O Decálogo nas duas alianças

 

A paz do Senhor! Nesta postagem, explorarei a relação entre as alianças no contexto bíblico, destacando o significado do Decálogo no Antigo Testamento e sua relevância/aplicação na Nova Aliança. Começaremos com a análise do Decálogo e seu significado para o povo de Israel na época, e depois abordaremos como a nova aliança, concretizada na cruz, reflete esses elementos compostos nas tábuas do testemunho.

A Antiga Aliança: Escrita pelo Dedo de Deus

No Antigo Testamento, os Dez Mandamentos foram entregues a Moisés em tábuas de pedra, escritas pelo próprio dedo de Deus, conforme Êxodo 31:18: "E, tendo acabado de falar com ele no monte Sinai, deu a Moisés as duas tábuas do Testemunho, tábuas de pedra, escritas pelo dedo de Deus". Esse ato simboliza a autoridade e a santidade da aliança estabelecida por Deus com o povo de Israel.

Em Gênesis 31:43-52, vemos o uso de pedras como testemunhas em um pacto entre Labão e Jacó. Da mesma forma, em Josué 24:22-27, Josué faz uma aliança com o povo de Israel e utiliza uma pedra como testemunha das palavras ditas naquele dia. Isso reflete o costume da época de utilizar pedras como testemunhas de pactos e alianças, algo que Deus incorporou ao estabelecer o Seu pacto com Israel.

"E Josué escreveu estas palavras no livro da lei de Deus, e tomou uma grande pedra, e a erigiu ali debaixo do carvalho que estava no lugar santo do Senhor. Então disse Josué a todo o povo: Eis que esta pedra nos será por testemunha, pois ouviu todas as palavras que o Senhor nos tem falado; e será testemunha contra vós, para que não mintais ao vosso Deus." (Josué 24:26-27)

"Então Jacó tomou uma pedra e a erigiu como coluna. E disse Jacó a seus irmãos: Ajuntai pedras. E tomaram pedras, e fizeram um montão; e comeram ali junto ao montão. E Labão chamou-lhe Jegar-Saaduta, porém Jacó chamou-lhe Galeede. E Labão disse: Este montão é hoje testemunha entre mim e ti. Por isso se chamou o seu nome Galeede." (Gênesis 31:45-48)

 O Espírito Santo como o Dedo de Deus

Na Nova Aliança, o Espírito Santo é frequentemente comparado ao "dedo de Deus", como observado em Lucas 11:20, onde Jesus diz: "Mas, se eu expulso demônios pelo dedo de Deus, certamente é chegado a vós o Reino de Deus." Essa expressão é paralela à de Mateus 12:28, onde se menciona "pelo Espírito de Deus", sugerindo que o poder exercido por Jesus vinha do Espírito Santo, identificado implicitamente como o "dedo de Deus". Assim como esse "dedo" escreveu os mandamentos em tábuas de pedra, o Espírito agora escreve a lei divina nos corações dos crentes, transformando corações de pedra em corações de carne.

Essa analogia se torna ainda mais clara em 2 Coríntios 3:3, onde Paulo afirma que os crentes são "cartas de Cristo, escritas não com tinta, mas pelo Espírito do Deus vivente, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne, isto é, nos corações". Aqui, o Espírito Santo, o "dedo de Deus", escreve diretamente no coração do crente, criando uma aliança íntima e pessoal com Deus.

A Transformação do Coração

Ezequiel 36:26-27 profetiza essa transformação: "Dar-vos-ei um coração novo e porei dentro de vós um espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei um coração de carne. Porei dentro de vós o meu Espírito e farei que andeis nos meus estatutos, guardeis os meus juízos e os observeis." Essa promessa aponta para a obra regeneradora do Espírito Santo, que remove o coração de pedra, resistente e insensível, substituindo-o por um coração de carne, sensível à vontade de Deus.

 A Nova Aliança: Escrita no Coração

Como vimos em Jeremias 31:31-33, a Nova Aliança é caracterizada por Deus escrevendo Suas leis no coração do Seu povo: "Na mente, lhes imprimirei as minhas leis, também no coração lhas inscreverei; eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo." Diferente da aliança anterior, que era externa e gravada em pedra, a Nova Aliança é interna, espiritual, e diretamente vinculada à transformação do coração pelo Espírito Santo.

Comparando as Alianças

Êxodo 20:2 ARC

"[2] Eu sou o Senhor, teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão."

Romanos 6:22 ARC

"[22] Mas, agora, libertados do pecado e feitos servos de Deus, tendes o vosso fruto para santificação, e por fim a vida eterna. "

Podemos, então, comparar as duas alianças da seguinte forma:

Antiga Aliança: Escrita pelo dedo de Deus em tábuas de pedra; libertação física do Egito; descanso físico semanal.

Nova Aliança: Escrita pelo Espírito, o dedo de Deus, no coração do crente; libertação espiritual do pecado; descanso espiritual e eterno.

