O obreiro, seu salário e o século 1
A paz do Senhor! Hoje, faremos uma análise bíblica sobre a vida de um missionário ou presbítero do século 1, com o objetivo de traçar um paralelo entre o ministério no período apostólico e o desempenhado pelos pastores nos dias atuais.
Em 1 Coríntios 9:1-15, Paulo defende vigorosamente seu apostolado e o direito dos obreiros de serem sustentados pelo evangelho:
"Não sou eu livre? Não sou apóstolo? Não vi Jesus, nosso Senhor? Não sois vós a obra do meu ministério no Senhor? [...] Quem vai à guerra à sua própria custa? Quem planta uma vinha e não come do seu fruto? Quem apascenta um rebanho e não se alimenta do leite do rebanho? [...] Aqueles que servem no templo não vivem do templo? Da mesma forma, o Senhor ordenou que os que pregam o evangelho vivam do evangelho." (1 Coríntios 9:1-15, TB)
Embora Paulo afirme que os obreiros têm o direito de serem sustentados, ele opta por não usar desse direito em seu próprio ministério, para não colocar qualquer obstáculo ao evangelho de Cristo. Ele cita a Lei de Moisés, que diz: "Não atarás a boca do boi enquanto debulha", uma metáfora que ilustra o princípio de que aqueles que trabalham para o Reino devem ser mantidos por ele.
Essa mesma ideia é reforçada por Paulo em 1 Timóteo 5:17-18:
"Os presbíteros que lideram bem devem ser considerados dignos de dupla honra, especialmente os que se dedicam à pregação e ao ensino. Pois a Escritura diz: 'Não atarás a boca ao boi quando debulha' e 'O trabalhador é digno do seu salário.'"
Paulo reafirma o princípio de que os obreiros da Palavra merecem ser sustentados pela comunidade. O trabalho de pregação e ensino, que é de extrema importância espiritual, é digno de reconhecimento e provisão material.
Esse paralelo entre o ministério apostólico e o pastoral moderno nos lembra que, desde o início da Igreja, o sustento dos líderes espirituais sempre foi visto como algo justo e necessário. Portanto, a missão de pregar o evangelho e cuidar das igrejas continua a ser uma tarefa que exige dedicação, e os que a desempenham merecem ser sustentados, conforme o modelo bíblico. Agora, o próximo passo é entender como o sustento dos homens de Deus ocorria no século 1, ou seja, como eles eram mantidos em sua missão. Lucas nos oferece uma explicação clara:
"Se houver ali um filho da paz, sobre ele repousará a vossa paz; mas, se não houver, ela voltará para vós. Fiquem naquela casa, comendo e bebendo o que vos oferecerem, pois digno é o trabalhador do seu salário. Não fiquem mudando de casa em casa. Em qualquer cidade em que entrarem e forem recebidos, comam o que vos oferecerem." (Lucas 10:6-8 TB)
Esse princípio também é observado na prática no capítulo anterior:
"Logo depois, Jesus passou por várias cidades e povoados, proclamando as boas-novas do Reino de Deus. Com Ele iam os doze e também algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e enfermidades: Maria, chamada Madalena, de quem saíram sete demônios; Joana, esposa de Cuza, administrador de Herodes; Susana e várias outras, que contribuíam para o sustento de Jesus com seus bens." (Lucas 8:1-3 TB)
Em Lucas 10, a mesma expressão usada por Paulo destaca que o "salário" do obreiro é o suprimento de suas necessidades enquanto ele realiza a obra missionária, sendo acolhido na casa de irmãos na fé. Paulo, em várias ocasiões, também seguiu esse modelo de sustento:
"Despojei outras igrejas, recebendo delas salário para vos servir. E quando estive convosco, mesmo passando necessidades, não fui um peso para ninguém, pois os irmãos que vieram da Macedônia supriram o que me faltava. Em tudo me guardei e continuarei a me guardar de vos ser pesado." (2 Coríntios 11:8-9 TB)
Paulo reforça que, em algumas situações, preferiu depender do apoio de outras igrejas para não ser um fardo para aqueles a quem ele servia diretamente. Isso demonstra a harmonia entre o direito ao sustento e a escolha consciente de aliviar a comunidade local, um exemplo que ainda hoje pode nos ensinar sobre a relação entre a missão e o sustento dos obreiros de Deus.
