Os Aniquilacionistas e o Fogo Consumidor de Hebreus
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"Porque, se vivermos deliberadamente em pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados; pelo contrário, certa expectação horrível de juízo e fogo vingador prestes a consumir os adversários" Hebreus 10:26-27, ARA
"Porque o nosso Deus é fogo consumidor" Hebreus 12:29, ARA.
A paz do Senhor a todos os meus irmãos! Hoje abordarei dois textos muito queridos pelos nossos amigos aniquilacionistas: Hebreus 10:26-27 e Hebreus 12:29. Por serem os únicos que mencionam o fogo consumindo ou destruindo em um contexto de juízo, esses versículos são frequentemente usados como "prova" de que o fogo não causará tormento eterno, mas sim a extinção dos ímpios. Mas será que isso é verdade?
Para começar, o próprio contexto imediato de Hebreus 10 já enfraquece o aniquilacionismo. Nos versículos 28 e 29 lemos:
"Sem misericórdia morre pelo depoimento de duas ou três testemunhas quem tiver rejeitado a lei de Moisés. De quanto mais severo castigo cuidais vós será julgado merecedor aquele que pisou o Filho de Deus."
Ou seja, o autor de Hebreus afirma que o castigo vindouro será ainda mais severo do que a morte, que era a pena aplicada sob a Lei de Moisés. Se a punição final fosse simplesmente a extinção, como poderia ser considerada pior do que a morte física?
Como se não bastasse, Hebreus 6:2 menciona o "juízo eterno". O termo grego para "juízo" (kríma) não se limita apenas à sentença, mas inclui também a execução da pena. Um bom exemplo disso está nas palavras de Pedro, quando afirma que o juízo começou pela casa de Deus (1 Pedro 4:17), referindo-se às tribulações enfrentadas pelos cristãos — provas reais e concretas, não meras decisões formais. Logo, "juízo eterno" implica em uma punição contínua e duradoura, não em um ato momentâneo de destruição.
A ideia de Hebreus 10:27, que em parte é uma citação de Isaías 26:11, parece mostrar que o fogo está personificado. Isso combina totalmente com Hebreus 12:29, onde lemos que o próprio Deus é fogo consumidor.
E essa ligação entre as passagens é ainda mais forte do que imaginamos. Se os versículos 28 e 29 de Hebreus 10 comparam o juízo da antiga aliança com o da nova, veja como isso se encaixa perfeitamente com a descrição de Hebreus 12:25:
"Vede que não rejeiteis ao que fala; porque, se não escaparam aqueles que rejeitaram o que sobre a terra os advertia, muito menos nós, se nos desviarmos daquele que dos céus nos adverte."
O texto de Hebreus 12:25 fala do juízo divino que alcançou os desobedientes, dos quais nenhum escapou. Curiosamente, Hebreus 10:29 retoma uma linguagem tirada de Deuteronômio 4, onde os juízos de Deus — mencionados no versículo 25 — são associados a Ele como fogo devorador.
"[23] Tenham o cuidado de não se esquecer da aliança que o Senhor, seu Deus, fez com vocês. Não façam para si nenhuma imagem esculpida, semelhança de alguma coisa que o Senhor, o Deus de vocês, proibiu. [24] Porque o Senhor, o Deus de vocês, é fogo consumidor, é Deus zeloso. [25] — Quando, pois, gerarem filhos e tiverem netos, e já estiverem muito tempo na terra, e se corromperem, e fizerem alguma imagem esculpida, semelhança de alguma coisa, e praticarem o que é mau aos olhos do Senhor, o Deus de vocês, para o provocar à ira, [26] hoje tomo o céu e a terra por testemunhas contra vocês, que vocês serão imediatamente eliminados da terra da qual, passando o Jordão, vocês tomarão posse. Vocês não prolongarão os seus dias nela; pelo contrário, serão totalmente destruídos. [27] O Senhor os espalhará entre os povos, e restarão apenas alguns de vocês entre as gentes aonde o Senhor os levará. [28] Lá, vocês servirão a deuses que são obra de mãos humanas, madeira e pedra, que não veem, nem ouvem, nem comem, nem cheiram. [29] De lá, vocês buscarão o Senhor, seu Deus, e o acharão, quando o buscarem de todo o coração e de toda a sua alma. [30] Quando estiverem em angústia, e todas estas coisas lhes sobrevierem nos últimos dias, e vocês se voltarem para o Senhor, seu Deus, e lhe atenderem a voz, [31] então o Senhor, o Deus de vocês, não os abandonará, porque é Deus misericordioso, nem os destruirá, nem se esquecerá da aliança que jurou aos pais de vocês." Deuteronômio 4:23-31, NAA
Em outras palavras, todo o juízo divino — manifestado em mortes, pragas e exílios, dos quais ninguém escapou — é comparado à ação de um fogo devorador, que representa o próprio Deus em sua justiça. Algo semelhante é observado em Deuteronômio 32:22, onde o fogo da ira de Deus é simbolizado por diversos instrumentos de juízo, como pestes e feras (Dt 32:24), a espada (Dt 32:25) e até mesmo o exílio (Dt 32:26-27).
Alguém poderia argumentar que, conforme está Hebreus 12:26-28, o fato de Deus abalar o céu e a terra — uma referência à sua futura destruição, conforme declarado em 2 Pedro 3:10-12 e Apocalipse 21:1 — incluiria também os ímpios nesse abalo. No entanto, ao analisarmos Apocalipse 20:11-12, vemos que, enquanto o céu e a terra fogem da presença de Deus, os mortos, grandes e pequenos, permanecem de pé diante d’Ele para o juízo. Além disso, em Êxodo 19:18, quando Deus abalou a terra, a referência é exclusivamente ao abalo físico do monte Sinai, e não a uma destruição de pessoas.
Mas, mesmo que ignoremos a linguagem figurada de juízo e assumamos que o termo “consumir” deva ser interpretado literalmente, isso ainda não favorece o aniquilacionismo. Alguém poderia sugerir que, em Isaías 26, o juízo divino é semelhante ao descrito em Isaías 29:6, onde Deus vem com trovões, terremoto e chamas devoradoras, ou ainda a Isaías 66:15-16, onde Ele aparece em meio ao fogo para executar juízo. No entanto, o que vemos em Isaías 66:24 são corpos em contínua exposição, com seu verme e fogo agindo mês após mês — uma imagem de julgamento perpétuo, não de extinção. Algo semelhante ocorreu com os filhos de Arão: o fogo saiu do Senhor e os “devorou” (Levítico 10:2), mas, mais adiante, seus corpos ainda estavam intactos, a ponto de serem carregados com suas túnicas (Levítico 10:4-5). Isso mostra que o “devorar” pelo fogo divino nem sempre significa aniquilação ou redução a nada.
Para mais detalhes sobre os textos de Isaías, recomendo O Conceito de Céu e Inferno em Isaías
Concluindo, vemos que a visão daqueles que acreditam no extermínio dos ímpios se desmorona quando analisamos o contexto completo. Em primeiro lugar, a própria Bíblia deixa claro que o castigo final é mais severo do que a morte e envolve um juízo eterno. Além disso, a imagem do fogo consumidor reflete mais o aspecto figurado da justiça divina em ação do que uma literalidade nas passagens. Ou seja, assim como Deus puniu severamente na antiga aliança, sem que ninguém escapasse, o mesmo ocorrerá agora; essa impossibilidade de escapar é representada pela ação de um fogo devorador, simbolizando a implacável e imutável justiça de Deus.
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