O conceito de fogo eterno no século 2

 

A paz do Senhor! Nesta abordagem, tratarei do pensamento cristão do segundo século sobre o conceito de fogo eterno. No século XXI, o entendimento sobre esse tema tornou-se tão diversificado que há versões para todos os gostos. Há aqueles que defendem um "fogo eterno sem fogo", como fazem as Testemunhas de Jeová e outros grupos religiosos. Outros argumentam que o fogo eterno se refere apenas às consequências, uma interpretação que ganhou popularidade nos últimos tempos. Além disso, não faltam tentativas de reformular a doutrina para suavizar a realidade do inferno, tornando-o mais "light" e confortável, tanto para Satanás quanto para os entes queridos que rejeitaram a verdade e permaneceram amando o erro.

É importante ressaltar que nossa fé deve ser firmada nas Escrituras, e não em opiniões humanas, por mais antigas ou respeitáveis que sejam. No entanto, o testemunho desses irmãos, que viveram próximos aos apóstolos, oferece uma valiosa referência para compararmos a fé atual com a dos primeiros cristãos. Dessa forma, podemos discernir qual fé foi fielmente preservada e atravessou os séculos, mantendo-se sólida e inabalável ao longo da história.

Martírio de Policarpo

O Martírio de Policarpo é uma epístola da Igreja de Esmirna à Igreja de Filomélio, escrita por volta de 155-160 d.C.. Relata a prisão, julgamento e execução de Policarpo de Esmirna, discípulo do apóstolo João. A obra é uma das primeiras a atestar a fé cristã no fogo eterno e o martírio como testemunho da verdade. No capítulo 2, há a seguinte informação:

"E, olhando para a graça de Cristo , desprezaram todos os tormentos deste mundo, redimindo-se do castigo eterno por [o sofrimento de] uma única hora. Por esta razão, o fogo de seus carrascos selvagens pareceu frio para eles. Pois eles mantiveram diante de sua visão a fuga daquele fogo que é eterno e nunca será extinto, e olharam para a frente com os olhos de seu coração para aquelas coisas boas que são reservadas para aqueles que suportam; coisas que o ouvido não ouviu, nem o olho viu, nem entraram no coração do homem ,  1 Coríntios 2:9, mas foram reveladas pelo Senhor a eles, na medida em que não eram mais homens, mas já haviam se tornado anjos."

Essa passagem deixa clara a visão cristã primitiva sobre o fogo eterno. Os cristãos desprezam os tormentos momentâneos deste mundo porque os contrastam com um fogo que "nunca será extinto", evidenciando a crença em um FOGO ETERNO EM DURAÇÃO. Essa passagem evidencia também que o próprio autor entende o castigo eterno como sinônimo de tormento, pois o contrapõe aos "tormentos deste mundo", que são temporários. 

E se você pensa que acabou, está enganado. Na mesma obra, especificamente no capítulo 11, há uma frase marcante, que reforça ainda mais o exposto acima:

"Mas Policarpo disse: Você me ameaça com fogo que queima por uma hora, e depois de um pouco se extingue, mas ignora o fogo do julgamento vindouro e do castigo eterno , reservado para os ímpios. Mas por que você demora? Traga o que quiser."

Novamente, Policarpo estabelece uma comparação nítida entre o que é temporário – o fogo dos carrascos, que se apaga após um breve período – e o que é eterno – o fogo divino, que permanece para sempre como castigo imutável e definitivo para os ímpios. Para desconsiderar a literalidade dessa comparação e tentar reduzir o fogo eterno a meras alegorias ou outras sugestões criativas, é necessário um esforço interpretativo tão forçado que beira a distorção da mensagem original. 

Justino de Roma

Justino de Roma (c. 100-165 d.C.) foi um importante apologista cristão que defendia o cristianismo contra as críticas do Império Romano. Ele explicou Jesus como o Logos divino e contribuiu para a formulação da doutrina cristã primitiva. Justino também reforçou a visão do fogo eterno como um castigo final e perpétuo para os ímpios, alinhando-se com a compreensão bíblica do juízo eterno, em contraste com interpretações que minimizavam ou desconsideravam a gravidade dessa punição.

