O conceito de inferno na Bíblia


A paz do Senhor a todos! Hoje, abordaremos o tema do pós-juízo final, destacando o destino eterno tanto dos justos quanto dos ímpios. A Palavra de Deus nos apresenta, de forma clara, dois destinos distintos e eternidades com consequências opostas. Nesta publicação, exploraremos essas verdades em detalhes, buscando compreender o que a Bíblia nos ensina sobre o desfecho final de cada ser humano.

O Conceito de Dois Lugares

O primeiro ponto que gostaria de destacar é o conceito de dois lugares distintos. Nos Evangelhos, enquanto os justos são recebidos no Reino (Mateus 25:34), os ímpios são lançados em outro lugar, descrito de diversas maneiras: Geena (Mateus 18:9), a fornalha de fogo (Mateus 13:42), trevas exteriores (Mateus 8:12), fogo eterno (Mateus 25:41) ou simplesmente "fora", como vemos em Lucas 13:28. Frequentemente, esses destinos são acompanhados pela expressão "ali haverá choro e ranger de dentes" (Mateus 8:12; Mateus 13:50; Lucas 13:28), sugerindo sofrimento, desespero e reforçando ideia de lugar (principalmente pelo uso do advérbio "ali").

"Eu lhes digo que muitos virão do Oriente e do Ocidente, e se assentarão à mesa com Abraão, Isaque e Jacó no Reino dos céus. Mas os filhos do Reino serão lançados para fora, nas trevas. Ali haverá choro e ranger de dentes."
Mateus 8:11-12

Mateus 8:12 é enfático ao usar o verbo grego ballo (lançar) com a preposição ek (para fora), deixando claro que os ímpios são lançados para fora do Reino, em um lugar de tormento. Esse uso linguístico reforça a ideia de que há uma separação literal entre os justos e os ímpios.

"O Filho do homem enviará os seus anjos, e eles tirarão do seu Reino tudo o que induz à queda e todos os que praticam o mal. E os lançarão na fornalha de fogo, ali haverá choro e ranger de dentes. Então, os justos resplandecerão como o sol no Reino de seu Pai. Quem tem ouvidos, ouça." Mateus 13:41-43

Além disso, em Mateus 13:41-42, a ênfase na ação dos anjos lançando os ímpios na fornalha de fogo reforça a literalidade da separação. O fato de os anjos estarem envolvidos na execução do juízo torna ainda mais claro que essa divisão de lugares não é uma metáfora, mas uma realidade literal, onde os ímpios são fisicamente separados do Reino e lançados em um destino de sofrimento. Isso confirma a ideia de que existem dois lugares distintos, com consequências opostas.

Em Apocalipse, a ideia é muito similar. Os ímpios são "lançados" no lago de fogo, como vemos em Apocalipse 20:15, assim como são "lançados" em várias passagens dos Evangelhos. Um ponto curioso é que, em várias partes da Bíblia, é afirmado que os ímpios não "herdarão" o Reino de Deus, como vemos em 1 Coríntios 6:9-10 e Gálatas 5:21, mas apenas os crentes. No entanto, em Apocalipse, a ênfase é diferente. Em Apocalipse 21:7, está escrito que "quem vencer herdará estas coisas", referindo-se à nova criação. Essa semelhança entre "herdar o Reino" e "herdar todas essas coisas" sugere que, em Apocalipse, o Reino de Deus e a nova criação são, de fato, sinônimos escatológicos, representando a consumação de todas as promessas de Deus para os fiéis no fim dos tempos.

O conceito de duas eternidades 

A Bíblia apresenta de forma clara o conceito de duas eternidades: uma de adoração contínua para os justos e outra de juízo eterno para os ímpios. Mesmo sendo um texto simbólico, em que Deus vem com carro, espada e restabelece o reino de Israel étnico, Isaías 66:15-24 transmite a essência da perpetuidade de ambos os destinos. O povo de Deus adora a Ele "de lua nova a lua nova" (v. 23), simbolizando um culto eterno e contínuo. Por outro lado, ao saírem dessa adoração perpétua em Jerusalém, eles veem, a cada ciclo, as carcaças dos ímpios queimadas em um fogo que "nunca se apaga" (Isaías 66:24). Isso sugere claramente a ideia de dupla continuidade, refletindo a constância do juízo divino. Assim, a punição dos ímpios é tão permanente quanto a adoração dos justos, pois ambos se mostram de  "lua nova a lua nova", evidenciando que ambos os destinos são eternos e imutáveis.

 Daniel também apresenta a mesma ideia de dupla eternidade. Em Daniel 12:2, lemos que "uns ressurgem para a vida eterna, outros para vergonha e horror eterno". Este contraste é semelhante ao que encontramos em Mateus 13:43, onde os justos "resplandecerão como o sol no reino de seu Pai". A ideia de resplendor é destacada igualmente em Daniel 12:3, onde os sábios "resplandecerão como o brilho do firmamento". Em ambos os textos, o povo de Deus é descrito como aqueles que resplandecem na glória eterna. Assim, a imagem de desonra e horror eterno em Daniel deve ser associada ao "choro e ranger de dentes" na fornalha de fogo em Mateus 13:42. 

