Jesus, os judeus e a paz



A paz do Senhor! A questão sobre a possibilidade de uma paz plena e universal é um dos motivos pelos quais os judeus ortodoxos rejeitam Jesus como o Messias prometido. Para eles, a vinda do Messias traria paz ao mundo de forma concreta e imediata. No entanto, essa interpretação reflete uma compreensão limitada do próprio texto sagrado, que apresenta, nas profecias, a pacificação do mundo apenas quando o Senhor aparecer e destruir os adversários de seu povo.

Um exemplo clássico para os judeus é o texto de Isaías 11, que descreve um tempo em que "o lobo habitará com o cordeiro, e o leopardo se deitará com o cabrito; o bezerro, o leão novo e o animal cevado andarão juntos, e um menino pequeno os guiará" (Isaías 11:6). Esse cenário simboliza uma era de paz e harmonia plena entre todos os seres. A visão continua ao afirmar que “não se fará mal nem dano algum em todo o meu santo monte, porque a terra se encherá do conhecimento do Senhor, como as águas cobrem o mar” (Isaías 11:9), apresentando um quadro de transformação universal em que o mal será eliminado. Os judeus ortodoxos argumentam que Jesus não cumpriu essa descrição, pois o mundo permanece em conflito e, como observam, ainda não se viu essa renovação completa. Para eles, a verdadeira era messiânica traria essa transformação de forma imediata e visível, algo que, segundo creem, ainda não aconteceu.

Contudo, o próprio livro de Isaías amplia essa visão de paz e renovação universal ao reiterar, em Isaías 65, que esses elementos de harmonia e restauração pertencem ao contexto do Novo Céu e da Nova Terra. Tanto em Isaías 11 quanto em Isaías 65, é descrita a convivência pacífica entre os animais: "o lobo e o cordeiro se apascentarão juntos, e o leão comerá palha como o boi" (Isaías 65:25). Além disso, Isaías 65:17 declara: “Porque eis que eu crio novos céus e nova terra; e não haverá lembrança das coisas passadas, nem mais se recordarão”, indicando que essa paz é parte de uma nova criação que ainda está por vir.

Isaías 66 aprofunda esse cenário, revelando que essa nova terra, mencionada em Isaías 65, só se estabelecerá após a manifestação do Senhor em juízo sobre os inimigos de seu povo. No versículo 15, Isaías diz "eis que o SENHOR virá...", e no 16 lemos que “com fogo e com a sua espada entrará o Senhor em juízo com toda a carne; e os mortos do Senhor serão multiplicados”. Esse ato final de justiça divina é necessário para que o mal seja removido, e somente então o cenário de paz descrito nos capítulos 11 e 65 pode se realizar plenamente. Como se sabe, assim como Isaías 65, o capítulo 66 também fala de novo céu e nova terra, mas só após a vinda do Senhor (v. 22). Essa sequência profética está em total harmonia com o pensamento cristão, que ensina que a paz final e universal será estabelecida após o retorno de Cristo, quando ele trará julgamento e renovação sobre este mundo.

Além disso, o profeta Zacarias também confirma essa visão em Zacarias 14, onde descreve um tempo de paz e restauração que ocorrerá após a manifestação do Senhor. Zacarias 14:3-4 afirma: “Então o Senhor sairá e pelejará contra aquelas nações, como pelejou no dia da batalha. Naquele dia, estarão seus pés sobre o monte das Oliveiras, que está diante de Jerusalém”. Assim, fica evidente que a paz plena, que sucede esses versículos do livro desse profeta, segundo as Escrituras, só será possível após o Senhor se manifestar e destruir os inimigos, corroborando com as profecias de Isaías e fortalecendo a visão cristã sobre a vinda do Messias e o estabelecimento do Reino de Deus.

"Naquele dia também acontecerá que correrão de Jerusalém águas vivas, metade delas para o mar oriental, e metade delas para o mar ocidental; no verão e no inverno sucederá. E o Senhor será Rei sobre toda a terra; naquele dia um será o Senhor, e um será o seu nome." (Zacarias 14:8-9)

Até o texto que os judeus valorizam, que fala das nações subindo a Jerusalém para aprender com os judeus, tem um vínculo claro com a descrição de Zacarias 14 e também Isaías 66. Em Isaías 2:2-3, está escrito:

 “E acontecerá que, nos últimos dias, o monte da casa do Senhor será estabelecido no topo dos montes e será exaltado acima das colinas, e todas as nações fluirão para ele. Muitos povos virão e dirão: Vinde, e subamos ao monte do Senhor, à casa do Deus de Jacó; e ele nos ensinará os seus caminhos, e andaremos pelas suas veredas”. 

Essa profecia descreve um futuro em que as nações se voltarão para Deus, buscando sabedoria e orientação. Zacarias 14:16 também menciona que “todos os que restarem de todas as nações que vierem contra Jerusalém subirão de ano em ano para adorar o Rei, o Senhor dos Exércitos, e para celebrar a festa das tabernáculos”.  E não esqueçamos que uma cena idêntica de nações indo a Jerusalém também é apresentada em Isaías 66:23. Mesmo que muitos cristãos optem por dizer que a cena de Zacarias para o milênio, e não na nova terra (o que eu acho válido), a verdade é que, tudo só ocorre após Deus vir em juízo.