Em primeiro lugar, para entender conceito de fogo eterno de Justino, uma parte é de expressão importância, que se encontra em sua Primeira Apologia:

"E Platão , da mesma maneira, costumava dizer que Radamanto e Minos puniriam os perversos que vieram antes deles; e dizemos que a mesma coisa será feita, mas nas mãos de Cristo , e sobre os perversos nos mesmos corpos unidos novamente aos seus espíritos que agora devem sofrer punição eterna; e não apenas, como Platão disse, por um período de mil anos." (Capítulo 8)

Nas palavras acima, Justino, ao se opor ao paganismo, afirma que, na concepção cristã, o sofrimento dos ímpios não é temporário, como sugerido por Platão no "Mito de Er", mas eterno. Com essa compreensão, podemos agora explorar a visão de Justino sobre a duração do fogo do juízo, que ele liga diretamente ao castigo eterno, conforme ele declara mais adiante:

"E mais do que todos os outros homens somos seus ajudantes e aliados na promoção da paz, visto que mantemos esta visão, que é igualmente impossível para o perverso , o cobiçoso , o conspirador e para o virtuoso escapar da atenção de Deus , e que cada homem vai para o castigo eterno ou salvação de acordo com o valor de suas ações. Pois se todos os homens soubessem disso, ninguém escolheria a maldade nem por um pouco, sabendo que ele vai para o castigo eterno do fogo; mas por todos os meios se conteria e se adornaria com a virtude , para que pudesse obter as boas dádivas de Deus e escapar dos castigos." (Capítulo 12)

E: 

"E aprendemos que somente são deificados aqueles que viveram perto de Deus em santidade e virtude ; e acreditamos que aqueles que vivem perversamente e não se arrependem são punidos no fogo eterno." (Capítulo 21)

De acordo com Justino, se o castigo é eterno e acontece no fogo eterno, parece que a conclusão lógica seria... bem, que o fogo também é eterno, não é? É quase como se, ao falar sobre punição eterna, o próprio conceito de "eternidade" se aplicasse de maneira óbvia ao fogo. Surpreendentemente, Justino não nos deixa na dúvida quanto a isso, reforçando que, ao contrário das ideias temporárias de Platão, o sofrimento e o fogo no juízo final são, de fato, eternos. Quem diria, não? O fogo eterno realmente parece ser eterno.

Epístola a Diogneto 

A Epístola a Diogneto é um escrito cristão anônimo do século II, dirigido a um indivíduo chamado Diogneto, que busca entender a fé cristã. O texto descreve a doutrina cristã, destacando a diferença entre os cristãos e os pagãos. Ele explica que os cristãos não seguem rituais ou práticas externas, mas vivem de acordo com um princípio moral superior. A carta enfatiza a natureza transcendente de Deus, a encarnação de Cristo, e a salvação oferecida por Ele. Também aborda a relação dos cristãos com o mundo, defendendo que eles são cidadãos temporários da terra, mas com uma cidadania celestial permanente. 

"Então você verá, enquanto ainda estiver na terra, que Deus nos céus governa [o universo ]; então você começará a falar os mistérios de Deus ; então você amará e admirará aqueles que sofrem punição porque eles não negarão a Deus ; então você condenará o engano e o erro do mundo quando você souber o que é viver verdadeiramente no céu, quando você desprezar o que aqui é estimado como morte, quando você temer o que é verdadeiramente a morte, que é reservada para aqueles que serão condenados ao fogo eterno, que afligirá aqueles até o fim que estão comprometidos com ele. Então você admirará  aqueles que por causa da justiça suportam o fogo que é apenas por um momento, e os considerará felizes quando você conhecer [a natureza ] desse fogo." (Capítulo 10)

Embora a Epístola a Diogneto seja de leitura um pouco confusa em certas partes, ela, assim como o Martírio de Policarpo, mostrado anteriormente, estabelece um contraste claro entre o fogo eterno, que é a punição definitiva, e o fogo do martírio, que, embora doloroso, é temporário, durando apenas um instante para os cristãos fiéis.

Um fato importante a se observar é que tanto Policarpo quanto a Carta a Diogneto comparam o fogo do martírio com o fogo inextinguível, o que dá a entender que ambos viam o fogo do juízo final como algo real e literal, assim como o fogo que queimava os mártires. Eles descrevem o sofrimento pelo fogo como uma experiência concreta, o que reforça a ideia de que o fogo eterno é realmente um fogo físico. Essa visão é contrária à ideia de um "fogo eterno sem fogo", que tenta interpretar o castigo eterno de forma simbólica, sem levar em conta a realidade literal do fogo que a Bíblia descreve.

