O apego aniquilacionista a I Coríntios 15

A paz do Senhor! Na tentativa de validar suas crenças, muitos aniquilacionistas se apropriaram de 1 Coríntios 15 de forma tão distorcida que acabaram isolando-o do restante das Escrituras para sustentarem suas convicções. No entanto, esse castelo de areia desmorona quando analisamos o contexto bíblico como um todo.

Para começar, os aniquilacionistas alegam que a morte será tragada (1Co 15:54) e que o sofrimento eterno invalidaria essa ideia, pois o homem precisaria estar vivo para sofrer. No entanto, é importante notar que João também menciona a derrota da morte (Ap 20:14). Todavia, a "morte", ou melhor, o "dano da segunda morte" dos ímpios (Ap 2:11), não significa aniquilação, mas sim o próprio lago de fogo (Ap 20:14-15), representando a exclusão do Reino de Deus.

De fato, cremos que o ímpio perecerá ou morrerá. No entanto, a Bíblia deixa claro que esse tipo de morte é exclusivo de Deus. Não se trata da primeira morte, que pode ser causada por qualquer ser humano, mas de uma morte que só Ele pode decretar, como está escrito em Mateus 10:28: "E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo."

Curiosamente, além da derrota da morte, outros conceitos são replicados tanto por Paulo quanto por João. Por exemplo, Paulo afirma que "a carne e o sangue não podem herdar o Reino de Deus" (1Co 15:50), enquanto João diz que "o vencedor herdará todas essas coisas" (Ap 21:7), equiparando o Reino de Deus à nova criação. Em contraste, os ímpios terão sua parte no lago de fogo, que é a segunda morte (Ap 21:8).

Como se não bastasse, eles também argumentam que o texto afirma que os justos herdarão a incorrupção, recebendo um corpo celestial (1Co 15:42-44, 53). No entanto, essa promessa é claramente exclusiva dos cristãos, não se estendendo aos ímpios. A partir dessa premissa, concluem que, sem um corpo incorruptível, os ímpios não poderiam sofrer eternamente, assumindo que a corrupção levaria inevitavelmente à destruição completa. Contudo, essa linha de raciocínio ignora o fato de que a Escritura nunca condiciona a capacidade de sofrer à posse de um corpo glorificado, mas sim à justiça divina que estabelece o castigo eterno como destino dos ímpios.

E falando em corpo incorruptível, ao contrário do que imaginam, outras passagens também falam deste corpo. Em Mateus 13:43, por exemplo, os justos aparecem no Reino—o mesmo Reino mencionado em 1 Coríntios 15—resplandecendo como o sol, uma descrição que remete à transfiguração de Cristo (Mt 17:2), evidenciando a natureza glorificada de seus corpos. Todavia, em contraste, os ímpios não compartilham dessa glória; ao contrário, são retratados como aqueles que estarão chorando e rangendo os dentes no fogo (Mt 13:42, 50). Veja, portanto, que mesmo os textos que falam do corpo celestial também falam do sofrimento no fogo. 

Essa estratégia de separar as palavras de Paulo do restante dos apóstolos é antiga. Pedro, por exemplo, já alertava sobre isso:

"E tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor, como também o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada; falando disto, como em todas as suas epístolas, entre as quais há pontos difíceis de entender, que os indoutos e inconstantes torcem, como também as demais Escrituras, para sua própria perdição." (2 Pedro 3:15-16)

Da mesma forma, os mortalistas de hoje seguem o mesmo caminho, distorcendo as palavras de Paulo e divorciando suas interpretações do restante das Escrituras.

Portanto, longe de sustentar o aniquilacionismo, 1 Coríntios 15 reafirma a vitória dos santos e a condenação consciente dos ímpios, que não é aniquilação, mas separação eterna da vida em Deus. A tentativa aniquilacionista de isolar esse capítulo do restante das Escrituras desmorona quando confrontada com a harmonia bíblica, onde a "segunda morte" nunca significa cessação da existência, mas sim juízo eterno. Ao distorcer as palavras de Paulo e ignorar seu alinhamento com João, Mateus e Cristo, os mortalistas constroem uma teologia inconsistente, que falha diante do testemunho completo da Bíblia. Assim, a verdade permanece inabalável: os justos herdarão a glória incorruptível, enquanto os ímpios enfrentarão a justa retribuição divina.

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