A última batalha

"Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, com voz de arcanjo e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois, nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, para o encontro do Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor." (1 Tessalonicenses 4:16-17, ARC)

A paz do Senhor!

Hoje quero fazer uma breve abordagem bíblica dessa passagem sob uma perspectiva pouco explorada: a de uma batalha travada entre Cristo e o maligno no glorioso retorno do Senhor.

Comecemos destacando a expressão: "O Senhor descerá do céu com alarido, com voz de arcanjo e com a trombeta de Deus." Esses termos (alarido e trombeta)  não são aleatórios. No Antigo Testamento, aparecem frequentemente em contextos militares, relacionados à imagem de invasão, juízo e conquista.

Vejamos alguns exemplos:

"Minhas entranhas! Minhas entranhas! Eu me contorço em dores... O meu coração se agita em mim. Não posso calar, porque ouviste, ó minha alma, o som da trombeta, o alarido da guerra. Destruição sobre destruição é anunciada, porque toda a terra está assolada; de repente, são destruídas as minhas tendas e, num instante, as minhas cortinas." (Jeremias 4:19-20, TB)

"Assim diz o SENHOR: Por causa de três transgressões de Moabe, sim, de quatro, não retirarei o castigo, porque queimou os ossos do rei de Edom até reduzi-los a cinzas. Mas enviarei fogo sobre Moabe, que consumirá os palácios de Queriote; Moabe perecerá no tumulto, no alarido e no som das trombetas. Do meio dele exterminarei o juiz e farei morrer com ele todos os seus príncipes, diz o SENHOR." (Amós 2:1-3)

A mesma linguagem bélica aparece novamente em 1 Tessalonicenses 5, logo após a descrição do arrebatamento:

"Quando disserem: Paz e segurança, então lhes sobrevirá repentina destruição, como as dores de parto à mulher grávida, e de modo nenhum escaparão." (1 Tessalonicenses 5:3, TB)

Paulo retoma essa mesma ideia em sua segunda carta aos tessalonicenses, ampliando a cena:

"É justo diante de Deus retribuir com tribulação aos que vos atribulam, e dar alívio a vós, que sois atribulados, juntamente conosco, quando do céu se manifestar o Senhor Jesus com os anjos do seu poder, em chama de fogo, tomando vingança dos que não conhecem a Deus e dos que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus. Estes sofrerão a pena de eterna destruição da face do Senhor e da glória do seu poder, quando vier para ser glorificado nos seus santos e admirado em todos os que creram naquele Dia." (2 Tessalonicenses 1:6-10)

É impossível não perceber que a "destruição" mencionada na primeira carta é a mesma descrita na segunda. Ambas falam do Dia do Senhor  (um evento de vingança divina e vitória final de Cristo sobre as forças do mal).

Mas de onde Paulo extraiu essa poderosa linguagem? A resposta está no profeta Isaías:

"Pois eis que virá o SENHOR com fogo, e os seus carros serão como um redemoinho, para retribuir a sua ira com furor e a sua repreensão com chamas de fogo. Porque com fogo e com a sua espada entrará o SENHOR em juízo contra toda a carne; e os mortos do SENHOR serão muitos." (Isaías 66:15-16)

Mais uma vez, o cenário é de guerra santa. Cristo é retratado como um guerreiro vitorioso, que desce dos céus em juízo, consumindo os inimigos com fogo e glória. Assim como os conquistadores das antigas nações incendiavam as cidades inimigas (Amós 2), o Senhor vem para destruir o império das trevas e instaurar Seu reino eterno.

E se ainda restarem dúvidas, basta olhar para Apocalipse 19, onde encontramos a mesma linguagem de guerra: o Senhor surge montado como um conquistador, vindo para julgar e combater com justiça.

"E vi o céu aberto, e eis um cavalo branco; e o que estava assentado sobre ele chama-se Fiel e Verdadeiro, e julga e peleja com justiça. Os seus olhos eram como chama de fogo; e sobre a sua cabeça havia muitos diademas; e tinha um nome escrito que ninguém sabia senão ele mesmo. E estava vestido de uma veste salpicada de sangue; e o nome pelo qual se chama é a Palavra de Deus. E seguiam-no os exércitos que há no céu em cavalos brancos, e vestidos de linho fino, branco e puro. E da sua boca saía uma espada aguda, para ferir com ela as nações; e ele as regerá com vara de ferro; e ele mesmo é o que pisa o lagar do vinho do furor e da ira do Deus Todo-Poderoso. E no manto e na sua coxa tem escrito este nome: Rei dos reis e Senhor dos senhores." (Apocalipse 19:11–16, ARC)

A cena completa o quadro iniciado por Paulo e pelos profetas: Cristo desce dos céus como o Guerreiro divino, liderando os exércitos celestiais para destruir o mal e estabelecer Seu domínio eterno.

O texto de 1 Tessalonicenses 4:16-17, portanto, não fala apenas de um reencontro alegre entre Jesus e os salvos, mas também descreve um cenário de batalha. Quando Paulo diz que o Senhor virá "com alarido, com voz de arcanjo e com a trombeta de Deus", ele usa palavras ligadas a um contexto militar. No passado, trombetas eram tocadas para reunir os exércitos e dar início à guerra (1 Coríntios 14:8), e o termo "alarido" significa um grito de comando, como o de um líder chamando suas tropas para lutar. Assim, Paulo está mostrando Jesus como o grande comandante celestial, que desce do céu para derrotar o mal e libertar o seu povo. Isso combina com o que ele diz logo depois, em 1 Tessalonicenses 5, quando fala de "repentina destruição" para os que rejeitam a Deus, e também com 2 Tessalonicenses 1, onde Cristo aparece "com os anjos do seu poder, em chama de fogo". Portanto, esse texto não mostra apenas o arrebatamento, mas também o início da vitória final de Cristo sobre todas as forças do mal.


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