Irineu de Lyon 

Irineu de Lyon foi um bispo cristão e teólogo do século II, nascido provavelmente na Ásia Menor, por volta de 130 d.C. Ele é conhecido principalmente por sua luta contra o gnosticismo e outras heresias, e por sua defesa da fé cristã ortodoxa. Irineu foi discípulo de Policarpo, que, por sua vez, foi discípulo do apóstolo João. Tornou-se bispo de Lyon, na atual França, onde exerceu um papel importante na consolidação da doutrina cristã. Sua obra mais significativa, "Contra as Heresias", abordou a verdade do cristianismo e a importância da tradição apostólica. Irineu também é lembrado por seu desenvolvimento da doutrina da recapitulação, segundo a qual Cristo veio restaurar a humanidade à sua condição original. Ele morreu por volta de 202 d.C., sendo considerado um dos grandes pais da Igreja.

E, sim, Irineu fala sobre o fogo eterno em Contra Heresias,  Livro IV!

"2. Pois assim como, no Novo Testamento , a fé dos homens [a serem colocados] em Deus foi aumentada, recebendo além [do que já foi revelado] o Filho de Deus , para que o homem também pudesse ser um participante de Deus ; assim também é necessário que nossa caminhada na vida seja mais circunspecta, quando somos direcionados não apenas a nos abster de ações malignas , mas até mesmo de pensamentos malignos , e de palavras ociosas, e conversas vazias, e linguagem obscena: assim também a punição daqueles que não acreditam na Palavra de Deus , e desprezam Seu advento, e são afastados para trás, é aumentada; não sendo meramente temporal, mas também tornada eterna . Pois a todos aqueles a quem o Senhor disser: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno,  Mateus 25:41 estes serão condenados para sempre; e a todos aqueles a quem Ele disser: Vinde, benditos de meu Pai, herdai o reino preparado para vós para a eternidade ,  Mateus 25:34 estes recebem o reino para sempre, e fazem constante avanço nele; pois há um só e mesmo Deus Pai e Sua Palavra, que sempre esteve presente com a raça humana , por meio de várias dispensações, e realizou muitas coisas, e salvou desde o princípio aqueles que são salvos (pois estes são aqueles que amam a Deus e seguem a Palavra de Deus de acordo com a classe a que pertencem), e julgou aqueles que são julgados, isto é, aqueles que se esquecem de Deus , e são blasfemos , e transgressores de Sua palavra." (Capítulo 28)

E mais à frente a eternidade desse fogo na duração, e não nos efeitos, é novamente confirmada nas palavras deste cristão antigo:

"3. Pois os mesmos hereges já mencionados por nós se afastaram de si mesmos, acusando o Senhor, em quem dizem crer . Pois aqueles pontos aos quais chamam a atenção com relação ao Deus que então concedeu punições temporais aos descrentes e feriu os egípcios , enquanto salvou aqueles que eram obedientes ; esses mesmos [fatos, eu digo] se repetirão, no entanto, no Senhor , que julga pela eternidade aqueles a quem julga, e deixa ir livres pela eternidade aqueles a quem deixa ir livres: e Ele será [assim] descoberto, de acordo com a linguagem usada por esses homens, como tendo sido a causa de seu pecado mais hediondo para aqueles que lançaram as mãos sobre Ele e O traspassaram." (Capítulo 28)

No último texto, fica claro que Irineu entende o fogo eterno como algo de duração infinita, pois ele menciona que, enquanto no passado Deus punia os desobedientes com castigos temporários (até a morte), agora essas punições serão eternas. Além disso, ele faz um paralelismo entre a eternidade do sofrimento dos ímpios e a eternidade da recompensa dos servos de Deus, destacando que, com a vinda de Cristo, tanto a salvação quanto a condenação passam a ter um caráter definitivo e sem fim.

No Capítulo 27 do Livro V de Contra Heresias, assim como em outras partes, Irineu também aborda o fogo eterno nas seguintes palavras:

"O advento de Cristo será, portanto, sem um objeto, sim, absurdo, na medida em que [nesse caso] Ele não exerce poder judicial. Pois Ele veio para dividir um homem contra seu pai, e a filha contra a mãe, e a nora contra a sogra;  Mateus 10:25 e quando dois estiverem numa cama, tomar um e deixar o outro; e de duas mulheres moendo no moinho, tomar uma e deixar a outra: Lucas 17:34 [também] no tempo do fim, para ordenar aos ceifeiros que primeiro juntem o joio, e o amarrem em feixes, e o queimem com fogo inextinguível, mas que juntem o trigo no celeiro; Mateus 13:30 e para chamar os cordeiros para o reino preparado para eles, mas para enviar os bodes para o fogo eterno , que foi preparado por Seu Pai para o diabo e seus anjos ." (Capítulo 27)

