Seria exagero chamar o adventismo de seita?

 


A paz do Senhor! Hoje trarei uma reflexão importante e bastante séria: o adventismo é ou não um movimento sectário? Ao longo desta análise, farei analogias e examinarei algumas de suas crenças à luz das Escrituras, buscando compreender se essa acusação realmente se sustenta.

Uma dicotomia

Pra começar, deixa eu te contar uma historinha. Imagina que você é vizinho do seu Francisco. Gente boa demais, ajuda todo mundo, vive de coração aberto. Se alguém precisa, lá está ele: carregando sacola, emprestando ferramenta, dando carona. Um vizinho nota dez! Só que tem um ‘detalhe’… o seu Francisco tem uma teoria meio complicada: ele acredita piamente que a esposa (ou o marido) de alguém por aí é, digamos, uma verdadeira ‘profissional da esquina’. E ele não guarda isso pra ele, não! Ele espalha pra quem quiser ouvir. Você até gosta dele, mas sabe que você e seu cônjuge não andam lá muito bem na conversa do seu Francisco, porque ele vive comentando sobre vocês. Provas? Bom… digamos que ele só tem uns ‘sinais suspeitos’, nada muito concreto, mas pra ele já basta pra sair falando.

Ora, alguém pode até dizer: 'Ah, mas ele é um excelente vizinho! Vive compartilhando o que tem, ajuda no que pode, é gente fina!' — mas, vamos combinar, isso não apaga o fato de que seu Francisco é um baita mentiroso. Na verdade, pelo Código Penal, ele já era pra estar no mínimo respondendo um processinho por difamação. No fim das contas, só existem duas opções: ou ele está absolutamente certo no que diz… ou está espalhando uma mentira das grandes.

Agora, retornando a um tom mais sério, essa é exatamente uma das questões envolvendo o adventismo. Para essa denominação, todas as demais religiões são vistas como Babilônia — a grande prostituta de Apocalipse — ou, no mínimo, filhas dela. E não para por aí: segundo a teologia adventista, no fim dos tempos, essa Babilônia e suas supostas filhas se unirão para aprovar um decreto dominical, cujo objetivo será perseguir justamente os adventistas, por serem os que guardam o sábado.

Na prática, essa é uma das mensagens centrais do adventismo. Toda a igreja vive se preparando para esse período em que nós — os supostos filhos da Babilônia — iremos persegui-los por causa do famoso decreto dominical. É curioso: sempre que muda o papa ou assume um novo presidente dos Estados Unidos, uma parte considerável dos adventistas entra em verdadeiro alvoroço, achando que, dessa vez, o temido decreto finalmente vai aparecer. Mas ele nunca apareceu — e, sejamos honestos, certamente nunca aparecerá.

Assim como no caso do seu Francisco, aqui também só existem duas possibilidades: ou eles estão certos — e, nesse caso, você é mesmo uma prostituta espiritual — ou então eles estão espalhando uma mentira das grandes. E vamos combinar: é algo surreal. Imagine um corpo ministerial inteiro, com mais de 20 milhões de membros ao redor do mundo, sustentando como esperança profética aquilo que, no fim das contas, seria um falso testemunho contra os demais cristãs. 

Dois livros sagrado?

Imagine que você pergunte a um padre: 'Vocês adoram os santos?' Ele certamente responderá com um enfático 'não'. No entanto, quando observamos a prática (com a confecção de imagens, a prostração diante delas, a construção de basílicas, as preces e as promessas) percebemos que, na essência, isso não difere do que é feito a um ídolo. Ou seja, na teoria dizem uma coisa, mas na prática demonstram algo bem diferente.

O adventismo também professa, com toda a firmeza, o princípio do "Sola Scriptura". Entretanto, quando observamos os escritos de Ellen White, percebemos que, na prática, a realidade parece destoar da teoria. Por exemplo: com base apenas na Bíblia, jamais chegaríamos à conclusão de que os anjos utilizam cartões de ouro para entrar e sair do céu, como está em suas obras. No entanto, ao ler obras como "Primeiros Escritos", ficamos perplexos com a quantidade de detalhes que ela alega sobre o céu — detalhes tão específicos que por vezes parece estarmos diante de um segundo Daniel ou de um novo Apocalipse. Ellen White não apenas comenta ou ilumina certas passagens, como seus defensores costumam dizer ao chamá-la de "a luz menor", mas traz relatos e pormenores que simplesmente não existem no texto sagrado. Seria exagero considerar tais escritos como um segundo livro sagrado? Sinceramente, penso que não.

