O que é batismo no Espírito Santo?
Lucas 3:16
"[16] respondeu João a todos, dizendo: Eu, na verdade, batizo-vos em água, mas eis que vem aquele que é mais poderoso do que eu, a quem eu não sou digno de desatar a correia das sandálias; este vos batizará no Espírito Santo e fogo."
O que seria?
O batismo no Espírito Santo é um tema central no Novo Testamento e desempenha um papel significativo na vida dos cristãos. Para entender melhor o conceito e a prática desse batismo, é essencial examinar os textos bíblicos que o abordam. Neste estudo, focaremos especialmente nas passagens de Mateus 3 e Lucas 3, que fornecem definições e contextos distintos sobre o batismo no Espírito Santo. A partir dessas escrituras, buscaremos elucidar o significado, a importância e as implicações desse batismo para a vida cristã, além de explorar como essas passagens se relacionam com a obra do Espírito Santo na vida dos crentes. Mas surge a pergunta: Seria o batismo no Espírito Santo apenas a salvação ou algo diferente?
Com base nos relatos de Mateus 3 e Lucas 3, o entendimento sobre o batismo no Espírito Santo se torna mais claro quando analisamos outras passagens da Bíblia que ampliam a compreensão desse tema. Em Lucas 24:49, Jesus orienta seus discípulos a permanecerem em Jerusalém até que sejam "revestidos de poder do alto", descrevendo o batismo no Espírito como uma capacitação especial para a missão. Já em Atos 1:8, Ele reforça essa promessa ao dizer: "Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e ser-me-eis testemunhas...". Esse revestimento de poder se revela indispensável para o testemunho e a obra dos apóstolos, mostrando que o batismo no Espírito Santo não é apenas uma experiência espiritual, mas uma capacitação para viver e compartilhar a fé cristã.
Em Atos 1:5, Jesus menciona aos discípulos que, "daqui a poucos dias", seriam batizados no Espírito Santo. O cumprimento dessa promessa acontece em Atos 2, no dia de Pentecostes, quando os discípulos são revestidos pelo Espírito Santo. Nesse momento, há uma manifestação visível do batismo no Espírito, marcada pela descida do Espírito sobre os apóstolos, acompanhada de dons espirituais e uma notável ousadia para anunciar a mensagem cristã. Este evento cumpre a promessa de Jesus, destacando o papel central do batismo no Espírito Santo para fortalecer e capacitar a comunidade cristã em sua missão no mundo.
Mas o batismo no Espírito Santo não seria o mesmo que salvação?
O livro de Atos continua a mostrar que pessoas já convertidas ainda não tinham passado pelo batismo no Espírito Santo. Em Atos 8:14-16, lemos que "os apóstolos que se achavam em Jerusalém, tendo ouvido que a Samaria recebera a palavra de Deus, enviaram-lhe a Pedro e a João; os quais foram para lá e oraram por eles, para que recebessem o Espírito Santo; porque sobre nenhum deles havia ainda ele descido, mas somente tinham sido batizados em nome do Senhor Jesus". Embora já tivessem recebido a Palavra e sido batizados, o Espírito Santo ainda não havia descido sobre eles, reforçando que o batismo no Espírito é uma experiência distinta da conversão inicial. A mesma expressão é usada em Atos 10:44-47, onde "enquanto Pedro ainda falava essas coisas, desceu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra". A admiração dos crentes judeus foi grande, pois "também sobre os gentios foi derramado o dom do Espírito Santo". Esses eventos mostram que o batismo no Espírito Santo, marcado pela descida do Espírito, era uma experiência que seguia a conversão e não fazia parte do ato de salvação, mas de capacitação espiritual. A própria expressão "também sobre os gentios foi derramado o dom do Espírito Santo" mostra um vínculo com o ocorrido em Atos 2.
Alguns irmãos tradicionais tentam usar o verso de 1 Coríntios 12:13 para validar a crença de que todos os crentes são batizados no Espírito Santo no momento da conversão: "Em um só Espírito, fomos batizados/imersos todos nós em um só corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres; e a todos nós foi dado beber dum só Espírito". No entanto, o texto não fala do batismo no Espírito Santo, mas do batismo no corpo de Cristo. O agente do batismo no Espírito Santo, conforme explicado por João Batista, é Jesus. Já em 1 Coríntios 12, o Espírito é o agente que batiza o crente no corpo de Cristo, como o próprio texto explica: "Mas todas essas coisas opera um só e o mesmo Espírito, distribuindo a cada um particularmente como lhe apraz. Pois, assim como o corpo é um e tem muitos membros, e todos os membros do corpo, embora muitos, constituem um só corpo, assim também é Cristo". A função do Espírito é formar o corpo, imergindo cada crente como membro. Uma linguagem semelhante é usada em Gálatas 3:27-28: "porque tantos quantos fostes batizados em Cristo vos revestistes de Cristo... todos vós sois um em Cristo Jesus". Dizer que esse batismo é o mesmo de Atos 8 seria afirmar que os samaritanos, mesmo após crerem e serem batizados nas águas, só se tornaram cristãos após a imposição de mãos dos apóstolos, o que é uma conclusão absurda.