 E lembre-se, caro leitor, que assim como os outros textos, Isaías 2 também fala da aparição de Deus em juízo, afirmando: "Entra nas cavernas das rochas e nas fendas da terra, por causa do temor do Senhor e da glória da sua majestade, quando ele se levantar para assombrar a terra" (Isaías 2:19). Como se não bastasse, o próprio capítulo 2, assim como o 66, também menciona o juízo, dizendo: "O Senhor terá um dia contra tudo o que é soberbo e altivo, contra tudo o que se exalta, para que seja abatido" (Isaías 2:12), e "ele julgará entre as nações e repreenderá muitos povos; estes transformarão suas espadas em arados e suas lanças em podadeiras" (Isaías 2:4). Seria, portanto, absurdo imaginar que os textos abordam o mesmo assunto e essa era de nações vindo a Jerusalém descritas no capítulo 2 só ocorrerá quando Deus aparecer em julgamento? Acho que não!

Assim, o que se observa é que a paz e a busca por Deus entre as nações estão ligadas ao juízo e à manifestação do Senhor, confirmando que a plena realização dessas promessas ocorrerá após a derrota dos inimigos do povo de Deus.

Outro texto para consideração, é Miqueias 4. Tanto Miqueias 4 quanto Isaías 2 usam as mesmas palavras ao descrever a elevação do monte da casa do Senhor, que se tornará o centro de adoração para todas as nações. Isaías 2:2 diz: "Nos últimos dias, acontecerá que o monte da casa do Senhor será estabelecido no cume dos montes", e Miqueias 4:1 repete essa ideia ao afirmar que "o monte da casa do Senhor será estabelecido no cume dos montes". Essa visão de Jerusalém como o centro espiritual do mundo é uma esperança comum entre os dois profetas, o que comprova o que sempre sugerimos, como cristãos: paz só quando Jesus voltar, pois ambos falam praticamente do mesmo assunto!

Um outro detalhe importante que ambos os profetas ressaltam é a transformação dos instrumentos de guerra em ferramentas para a agricultura. Isaías 2:4 declara: "E julgará entre as nações, e reprenderá muitos povos; e converterão as suas espadas em arados, e as suas lanças em foices; uma nação não levantará espada contra outra, nem aprenderão mais a guerra". Da mesma forma, Miqueias 4:3-4 diz: "E Ele julgará entre muitos povos e corrigirá nações poderosas e longínquas; e converterão as suas espadas em arados, e as suas lanças em foices; uma nação não levantará espada contra outra, nem aprenderão mais a guerra". Essa transição de objetos de guerra para ferramentas de cultivo simboliza a paz e a prosperidade que resultarão do justo julgamento de Deus.

Essa relação entre os três livros proféticos mostra que a era de paz prometida está diretamente ligada à manifestação do Senhor. O resultado do Seu julgamento será um tempo em que "uma nação não levantará espada contra outra, nem aprenderão mais a guerra" (Miqueias 4:3). Portanto, a restauração e a justiça divina são elementos fundamentais para a realização dessa era de paz, destacando a importância do julgamento de Deus, que traz esperança de um futuro messiânico onde todas as nações se voltarão para Ele em adoração.

Essa é, de fato, a mensagem cristã. Realmente, o Messias veio e morreu pelos nossos pecados, proporcionando a possibilidade de redenção. A Escritura nos alerta que haverá um período de angústia, mas no fim dessa tribulação, Deus se manifestará e trará salvação. Como é dito em Daniel 9:26-27, “e depois das sessenta e duas semanas será cortado o Messias, e não será para si mesmo; e o povo do príncipe que há de vir destruirá a cidade e o santuário; e o seu fim será como uma inundação; e até o fim haverá guerra; desolações estão determinadas”. Assim, a mensagem cristã reafirma que a verdadeira paz só será estabelecida quando a obra redentora de Cristo culminar na manifestação final de Deus, estabelecendo um reino de paz e justiça.

Fechando tudo, a expectativa de uma paz universal e eterna, como retratada nas Escrituras, vai muito além da mera ausência de conflitos; ela se fundamenta na obra redentora de Cristo e na manifestação definitiva de Deus na história. Enquanto a visão ortodoxa judaica anseia por um Messias que traga paz instantânea, a mensagem cristã revela que essa paz é o resultado de um processo divino que culminará em um novo céu e uma nova terra, onde a justiça e a harmonia reinarão. Portanto, ao compreendermos a complexidade das profecias bíblicas e o tempo que Deus estabeleceu para a plena realização de Sua promessa, somos lembrados de que a verdadeira paz não é apenas um ideal distante, mas uma realidade futura que nos convida a perseverar na fé, enquanto aguardamos o retorno do Senhor que trará, enfim, a restauração de todas as coisas. Que essa esperança nos inspire a viver com confiança e a compartilhar a mensagem de redenção que transforma não apenas nosso presente, mas também nosso futuro.




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