O problema do tormento temporário e proporcional seguido de aniquilação

 


A paz do Senhor! A paz do Senhor! Hoje estarei falando de um crença muito propagada no meio evangélico, que é a doutrina do tormento temporário e proporcional seguido de aniquilação dos ímpios. Por acharem a crença num tormento eterno incompatível com o caráter de um "deus justo", muitos passaram a crer que o tormento do ímpio será equivalente aos pecados de cada um, tendo como continuidade a extinção definitiva do iníquo. Procede isso? Nem um pouco!

Pra começar, é uma crença totalmente fora de fundamento lógico. Ora, se a pessoa vai pagar proporcionalmente por seus pecados no fogo, qual motivo de elas serem aniquiladas após isso? Imagine um ladrão que passa cinco anos na prisão pagando pelos seus crimes. Quando terminar esses crimes, ele tem o total direito de voltar à liberdade. Mas alguém poderia sugerir que a pessoa seria aniquilada por não ter Cristo. Entretanto, aí teríamos outro problema, pois a causa de sermos condenados é o nosso pecado, e se a pessoa já pagou proporcionalmente por eles no fogo, não haveria razão para uma segunda condenação. Neste ponto, universalistas seriam até mais coerentes.

Outro problema a ser destacado é a falta de fundamento bíblico. Sim, meus irmãos, não temos um texto sequer que menciona um tormento temporário e proporcional seguido de aniquilação. Alguns sugerem vergonhosamente a passagem abaixo:

‭Lucas 12:39-48 A21‬

[39]  Sabei, porém, isto: se o dono da casa souber a hora que o ladrão virá, ele vigiará e não o deixará entrar em casa. [40]  Estai vós também preparados; pois o Filho do homem virá numa hora em que não o esperais. [41] Então Pedro perguntou: Senhor, dizes essa parábola a nós ou também a todos? [42]  O Senhor respondeu: Qual é o administrador fiel e prudente, que o senhor encarregará dos seus servos para lhes dar alimento no tempo certo? [43]  Bem-aventurado o servo a quem seu senhor, quando vier, encontrar fazendo assim. [44]  Em verdade vos digo que o encarregará de todos os seus bens. [45]  Mas, se aquele servo disser no coração: O meu senhor demora para voltar; e começar a espancar os criados e as criadas, e a comer, a beber e a embriagar-se, [46]  virá o senhor desse servo num dia em que ele não espera, e numa hora que ele não sabe, e o despedaçará, e lhe dará o destino dos infiéis. [47]  O servo que conhecia a vontade do seu senhor e não se preparou, nem agiu conforme a sua vontade, será castigado com muitos açoites; [48]  mas o que não a conhecia, e fez coisas que mereciam castigo, será castigado com poucos açoites. A quem muito é dado, muito será exigido; e a quem muito se confia, mais ainda se pedirá. 

E quando eu digo que o uso dessa passagem é vergonhoso, é porque é vergonhoso mesmo. Por exemplo, a maioria dos aniquilacionistas não admitem que usemos a parábola de O Rico e Lázaro para fundamentarmos doutrinas. Contudo, quando pedimos provas para as suas crenças esquisitas, o que restará será outra parábola. É o que chamamos de teologia da conveniência. 

E se você pensa que isso é tudo, está completamente enganado. Segundo a lei de Deus, o que acontecia quando alguém recebia açoitadas ou cajadadas do seu senhor? Era executado após ou era solto? Vamos deixar a Bíblia responder?

‭Êxodo 21:26 A21‬

[26] Se alguém ferir o olho do seu escravo ou escrava, e o cegar, lhe dará a liberdade por causa do olho.

‭Deuteronômio 25:1-3 A21‬

[1]    Quando algumas pessoas estiverem em conflito e forem a julgamento, o inocente deve ser inocentado, e o culpado deve ser condenado. [2]  E, se o culpado merecer chicotadas, o juiz mandará que ele se deite e seja chicoteado na sua presença, de acordo com a gravidade da sua culpa. [3]  Poderás dar-lhe até quarenta chicotadas, não mais; pois, se recebesse mais do que isso, teu irmão seria humilhado aos teus olhos.

Como visto, as açoitadas nos servos ou escravos eram corretivas e limitadas. Pela ausência de um texto específico sobre um tormento temporário e proporcional seguido de aniquilação, a gente poderia criar a interpretação que quisesse. Por exemplo, eu poderia supor que algumas pessoas, no juízo final, por cometerem pecados horríveis, seriam aniquiladas, pegando gancho no versículo 46 e outros textos que os aniquilacionistas amam (Ml 4:1), e afirmar que outras apenas receberiam um castigo temporário e proporcional para depois irem para o céu, como fazem os católicos com a doutrina do purgatório. E até a lei  de Moisés daria respaldo para isso, já que nela havia penas corretiva e de morte.

