Por trás dos símbolos de Daniel 7



A paz do Senhor! Nesta publicação, estarei tratando sobre o famoso texto de Daniel 7, o qual aborda quatro seres monstruosos, simbolizando quatro impérios mundiais (Babilônia, Medo-Pérsia, Grécia e Roma). Esse texto é riquíssimo em detalhes, tendo um pano de fundo para cada símbolo apresentado. Veremos aqui a mentalidade de um judeu da época ao ver o texto que seu irmão, Daniel, escreveu sob a inspiração do Espírito de Deus.

"[3] Quatro animais, grandes, diferentes uns dos outros, subiam do mar. [4] O primeiro era como leão e tinha asas de águia; enquanto eu olhava, foram-lhe arrancadas as asas, foi levantado da terra e posto em dois pés, como homem; e lhe foi dado coração de homem". Daniel 7:3-4 

O primeiro animal, símbolo da Babilônia, que se assemelha ao leão, é simplesmente uma imagem tirada de Jeremias. Daniel era um leitor dos livros desse profeta (Daniel 9:1), e nessa própria parte das Escrituras a Palavra diz sobre a Babilônia que ".... faço vir do Norte um mal, uma grande destruição. Já um leão subiu da sua ramada, um destruidor das nações; ele já partiu, já deixou o seu lugar para fazer da tua terra uma desolação, a fim de que as tuas cidades sejam destruídas, e ninguém as habite". (Jeremias 4:6-7 ARA) Não há dúvidas, portanto, que tal imagem do leão não remonte a esse texto. 

A ilustração das asas também não é algo novo na mentalidade israelita do tempo de Daniel. Afinal, na própria lei de Moisés, falando sobre uma possível rebeldia de Israel futura, Deus afirma que levantaria contra seu povo "uma nação de longe, da extremidade da terra virá, como o voo impetuoso da águia, nação cuja língua não entenderás" (Deuteronômio 28:49 ARA), indicando a velocidade com que tal império os conquistaria. No fim de seu reinado, a Babilônia perdeu seu poder de conquista, o que é muito bem evidenciado pelas asas sendo arrancadas.

" Eis aí que sobe o destruidor como nuvens; os seus carros, como tempestade; os seus cavalos são mais ligeiros do que as águias. Ai de nós! Estamos arruinados!" Jeremias 4:13 ARA

Eu confesso que, em relação ao imagem do coração, sempre foi algo que me gerou dúvidas. Entretanto, quando vemos a Bíblia como um todo, percebemos haja textos parecidos na linguagem e no significado. Ao falar dos homens de Davi, A Bíblia fala do "homem valente, cujo coração é como o de leões" (2Samuel 17:10 ARA). Obviamente, o coração de leão remonta à bravura. Babilônia, no tempo de Nabucodonosor, assim como à águia, rapidamente conquistou rapidamente o mundo conhecido, além de ser um reino "feroz". 

"[5] Eis outro animal, o segundo, semelhante a um urso, que se levantou sobre um dos seus lados e tinha três costelas na boca; e diziam-lhe assim: Levanta-te, devora muita carne." Daniel 7:5 TB

A comparação dos inimigos do povo de Deus com feras, como o leão e o leopardo, é uma imagem poderosa que se estende por várias partes da Bíblia, sendo já ilustrada em Jeremias 5:6, onde se diz que "o leão do bosque os matará, o lobo dos desertos os descreverá, o leopardo vigia as suas cidades." Essa metáfora enfatiza a astúcia e a ferocidade dos adversários de Israel, simbolizando a ameaça iminente que eles representavam. Em Daniel 7, essa mesma simbologia é usada para descrever os reinos e suas características predatórias, refletindo a ideia de que os poderes opressores são como feras que se aproximam e atacam o povo de Deus. Assim, a utilização de animais ferozes para caracterizar os inimigos é uma técnica literária recorrente que sublinha a vulnerabilidade do povo de Deus diante da força e da malignidade de seus opressores, reforçando a necessidade de vigilância e confiança na soberania divina em meio a tais perigos.

"[7] Depois disso, vi nas visões noturnas, e eis um quarto animal, terrível, e espantoso, e sobremaneira forte; tinha grandes dentes de ferro; devorava, e fazia em pedaços, e pisava aos pés o que sobejava; era diferente de todos os animais que o precediam e tinha dez chifres". Daniel 7:7 TB

A escolha do símbolo do "chifre" em Daniel 7 traz um pano de fundo fantástico e rico em significado. Como o próprio livro deixa claro, o chifre pode representar  rei ou reino (Daniel 7:24). Essa dualidade é evidente, pois o termo hebraico "קֶרֶן" (qeren) transmite a ideia de poder e força. Por exemplo, em Salmos 132:17, Deus diz: "Ali farei crescer o chifre de Davi; preparei uma lâmpada para o meu ungido." Nesse versículo, o chifre simboliza a força do reino messiânico que Deus estabelece por meio de Davi. Além disso, o próprio termo "qeren" é frequentemente traduzido como "poder" em vários contextos, inclusive o próprio Salmo 132:17 em muitas versões, o que reforça sua associação com a autoridade e domínio.

Em Jeremias, que foi um dos livros que Daniel costumava ler, vemos a derrota do reino de Moabe associada à imagem do chifre quebrado. Jeremias 48:25 declara: "O chifre de Moabe é quebrado, e a sua força é destruída." Essa comparação enfatiza a fragilidade dos reinos humanos diante do juízo divino, sugerindo que a queda de um chifre está intimamente ligada à ruína do poder que ele representa. Portanto, a figura do chifre em Daniel 7 não apenas reflete a autoridade de um rei, mas também encapsula a dinâmica de ascensão e queda de reinos, mostrando que, apesar das aparências, a soberania de Deus sempre prevalece sobre as nações. Essa poderosa metáfora nos lembra que, em última análise, o verdadeiro controle do mundo pertence ao Senhor, que governa com justiça e autoridade.

Em conclusão, as imagens em Daniel 7 não são apenas símbolos isolados, mas fazem parte de uma história maior que se conecta com outras partes da Bíblia, especialmente com o livro de Jeremias. A imagem do leão, que representa a Babilônia, nos lembra da destruição que veio do norte, descrita por Jeremias. E a ideia de que os poderosos podem perder seu poder é ilustrada pela imagem das asas arrancadas. Além disso, a comparação dos reinos com feras ferozes, como ursos e leopardos, é semelhante à linguagem usada por Jeremias para descrever os inimigos de Israel. Isso mostra que Israel era vulnerável diante de forças poderosas. Por fim, a imagem do chifre, que representa poder e autoridade, nos lembra de que, enquanto os reinos humanos podem subir e cair, o poder de Deus permanece sempre. Essa conexão entre Daniel e outros livros da Bíblia mostra que a mensagem sobre a relação entre os reinos e o poder de Deus é consistente ao longo da história. Isso nos encoraja a confiar na justiça e no controle de Deus sobre o mundo.

Imagem:

Pixabay. (2024). Daniel, profeta, o livro de Daniel [imagem]. Pixabay. Disponível em: https://pixabay.com/pt/illustrations/daniel-profeta-o-livro-de-daniel-8556715/


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