O que foi descrito acima já desmonta outro argumento tradicional frequentemente utilizado com base em Efésios 1:13: "em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa". É evidente que o "ter" o Espírito mencionado em Efésios 1:13, assim como em Romanos 8:9, não pode ser entendido no mesmo sentido do revestimento descrito em Atos, que também é tido como receber o Espírito. Há uma clara distinção entre a presença do Espírito que sela a salvação e o batismo no/ recebimento do Espírito que confere poder para a missão. Por exemplo, Apolo (Atos 18:19-24) já era um crente dedicado e demonstrava os frutos do Espírito em sua vida (Gálatas 5:19-23), mas ainda não tinha passado pela experiência do batismo no Espírito. Isso mostra que é comum que expressões idênticas sejam aplicadas em contextos diferentes, como no caso do Salmo 47:8, que afirma que "Deus é rei sobre todas as nações", em contraste com Zacarias 14:9, que diz que o "Senhor será Rei sobre toda a terra" apenas no fim dos tempos. De forma semelhante, em João 14:16-17, Jesus fala da promessa do Espírito Santo como um companheiro permanente para os crentes: "Eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Paráclito, a fim de que esteja para sempre convosco, o Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê, nem o conhece; vós o conheceis, porque ele habita convosco e estará em vós". Esses textos indicam que o "ter" o Espírito em Efésios e Romanos refere-se à habitação permanente e ao selo da salvação, enquanto o batismo no Espírito Santo descrito em Atos refere-se a uma capacitação específica e adicional.
O Antigo Testamento
Ao contrário do que muitos pensam, o fenômeno do derramamento do Espírito Santo já ocorria no Antigo Testamento, embora de forma limitada. Em Números 11, Deus ordena a Moisés que reúna setenta anciãos de Israel para que Ele tire do Espírito que estava sobre Moisés e o reparta entre eles. Quando o Espírito repousou sobre esses homens, eles profetizaram, mas isso não foi um evento contínuo: "Quando o Espírito repousou sobre eles, profetizaram; porém nunca mais o fizeram" (Números 11:25). Esse derramamento parcial do Espírito é claramente idêntico ao que vemos em Atos 19, quando Paulo impôs as mãos sobre alguns crentes, e o Espírito Santo desceu sobre eles, fazendo com que falassem em línguas e profetizassem (Atos 19:6).
No entanto, um aspecto de grande relevância no texto de Números é a declaração de Moisés: "Quem dera que todo o povo do Senhor fossem profetas, que o Senhor lhes desse o seu Espírito!" (Números 11:29). Moisés expressa o desejo de que o Espírito fosse derramado sobre todos, e não apenas sobre um grupo seleto. Esse anseio encontra seu cumprimento na profecia de Joel, que anuncia uma nova era: "Depois derramarei o meu Espírito sobre toda a carne; e vossos filhos e filhas profetizarão, os vossos velhos terão sonhos, os vossos jovens terão visões. E também sobre os servos e sobre as servas, derramarei o meu Espírito" (Joel 2:28-29). O derramamento do Espírito sobre todas as classes sociais e idades, como profetizado por Joel, marca a diferença entre o Antigo e o Novo Testamento. Em Atos 2, Pedro confirma o cumprimento dessa profecia durante o Pentecostes, dizendo: "Isto é o que foi dito pelo profeta Joel: nos últimos dias, diz Deus, derramarei do meu Espírito sobre toda a carne" (Atos 2:16-17). O Espírito Santo, que antes era dado sob medida, passou a ser derramado de forma abundante e irrestrita, cumprindo o desejo de Moisés e a promessa de Joel.
A polêmica em cima da evidência
Este é um dos assuntos mais controversos dentro do continuacionismo pentecostal e carismático. Isso porque alguns seguirão o padrão bíblico, observando que, em todos os registros de enchimento do Espírito, as pessoas no Antigo Testamento profetizavam, e no Novo Testamento falavam em línguas. Em suma, tanto línguas quanto profecias são elocuções proféticas, e essa ala defende que as línguas servem como evidência dessa imersão no Espírito Santo.
Outros, no entanto, baseiam-se no texto de 1 Coríntios 12:30: “Têm todos o dom de curar? Falam todos línguas? Interpretam todos?”, interpretando isso como uma pergunta retórica, onde a resposta seria "não". Uma continuação dessa perspectiva geralmente destaca que, embora nem todos tenham o dom regular de falar em línguas, o batismo no Espírito Santo, como um evento inicial, é acompanhado por sinais visíveis e evidentes, conforme visto em Atos 8:18, onde até Simão percebeu que o Espírito foi concedido. Ambas as perspectivas, portanto, concordam que o batismo no Espírito é algo perceptível e notório para todos os que presenciam o fenômeno.