E mais à frente ele declara:

"E a todos os que continuam em seu amor a Deus , Ele concede comunhão com Ele. Mas a comunhão com Deus é vida e luz, e o desfrute de todos os benefícios que Ele tem em estoque. Mas a todos os que, de acordo com sua própria escolha, se afastam de Deus , Ele inflige aquela separação de Si mesmo que eles escolheram por sua própria vontade. Mas a separação de Deus é morte, e a separação da luz é escuridão; e a separação de Deus consiste na perda de todos os benefícios que Ele tem em estoque. Aqueles, portanto, que rejeitam por apostasia essas coisas mencionadas anteriormente, sendo de fato destituídos de todo bem, experimentam todo tipo de punição. Deus , no entanto, não os pune imediatamente de Si mesmo, mas essa punição recai sobre eles porque são destituídos de tudo o que é bom . Agora, as coisas boas são eternas e sem fim com Deus , e, portanto, a perda delas também é eterna e sem fim. É neste assunto exatamente como ocorre no caso de uma inundação de luz: aqueles que se cegaram, ou foram cegados por outros, são para sempre privados do gozo da luz." (Capítulo 27)

Algumas pessoas podem achar estranho que Irineu fale de castigo eterno e, ao mesmo tempo, diga que a morte é o destino dos ímpios, interpretando isso como aniquilação. No entanto, Irineu não via a morte como o fim da existência, como ele declara no Capítulo 31 do Livro V. Logo, falando de juízo, ele certamente via morte como uma separação definitiva de Deus. Afinal, no próprio Capítulo 35 ele menciona o texto que identifica o lago de fogo, que é o mesmo fogo eterno, como segunda morte. Além disso, no capítulo 27, ele explica que aqueles que rejeitam a Deus sofrem por estarem afastados Dele e de tudo que é bom. Como as bênçãos de Deus são eternas, a perda delas também é para sempre. Ele usa a comparação com a luz: quem se cega nunca mais poderá enxergar. Da mesma forma, os ímpios, ao escolherem se afastar de Deus, ficam eternamente sem Sua presença e sem tudo de bom que vem Dele. Para Irineu, essa separação eterna é o verdadeiro significado da morte.

Teófilo de Antioquia 

Teófilo de Antioquia foi um bispo e apologista cristão do século II, nascido por volta de 120 d.C. e falecido provavelmente entre 180 e 185 d.C. Ele é conhecido principalmente por sua obra Ad Autolycum, na qual defende o cristianismo contra críticas pagãs. É um dos primeiros a usar o termo "Trindade" e destaca a importância das Escrituras e da moral cristã em sua teologia.

E, sim, ele aborda sobre o fogo eterno em suas obras, como é o caso do Livro I. Vejamos:

"Não sejas, pois, incrédulo, mas crê.
Pois também eu não cria que isso aconteceria, mas agora, tendo compreendido estas coisas, creio, juntamente com o ter-me deparado com as sagradas Escrituras dos santos profetas, os quais predisseram, pelo Espírito de Deus, as coisas passadas — de que modo aconteceram — e as presentes — de que modo ocorrem — e as futuras — com que ordem se consumarão.
Tendo, pois, recebido comprovação das coisas que acontecem e foram previamente anunciadas, não sou incrédulo, mas creio, obedecendo a Deus;
a quem, se quiseres, também tu submete-te, crendo nele, para que não sejas, agora, incrédulo e depois persuadido aflingindo-te então, nas punições eternas.

Essas punições, preditas pelos profetas, os poetas e filósofos, que vieram depois, roubaram das sagradas Escrituras, para que seus dogmas se tornassem dignos de crédito.
Contudo, também eles predisseram as punições que haverão de vir sobre os ímpios e incrédulos, a fim de haver testemunho para todos, para que ninguém diga: Não ouvimos nem conhecemos.

