O Deus de amor e o castigo eterno
A doutrina do inferno eterno é frequentemente atacada por muitos movimentos religiosos e não religiosos, argumentando que um Deus de amor não poderia condenar uma pessoa ao sofrimento eterno. Aparentemente, essas pessoas buscam amenizar o desconforto emocional, ao gerar várias afirmações, como Deus simplesmente extinguir os ímpios, eliminando a existência deles, como é o caso dos aniquilacionistas. Além disso, certos grupos muitas vezes apelam ao sentimento humano, afirmando que seria insuportável para uma pessoa saber que um ente querido está sofrendo eternamente no inferno. Contudo, essas objeções ignoram não só a justiça divina, mas também distorcem o conceito bíblico do amor e da santidade de Deus, que exige a justa retribuição pelo pecado. O propósito deste texto é expor a falácia dessa argumentação e reafirmar a verdade bíblica sobre o caráter de Deus, que, embora seja amor, também é justo e santo.
Em primeiro lugar, a punição eterna seria injusta se a salvação não fosse um presente gratuito, mas Deus, em Sua infinita graça, oferece a salvação sem custo algum para o homem. Em outras palavras, ao rejeitar essa dádiva, o ser humano troca algo oferecido sem custos pelo mesmo destino preparado para o diabo e seus anjos. É como se o dono de uma festa te convidasse e pagasse por tudo—viagem, roupas e entrada—mas, por teimosia, você decide que pode ir sozinho, confiando nos seus próprios méritos. A verdade, porém, é que você jamais conseguiria chegar por conta própria. Da mesma forma, ninguém pode alcançar a salvação por seus próprios esforços; é preciso aceitar o que Deus já providenciou. A festa é, portanto, a nova criação, e quem não pode participar dela, ficará de fora!
O conceito de castigo eterno também pode ser compreendido à luz da proporcionalidade divina. Assim como a recompensa para os servos de Deus no Antigo Testamento era a posse da Terra Prometida na Palestina, e no Novo Testamento é a herança do Novo Céu e da Nova Terra, a penalidade para os ímpios no Antigo Testamento era a morte física, mas no Novo Testamento, o castigo é ampliado para algo muito mais severo e definitivo. O autor de Hebreus destaca essa proporcionalidade ao afirmar que aqueles que pisam o sangue do Filho de Deus, profanando o sacrifício redentor de Cristo, receberão um castigo muito maior do que qualquer penalidade descrita na antiga aliança, demonstrando que a gravidade da ofensa está diretamente relacionada à santidade e valor do sacrifício rejeitado (Hebreus 10:29).
Hebreus 10:28-29 ARA
"[28] Sem misericórdia morre pelo depoimento de duas ou três testemunhas quem tiver rejeitado a lei de Moisés. [29] De quanto mais severo castigo julgais vós será considerado digno aquele que calcou aos pés o Filho de Deus, e profanou o sangue da aliança com o qual foi santificado, e ultrajou o Espírito da graça?"
No princípio, Deus criou o mundo e tudo era bom (Gênesis 1:31). Adão e Eva tinham à sua disposição tudo o que precisavam para viver em plenitude (Gênesis 2:16-17). No entanto, movidos pela ambição de serem como Deus (Gênesis 3:5), caíram em desobediência, e, por consequência, a terra foi amaldiçoada por causa do pecado (Gênesis 3:17-19). O homem passou a experimentar a fadiga, o sofrimento e, por fim, a morte (Romanos 5:12). Contudo, na sua infinita misericórdia, Deus não abandonou a humanidade à sua própria ruína. Ele planejou não apenas restaurar a criação, mas fazer uma nova, perfeita e redimida (Apocalipse 21:1-5). E essa nova criação foi prometida de forma graciosa a todos aqueles que, independentemente de suas obras, creem no nome de Seu Filho (Efésios 2:8-9; Romanos 3:22). Assim como Deus visitava Adão no Jardim do Éden, andando com ele no frescor do dia (Gênesis 3:8), agora a promessa é ainda maior: a presença de Deus não será temporária, mas permanente. Na nova criação, Deus habitará para sempre com Seu povo, e não haverá mais separação. "Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Ele habitará com eles, e eles serão o Seu povo, e Deus mesmo estará com eles" (Apocalipse 21:3). Teremos um corpo celestial e moraremos em um mundo bem diferente do que Adão viveu, mesmo a terra sendo, em sua época, um verdadeiro paraíso. A glória da comunhão com Deus será plena, e Ele enxugará toda lágrima, pois a presença do Senhor será perpétua e transformadora (Apocalipse 21:4). E novamente vemos uma questão de proporcionalidade. Enquanto o castigo para Adão foi viver pelo suor do seu rosto em um mundo dominado pelo diabo (2 Coríntios 4:4) e voltar ao pó no fim de seus dias (Gênesis 3:19), é esperado que a consequência da rejeição à nova aliança, a qual tenha promessas superiores, seja maior.