No Antigo Testamento, Deus libertou o povo fisicamente e deu-lhes um dia de descanso semanal como sinal dessa libertação. Na Nova Aliança, Cristo liberta espiritualmente o Seu povo e oferece um descanso eterno e espiritual. Hebreus 4:9-11 reforça essa ideia ao afirmar que "resta um repouso para o povo de Deus", indicando que esse descanso é mais profundo, apontando para a salvação e a paz em Cristo.

O descanso mencionado em Hebreus 4 é uma promessa de Deus que transcende o repouso físico, como o oferecido no sábado. Embora Josué, um grande líder de Israel, tenha conduzido o povo à terra prometida e os tenha incentivado a guardar a lei, incluindo o sábado (Josué 24:31; Números 14:6-9), ele não pôde oferecer o verdadeiro descanso espiritual que Deus prometeu. Hebreus 4:8 afirma que "se Josué lhes houvesse dado descanso, Deus não falaria posteriormente a respeito de outro dia". Esse descanso é alcançado somente através do sacrifício de Jesus Cristo, que é o sumo sacerdote da nova aliança (Hebreus 4:14). Apenas por meio de Sua obra redentora é que os crentes podem entrar nesse descanso definitivo, que não se limita a um dia (Hebreus 4:9-10), mas representa a paz eterna e a comunhão com Deus.

Deuteronômio 5:12-15 ARC

"[12] Guarda o dia de sábado, para o santificar, como te ordenou o Senhor, teu Deus. [13] Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra. [14] Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor, teu Deus; não farás nenhuma obra nele, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu boi, nem o teu jumento, nem animal algum teu, nem o estrangeiro que está dentro de tuas portas; para que o teu servo e a tua serva descansem como tu; [15] porque te lembrarás que foste servo na terra do Egito e que o Senhor, teu Deus, te tirou dali com mão forte e braço estendido; pelo que o Senhor, teu Deus, te ordenou que guardasses o dia de sábado."

Hebreus 4 mostra que o descanso não é sobre guardar o sábado, mas sobre a salvação oferecida por Cristo. Esse descanso vai além do sétimo dia ou da terra prometida dada por Josué. O sábado era uma figura de algo maior: o descanso eterno em Deus. O Salmo 95:7,8 , citado em Hebreus 4:7, nos adverte a não endurecer o coração, pois Deus oferece o descanso verdadeiro, que é a salvação pela graça.

Em Deuteronômio 12:9-10, Deus promete descanso ao povo de Israel, relacionado à segurança na terra prometida, onde o povo descansaria de seus inimigos. Deus os daria "descanso de todos os vossos inimigos ao redor", permitindo que habitassem em segurança. Em Deuteronômio 12:12, esse descanso é ainda mais completo porque envolve a presença do Senhor entre o Seu povo: "Ali, vós vos alegrareis perante o Senhor, vosso Deus". Isso demonstra que o descanso vai além da paz física e envolve a alegria da presença de Deus no meio do Seu povo. Esse descanso físico e temporal é uma figura do descanso eterno em Cristo, que começa agora, por meio da fé, e será plenamente realizado na eternidade. Até Leandro Quadros, teólogo sabatista, reconhece que Hebreus 4 trata da salvação e não do sábado literal.

As diferenças, portanto, entre as alianças são claras: enquanto a Antiga Aliança era escrita em pedra, a Nova Aliança é escrita no coração; enquanto uma oferecia libertação física, a outra oferece libertação espiritual. O Espírito Santo, como o dedo de Deus, não apenas escreve a lei de Deus em nossos corações, mas transforma nossas vidas, tirando o coração de pedra e nos dando um coração de carne, sensível à Sua vontade e guiado por Sua presença. Assim, a nova aliança é um testemunho vivo e interno, onde cada crente é transformado e guiado pelo Espírito de Deus. Da mesma forma, o descanso prometido por Deus em Hebreus 4 reflete essa transição entre o físico e o espiritual. Embora Josué tenha conduzido o povo à terra prometida e os tenha instruído a guardar a lei, inclusive o sábado, ele não pôde oferecer o descanso espiritual final. Esse descanso, que se refere à salvação, pode ser parcialmente experimentado agora, à medida que vivemos em Cristo, mas sua plenitude será alcançada somente na Nova Terra, quando estivermos em completa comunhão com Deus. Esse descanso eterno é acessível apenas através do sacrifício de Jesus Cristo, oferecendo uma paz que não se limita a um dia, mas à promessa definitiva da nova aliança.

Referências:

QUADROS, Leandro. Qual é o descanso de Hebreus 4:9?. Disponível em: https://leandroquadros.com.br/qual-e-o-descanso-de-hebreus-49. Acesso em: 23 jan. 2023.

LEANDRO QUADROS. Hebreus 4 fala sobre o sábado? [apresentação]. YouTube, 2023. Disponível em: https://youtu.be/7V7VuZgO_q8. Acesso em: 3 jan. 2025.