 Assim como ocorre com nossos amigos católicos, você, como adventista, também acabaria tendo duas fontes inspiradas. Os católicos afirmam ter a Bíblia e a tradição como fontes infalíveis para a interpretação das Escrituras. No adventismo, teríamos a Bíblia e os escritos de Ellen White. A Bíblia funcionaria como um resumo da história da redenção, enquanto Ellen White, igualmente considerada inspirada, acrescentaria detalhes não revelados no primeiro livro (como, por exemplo, a vida de Satanás no céu e descrições da futura morada dos salvos e outros assuntos bíblicos).

Um exemplo didático pode ajudar: pense no universo de um  anime popular entre a juventude, como "Naruto". Temos a história central do personagem principal, mas também há histórias paralelas, como o passado de Kakashi em sua infância. Ambas as narrativas são consideradas verdadeiras dentro do mesmo universo, pois têm um mesmo autor, no caso, Masashi Kishimoto. Analogamente, no adventismo, tanto a Bíblia quanto Ellen White seriam frutos do mesmo Espírito, compondo um universo ampliado de revelação.

Se a expressão "duas Bíblias" parecer pesada ou difícil de aceitar, basta suavizar: chame de "dois livros sagrados". Afinal, se Ellen White escreveu sob inspiração divina e trouxe detalhes da história da redenção que jamais foram revelados nas Escrituras, não há muito espaço para questionar o caráter sagrado de seus escritos. A conclusão é inevitável: se é inspirado, se amplia a revelação e se traz verdades nunca antes registradas, está, na prática, no mesmo nível de um livro sagrado.

 Adventismo no Apocalipse?

Sim, meus irmãos, na escatologia adventista, a história da Igreja deles está no Apocalipse. Eles interpretam o livrinho do capítulo 10 como uma referência direta ao que aconteceu no século XIX. O "doce" simbolizaria a alegria ao receber a notícia da iminente vinda de Jesus; o "amargor", por sua vez, representaria a decepção quando Cristo, contrariando suas expectativas, não retornou em 1844.

Ou seja, em vez de reconhecerem com humildade o erro de seus fundadores — o que seria perfeitamente compreensível, afinal, todos erramos, não é mesmo? Lutero, Calvino, Armínio, os pioneiros pentecostais... todos tiveram suas falhas (preferiram declarar que tudo aquilo foi, na verdade, um movimento conduzido por Deus). Essa é uma estratégia bastante comum em grupos ou lideranças com traços manipuladores: quando não se pode negar o erro, costumam terceirizá-lo ou atribuí-lo a responsabilidade a uma suposta ação divina.

Na prática, muitos ainda tentam se esquivar: alegam que o erro não foi do adventismo, mas dos mileritas. Porém, como bem sabemos, o adventismo surgiu exatamente de mileritas que se recusaram a admitir que estavam errados. E, ironicamente, continuam não admitindo até hoje.

Ou seja, em vez de olhar para o passado com humildade e pesar, como um alerta do que jamais deveria se repetir, o membro passa a se enxergar como herdeiro de uma mensagem profética singular (alguém escolhido, separado, mais especial do que os demais cristãos). Afinal, qual outra denominação protestante (presbiteriana, assembleiana, batista, ou qualquer outra) pode se orgulhar de ter um capítulo inteiro só pra história da fundação dela no Apocalipse? Só se for Apocalipse 17, onde a Babilônia e suas filhas são descritas... mas, claro, isso é reservado aos outros, nunca a eles.

No entanto, a interpretação adventista desconsidera a referência mais natural e direta ao Antigo Testamento. O próprio episódio do livrinho em Apocalipse 10 é um claro eco de Ezequiel 2:8–3:3, onde o profeta é instruído a comer um rolo de livro, o qual era doce na boca, mas lhe trouxe profunda amargura interior (Ezequiel 3:14). O ato de comer o livro, tanto em Ezequiel quanto em Apocalipse, simboliza a recepção da palavra profética e a missão de proclamá-la  (um padrão comum nos textos proféticos).