O pior aspecto do inferno, no entanto, não é o fogo, mas, com certeza, a completa ausência do favor divino. Enquanto a presença de Deus traz vida e paz, a separação d’Ele é o verdadeiro tormento. Como exemplo, os jovens de Daniel, ao serem lançados na fornalha de fogo ardente, não foram prejudicados pelas chamas porque a presença de Deus estava com eles (Daniel 3:24-25). O fogo não os atingiu, pois não estavam ausentes de Deus, mostrando que a verdadeira proteção e vida estão na comunhão com o Senhor, e não na ausência de sofrimento físico.
Muitos amigos, como os aniquilacionistas (que acreditam na extinção final dos descrentes), também argumentam que seria insuportável para alguém no novo céu e nova terra saber que seus parentes estão no inferno, sugerindo que tal realidade seria incompatível com a promessa de felicidade eterna. No entanto, humanamente falando, a mesma dificuldade seria encontrada em festejar um novo mundo ao lado de alguém que exterminou seus próprios parentes, ou seja, a questão do sofrimento emocional se aplicaria tanto ao aniquilacionismo quanto à visão tradicional do inferno. Imagine só um parente bem próximo seu chorando aos gritos implorando perdão; você vai, certamente, comover-se, aliás foi seu parente muito próximo na vida passada, que inclusive esteve presente nos maiores momentos de sua vida te apoiando, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença! Mas Deus extermina essa pessoa amada na sua frente, e depois te convida para festejar a nova criação. Que coisa, hein? É triste sabermos que muitos queridos nossos irão se perder, mas a Bíblia, contudo, nos ensina a colocar o amor e a obediência a Deus acima de tudo, como exemplificado no episódio em que os próprios parentes dos adoradores do bezerro de ouro foram ordenados por Moisés a executá-los em fidelidade a Deus (Êxodo 32:27-28). Isso demonstra que a lealdade a Deus e à Sua justiça é superior aos laços familiares (Mateus 10:37-39). Além disso, a Escritura é clara ao afirmar que, na eternidade, Deus enxugará todas as lágrimas dos olhos de Seus servos (Apocalipse 21:4), e Ele é fiel para cumprir Suas promessas de plena restauração e alegria, mesmo que certos parentes estejam simultaneamente sofrendo em algum lugar da existência. Assim, o foco do crente estará na glória de Deus e na consumação de Seu plano perfeito, onde a justiça divina será plenamente reconhecida e aceita por todos os que amam a Deus.
Entretanto, alguém poderia questionar: "Mas Deus não é amoroso?" Sim, sem dúvida. No entanto, em que consiste esse amor? Em poupar os ímpios do castigo ou em entregar Seu próprio Filho amado pelos pecadores? O texto mais conhecido pelos cristãos, João 3:16, aponta claramente para a segunda resposta. Por natureza, o ser humano é um vaso de ira, destinado à condenação. Mas Deus, em Seu imenso amor, deu Seu Filho para nos conceder aquilo que jamais poderíamos merecer: a vida eterna.
Logo, a doutrina do inferno eterno, frequentemente atacada por defensores de um deus "amoroso", é desafiada com base na premissa de que um Deus de amor não poderia condenar almas ao tormento eterno. No entanto, tal visão ignora a justiça divina e distorce o verdadeiro conceito de amor e santidade de Deus. A punição eterna, na verdade, só seria injusta se a salvação não fosse um presente gratuito de Deus, oferecido sem qualquer custo ao homem. Rejeitar essa dádiva é como recusar a entrada em uma festa cujas despesas já foram todas pagas pelo anfitrião, trocando a graça por um destino reservado para o diabo e seus anjos. A proporcionalidade divina se reflete na gravidade do castigo correspondente ao valor do sacrifício rejeitado, e a questão do sofrimento eterno dos parentes não diminui a justiça divina, pois a lealdade a Deus e Sua justiça são superiores aos laços familiares. A Bíblia afirma que, na eternidade, Deus enxugará todas as lágrimas, e o crente focará na glória e na perfeição do plano divino. Assim, a verdade bíblica sobre a justiça e o amor de Deus prevalece, reafirmando que Sua santidade e justiça são integradas em Seu plano eterno.
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