A mesma ideia de eternidade é claramente presente em Mateus 25:46, onde Jesus estabelece um contraste profundo entre o castigo eterno e a vida eterna. O versículo afirma: "E estes irão para o castigo eterno, mas os justos para a vida eterna". Aqui, a palavra "eterno" (aionios, em grego) é usada para descrever tanto o castigo quanto a vida, sugerindo uma duração imutável e sem fim para ambos os destinos. Essa dualidade de destinos eternos reforça a ideia de que a punição para os ímpios não é uma extinção ou aniquilação, mas uma existência contínua de sofrimento, assim como a vida dos justos é uma existência plena e perpétua com Deus. O uso do termo "eterno" para ambos os resultados implica uma continuidade sem término, destacando a seriedade e a irrevogabilidade do juízo final. Isso refuta qualquer interpretação que sugira que o "castigo eterno" seja temporário ou limitado a uma duração finita, como alegam algumas correntes teológicas, incluindo a visão aniquilacionista.

Em Mateus 8:29, os demônios pedem para não serem atormentados "antes do tempo", reconhecendo que o juízo final ainda não havia chegado. Apocalipse 20:10 também reforça essa ideia, afirmando que "o diabo, que os enganava, foi lançado no lago de fogo e enxofre, onde já estavam a besta e o falso profeta, e serão atormentados dia e noite para todo o sempre". Esse tormento definitivo e eterno também é confirmado em Apocalipse 14:10-11, que descreve o sofrimento eterno dos adoradores da besta: "serão atormentados com fogo e enxofre [...] e a fumaça do seu tormento sobe para todo o sempre; e não têm descanso, dia e noite". Essas referências mostram de forma consistente que o sofrimento eterno é uma realidade para os ímpios, tanto para os demônios quanto para aqueles que seguem a besta.

A ideia de um fogo eterno é claramente expressa na Bíblia. A Bíblia usa várias formas, como "fogo eterno" (Mateus 18:8), "inextinguível" (Marcos 9:43), "que não se apaga" (Marcos 9:48), além de mostrar a besta e o falso profeta sendo lançados nele por mil anos (Apocalipse 19:20; 20:10). Mateus 25:41, que fala do destino do diabo, também confirma a literalidade do fogo de Apocalipse 20:10, que também é para o demônio.

Em Judas 1:13, o apóstolo não apenas repete o conceito de cárcere encontrado em Mateus 8:12, onde os ímpios são lançados "para fora, nas trevas", mas aplica essa ideia de forma definitiva e eterna. Enquanto em Mateus a imagem das trevas sugere uma separação daqueles que rejeitam o Reino, Judas vai além, afirmando que os ímpios são como "estrelas errantes, para os quais a escuridão das trevas está reservada para sempre" (Judas 1:13). Essa aplicação da condenação não se limita a uma punição transitória, mas se estende pela eternidade, simbolizando uma prisão perpétua, uma separação eterna de Deus. Assim, Judas aprofunda a compreensão do castigo divino, não só reforçando o conceito de cárcere, mas tornando-o irrevogável e sem fim, aplicando-o à eternidade de forma imutável.

Mas e a (segunda) morte do ímpio?

Nós cremos na morte do ímpio, mas surge a pergunta: o que é a segunda morte? Em Lucas 15:24, o filho distante do pai é considerado "morto" ou "perdido", refletindo uma separação espiritual. Em Efésios 2:1, nossa condição antes de crermos é descrita como "mortos em nossos pecados", evidenciando uma morte espiritual. No Salmo 31:12, o abandono é comparado à morte, expressando a sensação de desolação. Curiosamente, o lago de fogo, a exclusão do reino do Messias, é justamente a segunda morte, como descrito em Apocalipse 20:14. Logo, não há contradição entre as passagens que falam da morte do ímpio (como Mateus 10:28, que fala de duas mortes, sendo uma possível apenas a Deus) e seu estado de sofrimento sem fim, pois ambas referem-se à separação definitiva de Deus, um sofrimento eterno que é, na verdade, a segunda morte.

Diante de tudo o que foi exposto, podemos concluir que a Bíblia apresenta de forma clara e coerente o destino eterno dos justos e dos ímpios, enfatizando a realidade de duas eternidades distintas. Enquanto os justos herdarão a vida eterna e resplandecerão no Reino de Deus, os ímpios enfrentarão o castigo eterno no lago de fogo, que é descrito como a segunda morte. Esse castigo não é um aniquilamento, mas uma separação consciente e eterna de Deus, marcada por tormento contínuo. Assim, as Escrituras não deixam espaço para contradição entre as passagens que falam da morte do ímpio e seu estado de sofrimento eterno, pois ambas apontam para a gravidade do juízo divino e a necessidade urgente de buscarmos a reconciliação com Deus por meio de Cristo, enquanto há tempo.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O Anticristo e a mudança do tempo e da lei

Só 144 mil morarão no céu?

As almas debaixo do altar são literais?