Se quiseres, também tu aplica-te zelosamente às Escrituras proféticas; e elas te conduzirão com mais clareza a escapar das punições eternas e a alcançar os bens eternos de Deus.
Pois aquele que deu boca para falar, e formou ouvidos para ouvir, e fez olhos para ver, examinará todas as coisas e julgará com justiça,
retribuindo a cada um segundo o valor dos méritos.
Aos que, com perseverança, por obras boas, buscam a incorrupção, dará como dom a vida eterna, alegria, paz, repouso e abundância de bens,
os quais olho não viu, nem ouvido ouviu, nem subiram ao coração do homem.
Mas aos incrédulos e desprezadores, e aos que desobedecem à verdade, mas se deixam persuadir pela injustiça, quando estiverem cheios de adultérios, prostituições, relações homossexuais, cobiças e ilícitas idolatrias, haverá ira e indignação, tribulação e angústia;
e o fim desses tais os possuirá o fogo eterno. E porque acrescentaste, ó amigo: 'Mostra-me o teu Deus', este é o meu Deus, e aconselho-te a temê-lo e a crer nele. (Capítulo 14)

O conceito de "fogo eterno" apresentado por Teófilo de Antioquia está claramente inserido no contexto de castigos eternos, evidenciando a natureza sem fim da punição para os descrentes. Teófilo destaca que, assim como as Escrituras preveem os castigos para os ímpios, também o fazem os filósofos e poetas, que reconheceram, de forma geral, a existência de um sofrimento futuro. Para aqueles que não se arrependerem, o "fogo eterno" se torna a última morada, um tormento eterno que está diretamente relacionado ao conceito de castigos perpétuos.

Talvez alguém estranhe e pergunte: "Como assim, os filósofos e poetas copiaram a Bíblia? A Bíblia tem similaridades com o paganismo?" Teófilo, no entanto, esclarece que, assim como os cristãos, esses pensadores reconheciam a possibilidade de um castigo futuro para os ímpios, embora o fizessem de maneira distorcida e imprecisa. Para Teófilo, a diferença fundamental é que, enquanto os filósofos e poetas entenderam de forma parcial e errada, a Bíblia revela a verdade completa sobre o castigo eterno, fundamentada na justiça divina, e que se cumpre conforme as Escrituras preveem.

Ele diz no Livro II:

"E que os malfeitores devem necessariamente ser punidos na proporção de seus atos , já foi, por assim dizer, oracularmente proferido por alguns poetas, como testemunhas contra eles próprios e contra os perversos , declarando que eles serão punidos. Ésquilo disse:

Aquele que fez também deve sofrer.

E o próprio Píndaro disse:

É apropriado que o sofrimento siga a ação.

Assim também, Eurípides: —

O feito te alegrou — suporta o sofrimento;

O inimigo capturado deve necessariamente ser atormentado.

E novamente:—

A dor do inimigo é a recompensa do herói.

E, da mesma forma, Arquíloco:

Uma coisa eu sei , eu a considero sempre verdadeira ,

O malfeitor sofrerá o mal ." (Capítulo 37)

E depois compara com os profetas:

"Mas o que importa se eles foram antes ou depois deles? Certamente eles em todos os eventos proferiram coisas confirmatórias dos profetas . Sobre a queima do mundo, o profeta Malaquias predisse: O dia do Senhor vem como um forno ardente, e consumirá todos os ímpios .  Malaquias 4:1 E Isaías: Pois a ira de Deus é como uma violenta tempestade de granizo, e como uma torrente de montanha impetuosa. Isaías 30:30 A Sibila, então, e os outros profetas , sim, e os poetas e filósofos , ensinaram claramente tanto sobre a justiça, e julgamento, e punição; e também sobre a providência , que Deus cuida de nós, não apenas para os vivos entre nós, mas também para aqueles que estão mortos: embora, de fato, eles tenham dito isso de má vontade, pois foram convencidos pela verdade." (Capítulo 38)

E enfim terminamos! A análise histórica e teológica sobre o conceito de fogo eterno no pensamento cristão do segundo século revela uma visão clara e consistente entre os primeiros cristãos sobre a punição eterna dos ímpios. A partir das obras de Policarpo, Justino de Roma, Irineu de Lyon, e outros escritos antigos, vemos que o fogo eterno não é apenas uma metáfora ou símbolo de consequências, mas um castigo real e sem término, destinado a aqueles que rejeitam a verdade de Deus. Esses cristãos primitivos, ao contrastar o sofrimento temporário dos martírios com a eternidade do castigo divino, reforçam a compreensão de que o fogo eterno é uma punição imutável, sem fim, e de grande seriedade. Essa visão, que sustenta a dureza da justiça divina, desafia as interpretações modernas que tentam suavizar ou reinterpretar o conceito, enfatizando a necessidade de uma compreensão fiel ao entendimento cristão antigo.


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