O amargor, longe de representar um erro de interpretação ou um equívoco escatológico, está plenamente explicado em Ezequiel 3:14: "Fui levado em amargura, no ardor do meu espírito, e a mão do Senhor era forte sobre mim." Ou seja, o amargo simboliza a dureza e a dificuldade da missão profética, não uma falha teológica. Portanto, a interpretação mais coerente entende o episódio do livrinho como uma renovação da vocação profética, e não como um código cifrado da história adventista.

  É natural que alguns não apreciem esse tipo de publicação. Podem até argumentar que os próprios adventistas reconhecem haver salvos em outras igrejas e, inclusive, nos chamam de irmãos — o que, em parte, é verdade. Contudo, segundo a lógica adventista, os que estão em "Babilônia" e ainda assim podem ser salvos são aqueles que ainda não compreenderam a mensagem adventista. São vistos como, numa analogia com o Código Penal Brasileiro, menores de idade: mesmo transgredindo a lei, não seriam responsabilizados por isso, justamente por não entenderem plenamente o que fazem. Por isso, é importante estar atento: toda sua  convivência com um adventista tende a ser, ainda que sutilmente, uma tentativa de ganhar sua confiança e, assim, persuadi-lo a aceitar suas teorias anti ou extrabíblicas.

Juízo investigativo 


Outro ponto delicado é a doutrina do juízo investigativo. Além de levantar sérias implicações teológicas quanto à suficiência da expiação de Cristo — tema já amplamente debatido na internet, e que por isso não será abordado aqui —, essa doutrina também serve de terreno fértil para alimentar teorias conspiracionistas.
 
Segundo os adventistas, a partir de 1844 teve início um juízo pré-advento, no qual cada ser humano está sendo examinado por Cristo. Esse processo, de acordo com eles, se encerrará pouco depois do chamado “decreto dominical”. A partir desse ponto, não haverá mais perdão, pois todas as decisões relacionadas ao destino de cada pessoa já terão sido tomadas. Essa ideia é conhecida como a doutrina da “Porta Fechada”.
 Mas surge uma dúvida incômoda: se João, por exemplo, for julgado e aprovado hoje nesse juízo investigativo, seu destino já estaria selado? Pela lógica da porta fechada, sim. No entanto, como essa é uma questão espinhosa, as respostas oferecidas geralmente são evasivas ou imprecisas.
 
Como já mencionado, isso contribui significativamente para o imaginário conspiracionista. Aliás, se você é adventista, provavelmente já sentiu medo de se afastar da fé procurando uma igreja mais evangélica, ainda que momentaneamente, e justo nesse intervalo seu nome ser julgado (selando assim, de forma irreversível, seu destino eterno). Essa doutrina, portanto, acaba funcionando como um forte instrumento psicológico de controle, servindo como combustível para manter os fiéis presos a uma religião baseada no medo e na incerteza quanto à própria salvação.
Não é à toa que essa crença é ferrenhamente debatida entre adventistas e ex-adventiatas, como podemos ver aqui:


Na realidade, a Bíblia é clara ao afirmar que o Espírito Santo habitando no crente é o selo e a garantia de que somos filhos de Deus e herdeiros do Reino vindouro (Efésios 1:13-14; Efésios 4:30; Romanos 8:16). Aqueles que pertencem a Cristo serão ressuscitados (ou transformados) para se encontrarem com o Senhor nos ares, pelo menos mil anos antes do juízo final (1 Tessalonicenses 4:16-17; Apocalipse 20). Compareceremos, sim, diante do trono de Deus, mas não como réus, e sim como justificados, selados pelo Espírito, revestidos da justiça de Cristo (Romanos 8:1; 2 Coríntios 5:10).

 Em suma, embora seja um movimento com uma estrutura organizacional invejável, não se pode ignorar que o adventismo apresenta, no mínimo, características de um movimento conspiracionista, promovendo doutrinas estranhas ao texto sagrado e tratando Ellen White como um tipo de apócrifo moderno. É evidente que nosso combate não é contra pessoas, mas contra ideias que afrontam a verdade da Palavra de Deus. Amamos as pessoas, mas rejeitamos todo ensinamento que se opõe às Escrituras. Mas é inegável que qualquer pessoa que abrace seriamente tais conceitos acaba por se tornar alienada, vivendo em um mundo imaginário cuidadosamente moldado pela própria estrutura doutrinária da organização.


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