O Anticristo será uma pessoa?

 


A paz do Senhor! Neste texto, estarei abordando um tema que é alvo de inúmeras discussões, que é o fato de o Anticristo será ou não uma pessoa. Para muitos, trata-se apenas de um poder ou sistema que já opera ou operará no fim dos tempos; para outros, principalmente de linha dispensacionalista ou futurista em geral, trata-se de um homem que enganará o mundo e se oporá completamente a tudo que seja relacionado a Deus. Acredito que a última perspectiva seja a que mais se alinhe ao texto sagrado.

"[36] O rei fará como lhe der na vontade; exaltar-se-á, e se engrandecerá sobre todo o deus, e falará coisas maravilhosas contra o Deus dos deuses, e prosperará até que se cumpra a indignação; pois se fará o que está determinado". (Daniel 11:36 TB)

"[3] Ninguém de modo algum vos engane; porque o dia não chegará sem que venha primeiro a apostasia e seja revelado o homem da iniquidade, o filho da perdição, [4] aquele que se opõe e se levanta contra tudo o que se chama Deus ou é objeto de adoração, de sorte que se assenta no santuário de Deus, ostentando-se como Deus". (2Tessalonicenses 2:3-4 TB)

 Em primeiro lugar devemos analisar a identidade da pessoa do fim do capítulo 11 de Daniel. Um argumento que reforça a identidade do rei de Daniel 11:36 como o Anticristo é a correlação direta com 2 Tessalonicenses 2. Assim como no texto de Daniel, onde o rei se exalta acima de todos os deuses e fala coisas inaceitáveis contra o Deus dos deuses (Daniel 11:36-37), em 2 Tessalonicenses, o Anticristo se opõe e se exalta acima de tudo o que se chama Deus ou é objeto de adoração, sentando-se no templo de Deus e proclamando-se Deus (2 Tessalonicenses 2:3-4). Além disso, a sequência dos eventos narrados em Daniel 11 e 12 mostra que, após a queda desse rei (Daniel 11:45), ocorre a ressurreição (Daniel 12:2), sugerindo uma conexão direta com os eventos escatológicos e reforçando a identificação desse rei com o Anticristo.

Diante disso, o que indica que o Anticristo é uma pessoa individual, e não um reino ou sistema mundial, está no próprio contexto de Daniel 11. Embora o termo "rei" possa, em alguns casos, ser entendido como reino, o capítulo 11 é explícito ao apresentar reis como indivíduos. Alexandre, o Grande, mencionado como um rei sem descendentes para herdar o trono, é claramente uma pessoa (Daniel 11:4), e as referências aos reis do Norte e do Sul, incluindo sua filha no caso do último, reforçam o caráter pessoal dessas figuras (Daniel 11:6). Especificamente, o rei do versículo 36 é descrito no mesmo contexto dos demais reis, e a menção aos pais ou antepassados do Anticristo e à sua adoração a um deus específico (Daniel 11:37-38) também apontam para uma figura individual, não para algo. 

Alguém pode sugerir que, pelo fato de o Anticristo, descrito como um rei em Daniel 11:36, ser comparado aos reis do Sul e do Norte no versículo 40, ele representaria a própria dinastia ou cargo que regeria o mundo no fim, e não um monarca específico. Nessa perspectiva, quando se fala desse rei, o texto estaria falando do conjunto de pessoas que ocuparia esse cargo específico durante o período determinado. No entanto, esse argumento não se sustenta, principalmente devido à curta duração de seu reinado. Apocalipse 13:5 deixa claro que o poder mundial do Anticristo será exercido por apenas 42 meses, o que é insuficiente para simbolizar uma dinastia ou reino extenso, que normalmente perdura por gerações. O tempo limitado de seu governo aponta claramente para uma figura pessoal, e não para uma entidade coletiva ou simbólica.

Outros aspectos também corroboram com a perspectiva do Anticristo pessoal. A personalidade do Anticristo é reforçada pelo uso de termos como "homem da iniquidade" (2 Tessalonicenses 2:3), o que sugere uma figura individual, responsável por ações de rebelião e apostasia. Além disso, o título "filho da perdição", aplicado tanto ao Anticristo quanto a Judas Iscariotes (João 17:12), também corrobora essa perspectiva, pois Judas foi uma pessoa real que encarnou a traição. O fato de alguém querer ser um deus ao ponto de se assentar no Templo de Deus aponta para uma personalidade da mesma forma. Assim, o uso desses termos favorece a ideia de que o Anticristo não é um reino ou sistema, mas um indivíduo que exercerá poder maligno no fim dos tempos. Além disso, João compara o Anticristo final com os muitos anticristos que surgiram no passado, mencionando que esses anticristos eram pessoas que se afastaram da verdade (1 João 2:18, 22). Se considerarmos que esses anticristos foram indivíduos, faz sentido concluir que o Anticristo final também será uma pessoa. É incoerente supor que os anticristos históricos, que eram indivíduos, representem apenas a manifestação de um sistema, enquanto o Anticristo final, descrito de forma similar, seria um conceito impessoal. A consistência na descrição dos anticristos ao longo das Escrituras favorece a interpretação de que o Anticristo final também será uma pessoa individual.