Como vemos, a ausência de um texto claro faz a pessoa inventar a crença que lhe convém. Este não é o caso do tormento eterno, o qual há vários textos que falam sobre ele (Ap 14:10 e 20:10). Poderemos sugerir que, dentro dessa tortura eterna, poderá haver diferentes graus punição. Mas é claro que deveremos ter sempre em mente que, embora baseadas em fatos reais, nem sempre podemos pegar as parábolas na sua totalidade para dizer que assim como está nela poderá acontecer no futuro:

‭Mateus 18:8 A21‬

[8]  Portanto, se a tua mão ou o teu pé te fizer tropeçar, corta-o e joga-o fora; para ti é melhor entrar na vida defeituoso ou aleijado do que, tendo duas mãos ou dois pés, ser lançado no fogo eterno.

É claro que ninguém irá sugerir que iremos entrar no céu defeituoso, não é mesmo? Qualquer leitor aqui acreditará que na ilustração de Jesus, o foco está em fazer de tudo para não ir para aquele lugar, e não que a possibilidade de entrar aleijado no céu. O mesmo poderemos sugerir com Lucas 12. O foco é a vigilância em relação à vinda do Senhor; mas se esse grau de castigo pode ser interpretado literalmente, ele deve ser interpretado à luz de outros textos, ou seja, esse grau de punição deve estar dentro do tormento eterno. Essa perspectiva é totalmente alinhada ao ensino bíblico pelo fato de as pessoas que vão para o castigo eterno (Mt 25:46) chamarem Cristo de Senhor (v. 44), ou seja, são eles servos negligentes, assim como descrito por Lucas. E eu não sei se você percebeu, mas ao afirmar um tormento temporário seguido de aniquilação, a pessoa estar afirmando que haja dois castigos (um temporário e outro eterno em consequências).

Há também a possibilidade de as chicotadas serem um símbolo de exigência, já que a frase a quem muito é dado, muito será exigido; e a quem muito se confia, mais ainda se pedirá (v. 48) parece ser uma conclusão de tudo e também é aplicada em Mateus 25:29. Ou seja, embora o servo infiel tenha como destino as trevas (Mt 25:30), as cobranças seriam diferentes por receberem dons igualmente diferentes.

Há mais outro texto? Sim, há outro texto utilizado! Veja abaixo:

‭Mateus 5:25-26 A21‬

[25]  Entra logo em acordo com o teu adversário, enquanto estás com ele a caminho do tribunal; para que ele não te entregue ao juiz, e o juiz ao guarda, e sejas lançado na prisão. [26] Em verdade te digo que de maneira nenhuma sairás dali enquanto não pagares o último centavo

O uso deste trecho cai no mesmo erro do anterior: aniquilacionista, que não aceita o uso de parábola para fundamentar crenças, atirando no próprio pé. Isso porque, depois de pagar a dívida,  pessoa pessoa era liberta, e não executada. Isso fica claro em outro texto que aborda o mesmo tema, como é o caso da parábola do "Credor Sem Compaixão" (Mt 18:27). Em outras palavras, nem na literalidade a parábola não serve para provar um tormento temporário e proporcional seguido de aniquilação. Porém, como sabemos, todo ser humano tem uma dívida com Deus que só será paga com o sangue de Cristo. Ou seja, o homem nunca pagará e nunca sairá dali (Mt 5:26):

Todavia, sempre há aqueles que são criativos, e, para tentarem validar sua convicções teológicas, costumam colocar a gente em uma "saia justa", tipo "Há, e sobre a Trindade? Você não crê? Pois é, mas não há texto falando que Deus seja três pessoas!". Bem, primeiramente não utilizamos textos duvidosos para defender a trindade, pois os textos usados por eles são mais pró-universalismo do que pró-aniquilacionismo. E sobre a Trindade, há texto que diz que existe um único Deus (Is 45:6), que ele fez tudo sozinho (Is 44:24), deste Deus falando no plural na criação (Gn 1:26) e três pessoas na criação (Jo 1:1-3, Sl 104:30). Não é difícil chegar a uma conclusão trinitariana, não é mesmo?

O que sobrará será um "Frankstein". Eles pegam textos que até eles condenariam para outras interpretações, como as parábolas, e que seriam até mais coerentes com o universalismo se forem interpretas na sua literalidade. Depois, pegam passagens com Malaquias 4:1 e outros que, se forem interpretados na sua literalidade, denotam punições repetinas, e não temporárias, como eles querem. Na realidade, a maioria dos textos aniquilacionistas, se forem interpretados na literalidade, denotam mais uma destruição instantânea, como é o caso de Sodoma e Gomorra, que eles amam citar constantemente, do que algo que passa um tempo para depois ser destruído. Veja, o caso de Sodoma e Gomorra, muito usado por eles como parâmetro; mas a Bíblia é enfática em destacar a rapidez de sua destruição (Lm 4:6).

Como observado, nenhum texto bíblico traz a ideia de um tormento temporário e proporcional seguido de aniquilação. O que vemos é um Frankstein feito de passagens e parábolas que praticamente estão longe de sugerir o que eles professam. E o pior: sem lógica nenhuma, porque é totalmente absurdo Deus extinguir alguém que já pagou pelos seus pecados. Se você pensa como essa vertente teológica, nunca é tarde para rever os conceitos e abraçar uma crença que esteja em mais harmonia com a Bíblia. Fiquem com Deus!

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Só 144 mil morarão no céu?

O Decálogo nas duas alianças

Destruídos ou perdidos?