Gálatas 4 e os feriados judaicos
Para começar, nada melhor do que vermos o texto discutido:
Gálatas 4:9-11 TB
[9] mas, agora, conhecendo a Deus ou, antes, sendo conhecidos por Deus, como estais voltando outra vez aos rudimentos fracos e pobres, aos quais vos quereis ainda, de novo, escravizar? [10] Guardais dias, e meses, e tempos e anos. [11] Temo-me de vós não tenha eu trabalhado para vós em vão.
Aparentemente, o texto parece ser realmente claro sobre o
assunto, mostrando Paulo até decepcionado no verso 11. Ademais, toda a epístola
aos Gálatas refere-se a um povo que quer se justificar pela Lei. Ao falar em é rudimentos
e escravizar, há uma clara relação com o início da carta, em que os
mesmos termos são aplicados à Lei:
Gálatas 4:1-5 TB
[1] Mas digo que o herdeiro, enquanto menino, em nada difere de um escravo, embora seja senhor de tudo; [2] mas está debaixo de tutores e curadores, até o tempo designado por seu pai. [3] Assim também nós, quando éramos meninos, estávamos guardados em escravidão debaixo dos rudimentos do mundo; [4] mas, quando veio o cumprimento do tempo, enviou Deus a seu Filho, nascido de mulher, nascido debaixo da Lei, [5] a fim de resgatar os que estavam debaixo da Lei, para que recebêssemos a adoção de filhos.
Entretanto, todo esse argumento parece encontrar uma pedra no caminho, que é o próprio texto verso anterior:
Gálatas 4:6-8
TB
[6] Porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai. [7] Assim, não és mais escravo, porém filho; mas, se filho, também herdeiro por Deus. [8] Porém, naquele tempo, não conhecendo a Deus, vos fizestes escravos dos que por natureza não são deuses;
Com base nas palavras acima, alguns sugerem que o texto esteja
falando de feriados pagãos, e não judaicos. O verso acima é um notório exemplo
do que Pedro falou sobre as cartas de Paulo:
2Pedro 3:15-16
TB
[15] e tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor, como o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada, [16] como faz também em todas as suas epístolas, nelas falando disso, nas quais há algumas coisas difíceis de entender, que os indoutos e inconstantes torcem, como o fazem também com as demais Escrituras, para a sua perdição.
Sabendo que Paulo escreveu algumas coisas difíceis de
entender, poderemos averiguar o contexto geral para vermos qual interpretação
seja a correta. Para isso, vou dar um exemplo. Vamos supor esteja recebendo uma
carta de um judeu ortodoxo chamado Yossef. Esse judeu, por ser estrangeiro, não
teria uma ortografia muito boa, e também não é muito bom em comunicação. Ele
escreve uma carta pra você falado sobre um amigo chamado João, que não é judeu:
“João amou o jantar. O bacon estava otimo amigo.”
Você logo chegará à conclusão de que “O bacon estava ótimo,
amigo” não é a opinião de Yossef, mas de João, que não é judeu ortodoxo. Por
quê? Porque judeus não comem bacon.
A mesma linha de raciocínio pode ser aplicada aqui. Qual era
o problema dos Gálatas? O texto é claro:
Gálatas 5:4 TB
[4] Estais já separados de Cristo, vós que vos
justificais pela Lei; decaístes da graça.
E é só raciocinar: Os Gálatas queriam se justificar pela
lei, que condena veementemente a idolatria. Logo, não há possibilidade de eles
estarem guardando festas pagãs.
O capítulo 4 termina com uma alegoria de escravidão ligada à lei:
Gálatas 4:21-31 TB
[21] Dizei-me vós, os que quereis estar debaixo da Lei: não ouvis a Lei? [22] Pois está escrito que Abraão teve dois filhos, um da mulher escrava e o outro da livre. [23] Mas o da escrava nasceu segundo a carne, porém o da livre, por meio da promessa. [24] As quais coisas são uma alegoria; pois essas mulheres são duas alianças; uma, na verdade, do monte Sinai, que dá à luz filhos para a escravidão e que é Agar. [25] Ora, esta Agar é o monte Sinai, na Arábia, e corresponde a Jerusalém atual, pois está em escravidão com seus filhos. [26] Mas a Jerusalém que é lá de cima é livre, a qual é nossa mãe, [27] pois está escrito: Regozija-te, ó estéril, que não dás à luz, esforça-te e clama, tu que não estás de parto; porque mais são os filhos da desolada que os daquela que tem marido. [28] Vós, irmãos, sois, como Isaque, filhos da promessa. [29] Mas, como, então, o que nasceu segundo a carne perseguia ao que nasceu segundo o Espírito, assim também é agora. [30] Que diz, porém, a Escritura? Lança fora a escrava e a seu filho, porque o filho da escrava não será herdeiro com o filho da livre. [31] Por isso, irmãos, não somos filhos da escrava, mas da livre.