Elicott faz um comentário muito pertinente:

"Ele é uma única pessoa. Isso também está envolvido na frase 'Homem do Pecado', especialmente quando seguido por 'Filho da Perdição'. Não se deve negar que poeticamente o primeiro título, de qualquer forma, pode ser uma personificação de um movimento, ou (como os 'reis' em Daniel significam 'reinos') o título de um poder perverso, cuja cabeça pode até ser mais inocente do que seus súditos. Mas não só é mais simples entender as próprias frases (especialmente a segunda) de uma única pessoa, mas o forte contraste dramático entre o Cristo e o Anticristo parece exigir uma exibição pessoal do mal. O Anticristo terá uma vinda ( 2Tessalonicenses 2:9 ) e uma manifestação ( 2Tessalonicenses 2:3 ), de modo a ser imediatamente reconhecido, e se exibirá por atos significativos ( 2Tessalonicenses 2:4 ), que requerem uma pessoa. Além disso, os tipos dele — Antíoco, Calígula, Nero, etc. — dificilmente poderiam ser ditos, de acordo com a analogia das Escrituras, como sendo 'cumpridos' em um mero movimento sem cabeça. A aplicação do nome 'Homem do Pecado' a qualquer sucessão de homens (como, por exemplo, todos os Papas de Roma) é peremptoriamente proibida pelo fato de que a detecção e destruição do Homem do Pecado pelo Advento de Cristo segue imediatamente após sua manifestação de si mesmo". (Comentário Bíblico de Ellicot).

Embora alguns argumentem que o fato de o Anticristo ser simbolizado pela besta, que representa os sete impérios mundiais, sugira que ele seja um sistema e não uma pessoa, a própria simbologia da besta demonstra o contrário. Ao analisar os textos, percebemos que o símbolo do animal pode representar tanto um reino quanto seu governante. A besta, enquanto símbolo, abrange os reinos históricos e o último império (Apocalipse 17:8), mas em Apocalipse também se refere a uma figura específica que liderará esse império final.

Assim como o dragão representa tanto os reinos que o diabo governa quanto o próprio diabo como líder, a besta simboliza tanto o império final quanto seu imperador. Essa dualidade é evidente na cabeça de ouro da estátua de Daniel 2, que simboliza não apenas o império babilônico, mas também o imperador Nabucodonosor (Daniel 2:38).

Além disso, o diabo, que é uma figura pessoal, é descrito como um dragão com características semelhantes às da besta, como cabeças e chifres (Apocalipse 12:3; 13:1). E ninguém argumenta que Satanás seja um sistema; ele é o ser pessoal por trás de todos os impérios que perseguem o povo de Deus. Da mesma forma, a besta aponta para um indivíduo real: o Anticristo, que governará esse último império.

Neste texto, abordamos o tema controverso sobre se o Anticristo será uma pessoa ou apenas um sistema. Embora algumas correntes de pensamento vejam o Anticristo como um poder ou sistema, a análise das Escrituras sugere que o Anticristo será, de fato, uma pessoa. O capítulo 11 de Daniel e 2 Tessalonicenses 2:3-4 mostram claramente que o Anticristo é descrito como um "homem" que se opõe a Deus e é comparado a outros reis humanos, evidenciando sua individualidade. A breve duração de seu reinado, conforme indicado em Apocalipse 13:5, reforça a ideia de um indivíduo específico, não um sistema ou dinastia extensa. Além disso, termos como "homem da iniquidade" e "filho da perdição", aplicados ao Anticristo e a Judas Iscariotes, indicam uma figura pessoal, não uma entidade abstrata. João também faz uma comparação entre o Anticristo final e os muitos anticristos passados, todos indivíduos reais. Finalmente, a simbologia da besta e do dragão, que representa tanto o império quanto seu líder, reforça que o Anticristo é um ser pessoal. Assim, a consistência nas Escrituras e as evidências contextuais sustentam a interpretação de que o Anticristo será uma pessoa individual que exercerá um poder maligno nos últimos tempos.

Referências:

Autor. Garoto Crânio Assustada Guerra. Pixabay, 2024. Disponível em: https://pixabay.com/pt/illustrations/garoto-cr%C3%A2nio-assustada-guerra-8837519/. Acesso em: 19 set. 2024.

Ellicott, C. J. Commentary on 2 Thessalonians 2. Bible Hub. Disponível em: https://mail.biblehub.com/commentaries/ellicott/2_thessalonians/2.htm. Acesso em: 19 set. 2024.




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