém vos despreze...” Essa mudança sugere que a crítica parte do desprezo, não do julgamento, o que altera significativamente a interpretação do texto.

Como mencionei anteriormente, a relação entre as cartas de Hebreus e Colossenses é inegável. No livro de Hebreus, o termo "sombra" é utilizado para indicar a revogação dos elementos da antiga aliança, sugerindo que eles foram cumpridos e superados em Cristo. Portanto, se Paulo tivesse a intenção de apoiar a prática da observância do sábado, seria mais lógico que ele afirmasse que essas tradições ainda eram relevantes. Assim, é contraditório imaginar que os colossenses estavam guardando essas tradições, especialmente considerando o que foi revelado sobre a relação entre a antiga e a nova aliança.

Em suma, o segundo capítulo da carta aos irmãos de Colosso alerta os cristãos sobre as possíveis heresias que poderiam infiltrar-se na Igreja, como tradições humanas, culto a anjos, filosofias vãs e ensinos judaizantes. Paulo busca estabelecer uma clara distinção entre a verdade do evangelho e as distorções que ameaçam a fé cristã.

Para aqueles que abrem o coração, os ouvidos e os olhos à Palavra, o entendimento se torna acessível e claro. Por outro lado, aqueles que abordam a Bíblia com a intenção de apenas validar suas crenças pré-existentes encontrarão as verdades mais evidentes como hostis e confusas. O mandamento, que pode ser traduzido como "repouso", acaba se tornando um dos assuntos mais cansativos e controversos entre os cristãos, refletindo a luta entre a verdadeira compreensão espiritual e as interpretações distorcidas que proliferam. Portanto, ao explorarmos as Escrituras, devemos buscar um entendimento profundo e honesto, livre de preconceitos e tradições que possam nos afastar da verdade. Que possamos nos unir em torno da Palavra de Deus, permitindo que o Espírito Santo nos guie em nossa jornada de fé. Assim, seremos fortalecidos em Cristo e capacitados a viver de maneira que glorifique a Deus, sendo luz em um mundo que muitas vezes caminha em trevas. Que a paz e a sabedoria do Senhor estejam com todos nós.


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