Como vimos até agora, o "salário" de um missionário no século 1 era simplesmente o direito de ser sustentado enquanto realizava a obra, recebendo abrigo e alimentação na casa de um irmão em Cristo. Era algo comum naquele tempo. A extravagância que vemos hoje, com banquetes e uso impróprio de recursos dos fiéis, simplesmente não existia naquela época. O que deveríamos fazer é seguir o mandamento de Deus:
"Já vos escrevi, em carta, que não deveis associar-vos com os fornicadores. De modo algum quis dizer com os fornicadores deste mundo, ou com os avarentos, roubadores, ou idólatras, pois nesse caso teríeis de sair do mundo. Mas agora vos escrevo que não vos associeis com alguém que, dizendo-se irmão, for fornicador, avarento, idólatra, maldizente, bêbado ou roubador; com tal pessoa nem sequer comais." (1 Coríntios 5:9-11 TB)
O problema de muitos é acreditar que esse versículo se aplica apenas aos membros da igreja, quando, na verdade, o princípio é válido para todos. Outro texto que muitos limitam à membresia é o seguinte:
"Quando ainda estávamos convosco, vos ordenamos isto: se alguém não quer trabalhar, também não coma. Ouvimos que alguns entre vós andam desordenadamente, não trabalhando, mas se intrometendo nos negócios alheios. A esses tais ordenamos e exortamos, no Senhor Jesus Cristo, que, trabalhando tranquilamente, comam o seu próprio pão. Vós, irmãos, não vos canseis de fazer o bem. Se alguém não obedecer à nossa palavra nesta carta, notai-o, e não vos associeis com ele, para que se envergonhe. Todavia, não o considereis como inimigo, mas admoestai-o como irmão." (2 Tessalonicenses 3:10-15 TB)
Percebeu? Ninguém é obrigado a sustentar pastores preguiçosos e avarentos, que não estudam, não visitam os fiéis e não cumprem suas funções eclesiásticas. A regra de Paulo é clara: quem não trabalha não come. Isso se aplica a todos na igreja. E aqui as coisas ficam interessantes: alguns acreditam que deixar de contribuir financeiramente é errado, mas, por outro lado, sustentar quem é preguiçoso também é pecado, segundo as palavras de Paulo (as quais espero que todos os leitores considerem inspiradas!)
Reflexão: Será que a única forma de contribuir na igreja é entregar dinheiro nas mãos de alguém irresponsável?
Por outro lado, nos dias atuais, se a comunidade optar, de livre e espontânea vontade, por sustentar alguém em tempo integral para que ele possa exercer suas funções pastorais de forma mais eficaz, não vejo problema algum nisso. Afinal, o que importa é o crescimento espiritual de todos. Essa deve ser a meta de toda a comunidade evangélica. O que não podemos aceitar é a situação lamentável que observamos ao nosso redor, em que pastores exigem dinheiro dos membros, enquanto os contribuintes muitas vezes nem sabem para onde suas ofertas estão sendo direcionadas. Esse sistema acaba sendo mais sombrio que o do mundo. No mínimo, fora da igreja, existe mais transparência para os que contribuem.
Veja a incoerência: nós, que somos chamados para ser luz do mundo, carecemos da mesma transparência em nossas contribuições que os filhos das trevas praticam. O fiel faz a doação, e o pastor, muitas vezes, utiliza os recursos sem prestar qualquer tipo de satisfação. Nenhuma organização secular permitiria algo assim. Mas, lamentavelmente, alguns crentes caem nessa armadilha.
Infelizmente, estamos vivendo em um cenário que já havia sido profetizado:
"Por avareza, com palavras tingidas, farão de vós negócio; a condenação desses, já de longo tempo, não tarda, e a sua destruição não dorme." (2 Pedro 2:3 TB)
É tempo de atentarmos para as palavras sagradas e não cairmos nas mentiras de oportunistas.
Pois esses homens são falsos apóstolos, obreiros fraudulentos, disfarçando-se em apóstolos de Cristo. E não é de se admirar, pois o próprio Satanás se transforma em anjo de luz. Portanto, não é surpreendente que seus ministros também se disfarçam como ministros de justiça; o fim deles será conforme as suas obras. (2 Coríntios 11:13-15 TB)
Em resumo, percebemos que a vida missionária no início da igreja era radicalmente diferente do luxo que presenciamos hoje. Tudo era simples, e o "salário" era apenas o direito de ter as necessidades básicas supridas enquanto se fazia a vontade de Deus nas jornadas missionárias. Que essa reflexão bíblica nos leve a reconsiderar o contexto atual e a buscar uma vida mais alinhada com os ensinamentos apostólicos. Se você tem o desejo de acumular patrimônio, então o melhor caminho não é buscar o Reino de Deus com essa intenção, mas investir em um negócio secular. Isso é muito mais louvável e de acordo com os princípios bíblicos.
Comentários
Postar um comentário