Jeremias 17:27 e o fogo que não se apaga

 

fonte AQUI

A paz do Senhor! Hoje abordarei a tentativa de conectar passagens do Antigo Testamento com o fogo eterno com o intuito de tirar a ideia de eternidade de certos textos da Bíblia, tática de certos movimentos aniquilacionistas. O texto principal para essa interpretação encontra-se em Jeremias. Vejamos:

"Se, porém, não me ouvirdes para santificardes o dia do sábado e para no dia do sábado cessardes de trazer carga e entrar com ela pelas portas de Jerusalém; acenderei fogo nas portas dela, fogo que devorará os palácios de Jerusalém e não se apagará". Jeremias 17:27 TB

Obviamente , o fogo dos portões de Jerusalém apagaram após as chamas os devorar. Com isso, alguns argumentam que o fogo não se apagará até consumir os ímpios no inferno. Uma ideia similar a essa seria o famoso ditado “Que o amor seja eterno enquanto dure!”. Assim, o fogo seria eterno enquanto durasse ou eterno em consequências.

Vale ressaltar que, embora expressões sejam parecidas na Bíblia, é necessário ver se o contexto que as rodeiam favorecem interpretá-las igualmente. Vejamos uma expressão parecida com a de Jeremias, mas com significado diferente:

"O fogo sobre o altar se conservará aceso; não se apagará. O sacerdote nele acenderá lenha todos os dias pela manhã; sobre ele porá em ordem o holocausto e sobre ele queimará a gordura das ofertas pacíficas".  Levítico 6:12 TB

O texto acima mostra um fogo que estaria todos os dias aceso no Templo, sendo as expressão parecidas mas em contexto completamente diferente de Jeremias 17:27. É muito mais provável que a ideia que Jeremias quis exprimir é simplesmente de que o fogo não se apagaria, não porque ele era eterno em consequências, até mesmo porque Jerusalém foi restaurada posteriormente, mas que ele não se extinguiria porque foi aceso pelo próprio Deus. Um exemplo similar se encontra no próprio livro de Ezequiel:

"E dize à floresta do Neguebe: Ouve a palavra do SENHOR; assim diz o Senhor Deus: Eis que acenderei em ti um fogo, que consumirá toda árvore verde e toda árvore seca; não se apagará a chama flamejante, e serão queimados nela todos os rostos, desde o sul até ao norte. E verá toda carne que eu, o SENHOR, o acendi; não se apagará."Ezequiel 20:47-48 (ARA)

Uma passagem com entendimento idêntico pode ser observada em Apocalipse 3:7, em que Jesus declara que abre e ninguém fecha. O que as Escrituras querem nos dizer é que ninguém pode fechar ou abrir, não porque esse ato é eterno em consequências, mas porque quem abriu foi o próprio Jesus. Da mesma forma podemos sugerir sobre os textos do fogo que não se apagaria que Deus acendera.

Mas alguém poderia sugerir que assim como o contexto de Jeremias, as passagens do fogo eterno falam de juízo. Agora veremos as passagens para comparação:

"Portanto, se a tua mão ou o teu pé te faz tropeçar, corta-o e lança-o fora de ti; melhor é entrares na vida manco ou aleijado do que, tendo duas mãos ou dois pés, seres lançado no fogo eterno". Mateus 18:8 ARA

"E, se tua mão te faz tropeçar, corta-a; pois é melhor entrares maneta na vida do que, tendo as duas mãos, ires para o inferno, para o fogo inextinguível E, se um dos teus olhos te faz tropeçar, arranca-o; é melhor entrares no reino de Deus com um só dos teus olhos do que, tendo os dois seres lançado no inferno (geena), onde não lhes morre o verme, nem o fogo se apaga". Marcos 9:43, 47-48 ARA

A passagem de Jeremias deixa bem claro que o fogo não apagaria até devorar os portões. Ou seja, as portas seriam o combustível desse fogo. Já aqui, o ímpio será lançado no [lugar onde] fogo [é] eterno. Não é o ímpio que será componente físico de um fogo que nunca se apaga, assim como os portões, mas é característica do lugar que o ímpio será lançado ter um fogo com essa característica. Pensar no ímpio como combustível de fogo, além de ingênuo (corpos não são inflamáveis, não é mesmo?), também é desconhecer a procedência do fogo, que é do próprio Deus. O verbo lançar e as preposições no, onde e para deixam bem claro que a perspectiva aniquilacionista de pegar Jeremias 17:27 para interpretar os textos relacionados ao fogo eterno são falhas. 

 Outro ponto que merece destaque é o fogo que não se apaga estar relacionado à geena. Geena era um lixão publico de Jerusalém que passava o ano inteiro queimando. Logo, a percepção do ouvinte de Jesus não era de um fogo que não se apagava até consumir o ímpio, mas de algo que estaria aceso continuamente.

Em resumo, a tentativa aniquilacionista, a princípio, parece inteligente, mas é falha em não observar o contexto em que a expressão, embora parecida, esteja inserida. Enquanto Jeremias e até Ezequiel diz que o fogo não se apagaria porque foi Deus quem o acendeu, os texto de Mateus e Marcos tratam da característica do fogo daquele lugar. Não será o ímpio o combustível de um fogo que não se apaga, mas ele que será lançado num lugar onde o fogo não se apaga.

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