O [mau] uso aniquilacionista de Mateus 5:25,26

 


 "Harmoniza-te sem demora com o teu adversário, enquanto está no caminho com ele; para que não suceda que o adversário te entregue ao juiz, o juiz, ao oficial de justiça, e sejas recolhido à prisão. Em verdade te digo que não sairás dali, até pagares o último ceitil". Mateus 5:25-26 TB 

A paz do Senhor a todos! Nesta publicação, vou abordar mais um suposto "texto-prova" utilizado pelos aniquilacionistas. Para quem não conhece, muitos adeptos dessa vertente da cristandade acreditam que, antes de uma suposta extinção dos ímpios, o ser humano passaria por um período de sofrimento, de acordo com seus pecados, para então ser aniquilado. Um dos textos frequentemente usados para sustentar essa teoria é justamente o mencionado acima. Em outras palavras, após pagar o último ceitil, símbolo dos pecados, a pessoa seria destruída por Deus. Mas será que é isso mesmo que o texto está dizendo? A resposta é não!

Em primeiro lugar, o texto retrata claramente a imagem de uma cadeia, o que torna totalmente absurdo imaginar que, após cumprir sua pena pelos erros cometidos dentro dela, o indivíduo seria morto. Ora, se a pessoa já pagou pelos seus crimes, qual seria a justificativa para sua eliminação? Nenhum tribunal humano aceitaria uma barbaridade dessa, em que um ser humano morre após já ter pago sua dívida. Convenhamos, esse "deus aniquilacionista" é mais "interessante" do que imaginamos.

Em segundo lugar, a ilustração do pecado como se fosse uma dívida é ilustrado em outro trecho do evangelho segundo escreveu Mateus:

"[23]  Por isso, o reino dos céus é semelhante a um rei que resolveu ajustar contas com os seus servos. [24] E, passando a fazê-lo, trouxeram-lhe um que lhe devia dez mil talentos. [25] Não tendo ele, porém, com que pagar, ordenou o senhor que fosse vendido ele, a mulher, os filhos e tudo quanto possuía e que a dívida fosse paga. [26] Então, o servo, prostrando-se reverente, rogou: Sê paciente comigo, e tudo te pagarei. [27] E o senhor daquele servo, compadecendo-se, mandou-o embora e perdoou-lhe a dívida. [28] Saindo, porém, aquele servo, encontrou um dos seus conservos que lhe devia cem denários; e, agarrando-o, o sufocava, dizendo: Paga-me o que me deves. [29] Então, o seu conservo, caindo-lhe aos pés, lhe implorava: Sê paciente comigo, e te pagarei. [30] Ele, entretanto, não quis; antes, indo-se, o lançou na prisão, até que saldasse a dívida. [31] Vendo os seus companheiros o que se havia passado, entristeceram-se muito e foram relatar ao seu senhor tudo que acontecera. [32] Então, o seu senhor, chamando-o, lhe disse: Servo malvado, perdoei-te aquela dívida toda porque me suplicaste; [33] não devias tu, igualmente, compadecer-te do teu conservo, como também eu me compadeci de ti? [34] E, indignando-se, o seu senhor o entregou aos atormentadores, até que lhe pagasse toda a dívida. [35] Assim também meu Pai celeste vos fará, se do íntimo não perdoardes cada um a seu irmão". Mateus 18:23-35 

Não há dúvidas, caro leitor, de que o texto acima trata do mesmo assunto abordado em Mateus 5. A realidade que vemos, infelizmente, é que muitos brasileiros têm sérios problemas em interpretar textos de maneira correta. A Bíblia não afirma que a prisão seja uma espécie de pagamento pela dívida. As Escrituras simplesmente dizem que não sairão de lá até que paguem a dívida, que simboliza os pecados. Em outras palavras, enquanto houver uma dívida, a pessoa permanecerá ali.

E falando em dever, aí que o negócio fica estranho. Os 10 mil talentos mencionados em Mateus 18:24 provavelmente representam uma hipérbole, com o intuito de ilustrar a magnitude da dívida impagável contraída pelo servo na parábola. Para a época, 10 mil talentos eram uma quantia colossal, que excedia qualquer possibilidade de pagamento por uma pessoa comum. Para contextualizar, o rendimento anual de Arquelau, governante da Judéia, era de apenas 600 talentos, conforme registrado por Josefo em Antiguidades Judaicas (13.754). Se considerarmos que a renda de um governante não é comparável à de um indivíduo comum, a dívida de 10 mil talentos seria incompreensivelmente grande. Essa expressão enfatiza o caráter impossível da salvação humana sem a misericórdia divina, refletindo a impossibilidade de saldar a dívida do pecado por meios próprios. A hipérbole serve para destacar a graça imensa de Deus, que perdoa uma dívida que não poderia ser paga.

O aspecto interessante é que os textos ilustram mais a ideia de tormento eterno do que o sugerido pelos aniquilacionistas. Pense bem: a pessoa nunca sairá de lá, pois a dívida é extremamente exorbitante. A própria Palavra diz que ela seria entregue aos atormentadores ou carcereiros – pessoas que, na prática, também atormentavam o preso – até que pagasse a dívida, que é impagável. O versículo 34 remonta ao 30, em que, assim como o servo coloca seu companheiro na prisão, o Senhor (que simboliza Deus) também faz o mesmo. Isso não soa mais como a descrição encontrada em Apocalipse 14:9-10 e 20:10, onde os ímpios são "atormentados", do que o que nossos queridos amigos com uma visão diferente pretendem argumentar?

Em síntese, o tiro saiu pela culatra. Em vez de favorecer a crença em um tormento temporário e proporcional seguido de aniquilação, a ideia básica de Mateus 5:25-26, quando comparada com outras passagens, é que o ímpio jamais sairá de lá. Mais ainda, para Deus, não há nada que possamos fazer para quitar nossa dívida, a não ser aceitar o sacrifício vicário de Jesus ENQUANTO TEMOS TEMPO! Fiquem com Deus.

Referências:

BIBLEHUB. Strong's Greek: 930. βασιλεία (basileia) — kingdom, royal power, dominion, reign. Disponível em: http://biblehub.com/greek/930.htm. Acesso em: 19 nov. 2024.

JOSEFO. Antiguidades judaicas. Tradução de Vicente Pedroso. Preparação dos originais de Judson Canto, Kleber Cruz e Reginaldo de Sousa; revisão de Daniele Pereira, Kleber Cruz e Luciana Alves. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 2004. 8. ed. p. 754. ISBN 85-263-0641-3.


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