Mas como interpretar o verso 8?
O bom das cartas de Paulo é que, por serem numerosas, os mesmos
assuntos são repetidos em outras cartas:
Romanos 8:13-16 TB
[13] Se viverdes segundo a carne, haveis de morrer; mas, se pelo Espírito mortificardes as obras do corpo, vivereis. [14] Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, estes são filhos de Deus. [15] Não recebestes o espírito de escravidão, para estardes outra vez com temor, mas recebestes o espírito de adoção, pelo qual clamamos: Aba, Pai. [16] O Espírito mesmo dá testemunho com o nosso espírito de que somos filhos de Deus.
O trecho é idêntico a Gálatas:
Gálatas 4:4-7 TB
[4] mas, quando veio o cumprimento do tempo, enviou Deus
a seu Filho, nascido de mulher, nascido debaixo da Lei, [5] a fim de resgatar
os que estavam debaixo da Lei, para que recebêssemos a adoção de filhos.
[6] Porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito de
seu Filho, que clama: Aba, Pai. [7] Assim, não és mais escravo,
porém filho; mas, se filho, também herdeiro por Deus.
Em Romanos a liberdade pela adoção está em contraste com a escravidão do pecado; já em Gálatas, está em contraste com a escravidão da lei. Podemos certamente deduzir que a liberdade em Cristo é um princípio que podemos aplicar contra qualquer sistema de obediência fora do cristianismo.
Pegando "gancho" no assunto da liberdade em Cristo, a forma de entender Gálatas 4:8 é muito bem esclarecida nas palavras do teólogo BOB UTLEY:
Isto é um presente indicativo ativo de um termo grego que reflete o conceito do AT ( shuv , BDB 996) de arrependimento (voltar atrás). Este versículo contém a palavra stoicheia , como em 4:3. Eles estavam trocando a escravidão do paganismo pela escravidão do judaísmo como meio de salvação. Tanto o judaísmo como o paganismo estavam sujeitos à stoicheia (ver nota no v. 8)! Estas estruturas mundiais caídas são completamente inadequadas para trazer a salvação.
Os stoichea são descritos como “fracos e sem valor”, o que é
paralelo a Cl 2:15,20.
4:10 “Vocês observam dias, meses, estações e anos “Isto é um
presente do indicativo médio representando uma ação contínua, neste caso, uma
observância religiosa pessoal e escrupulosa – uma referência ao calendário
religioso judaico (cf.Cl 2:16). Esses gálatas estavam trocando um calendário
religioso (pagão) por outro (judaico). A compreensão que Paulo tinha do
evangelho permitiu-lhe aplicar a verdade a diferentes situações. A situação nas
igrejas da Galácia exigia que Paulo se opusesse ao legalismo e à justiça pelas
obras.
Curiosamente, essa realidade mostrada na carta ao Gálatas ainda continua presente nos dias atuais. Muitos amados amigos saem do catolicismo, famoso por cultos e festas aos santos, e migra para seitas judaizantes.
Outra prova estaria na forma em que Paulo apresenta a progressão: dias, meses, tempos, anos. Está estrutura é muito semelhante com a descrita em Colossenses:
Colossenses 2:16-17 ARC
[16] Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados, [17] que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo.
Mas respondendo a primeira pergunta da publicação, sim, Gálatas 4:9-11 é utilizado de forma correta pelos cristãos como texto-prova para a não obrigatoriedade da guarda dos feriados judaicos pelos cristão. Junto com ele, Colossenses 2:16,17 seriam as passagens mais claras sobre o assunto. Todo o contexto aponta para um povo que queria se justificar pela lei. É totalmente sem sentido imaginar que esse povo fosse idólatra e legalista ao mesmo tempo.
Fonte da imagem AQUI.
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