A Função das Línguas
A Bíblia apresenta duas funções claras para o dom de línguas. A primeira é o evangelismo, como visto em Atos 2:9-11, onde os discípulos falavam em idiomas que eram entendidos por várias nações reunidas em Jerusalém, proclamando "as grandezas de Deus" em línguas compreensíveis por seus ouvintes. Aqui, as línguas servem como um meio de comunicação sobrenatural para anunciar o evangelho a pessoas de diversas culturas.
A segunda função, no entanto, é a edificação pessoal, conforme descrito em 1 Coríntios 14:4: "O que fala língua estranha edifica-se a si mesmo, mas o que profetiza edifica a igreja". Esta função revela um aspecto mais privado e íntimo do dom, onde a oração em línguas, embora possa não ser compreendida pelos ouvintes, serve para fortalecer espiritualmente o indivíduo que fala.
Muitos críticos da interpretação pentecostal argumentam que as línguas deveriam ser sempre entendidas como idiomas conhecidos e que o fenômeno em Atos 2 se limita a essa função. No entanto, uma interpretação mais ampla reconhece que o dom de línguas possui múltiplos aspectos. Ele pode ser tanto um dom de evangelismo em contextos missionários, onde Deus capacita alguém a falar em um idioma conhecido por outros, quanto um dom de oração pessoal ou congregacional, no qual a pessoa fala mistérios a Deus (1 Coríntios 14:2). Essa pluralidade de usos do dom reflete sua natureza diversa e sobrenatural, mostrando que o falar em línguas vai além de uma única função e pode se manifestar de diferentes formas conforme a necessidade e a vontade do Espírito.
Não faz sentido que o dom de línguas seja simplesmente aprender um novo idioma, pois, em muitos casos, a própria pessoa que fala não entende o que está dizendo, e ainda assim se edifica, como ensina 1 Coríntios 14:2 e 14:4. O fato de que aquele que fala em línguas "não fala aos homens, mas a Deus" e "edifica-se a si mesmo" demonstra que o dom vai além de apenas conhecer idiomas humanos. Ele envolve um aspecto espiritual profundo, onde o Espírito intercede de forma sobrenatural, sendo uma manifestação de múltiplos dons, tanto para edificação pessoal quanto para o evangelismo, conforme 1 Coríntios 12 e Atos 2.
É inegável que, mesmo aqueles que resistem à visão pentecostal, terão de reconhecer as múltiplas funções do dom de línguas. Afinal, se a edificação espiritual estivesse simplesmente ligada à pronúncia de palavras desconhecidas, qualquer pessoa poderia ler um texto em um idioma estrangeiro e experimentar o mesmo efeito — o que claramente não acontece.
Como adquirir o batismo no Espírito Santo
Mais do que debater sobre a evidência do batismo no Espírito Santo ou a natureza das línguas, o foco deve estar em buscar essa promessa e permitir que Deus se manifeste em nossas vidas. A maneira mais eficaz de buscar essa promessa é pedindo diretamente àquele que a prometeu. Jesus ensina em Lucas 11:9-13:
“Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á; porque qualquer que pede recebe; e quem busca acha; e a quem bate, abrir-se-lhe-á. E qual o pai dentre vós que, se o filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou também, se lhe pedir peixe, lhe dará por peixe uma serpente? Ou também, se lhe pedir um ovo, lhe dará um escorpião? Pois, se vós, sendo maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais dará o Pai celestial o Espírito Santo àqueles que lho pedirem!” (Lucas 11:9-13).
Neste ensinamento, Jesus utiliza o verbo "pedir" que, no contexto do batismo no Espírito Santo, está diretamente ligado à promessa de "receber", como vemos em Atos 19. A palavra "pedir" é fundamental, pois destaca a ação do crente em buscar ativamente o dom de Deus. No encontro de Paulo com alguns discípulos em Éfeso, ele pergunta se eles já haviam "recebido" o Espírito Santo após crerem (Atos 19:2). Aqui, o "receber" é a consequência direta do "pedir" e do crer, reforçando que o batismo no Espírito Santo é uma promessa que está disponível para aqueles que o buscam de coração sincero e com fé.
Em conclusão, a distinção clara entre o batismo no Espírito Santo e a salvação é fundamental para uma compreensão plena do papel do Espírito na vida do crente. Enquanto a salvação é a obra de Deus que nos reconcilia com Ele e nos concede a vida eterna, o batismo no Espírito Santo é uma experiência adicional, que confere poder e capacitação para o cumprimento da missão cristã e para uma vida espiritual mais profunda. A salvação é um presente que recebemos ao crer em Cristo, mas o batismo no Espírito Santo é uma promessa que, às vezes, requer busca ativa e oração, conforme orientado por Jesus em Lucas 11:9-13. Assim, buscar o batismo no Espírito Santo não é apenas uma questão de receber um dom, mas de permitir que Deus nos equipe e nos fortaleça para viver e testemunhar a fé de maneira mais eficaz. Portanto, a busca sincera por esta experiência é essencial para uma vida cristã plena, marcada pela presença e pelo poder do Espírito Santo em nossas vidas.
Comentários
Postar um comentário