O [mau] uso aniquilacionista de Isaías 66: 24 e 2 Tessalonicenses 1: 9 e os cadáveres indestrutíveis


A paz do Senhor! Hoje falarei sobre dois textos que são praticamente uns dos alicerces do aniquilacionismo: Isaías 66: 24 e 2 Ts 1: 9. Para quem não sabe, aniquilacionismo é a doutrina que nega o tormento eterno dos ímpios, colocando no lugar disso a sua completa extinção. É, na verdade, a heresia do momento, tendo simpatizantes, não só adventistas e testemunhas de Jeová, mas pessoas de várias denominações , além de ser crido por leigos e teólogos renomados. Sobre os textos em questão, 2 Ts 1: 9  é usado dando muita ênfase no termo “destruição” (do grego “oletros”); já Isaías 66: 24 é geralmente utilizado para dizer que o fogo não se apaga enquanto não consome os cadáveres dos ímpios, contrastando nossa ideia e tentando explicar as seguintes passagens:

E, se um dos teus olhos te faz tropeçar, arranca-o; é melhor entrares no reino de Deus com um só dos teus olhos do que, tendo os dois seres lançado na geena, onde não lhes morre o verme, nem o fogo se apaga. Marcos 9:47-48

Portanto, se a tua mão ou o teu pé te faz tropeçar, corta-o e lança-o fora de ti; melhor é entrares na vida manco ou aleijado do que, tendo duas mãos ou dois pés, seres lançado no fogo eterno. Se um dos teus olhos te faz tropeçar, arranca-o e lança-o fora de ti; melhor é entrares na vida com um só dos teus olhos do que, tendo dois, seres lançado na geena de fogo. Mateus 18:8-

Mas vamos aos textos?

se, de fato, é justo para com Deus que ele dê em paga tribulação aos que vos atribulam e a vós outros, que sois atribulados, alívio juntamente conosco, quando do céu se manifestar o Senhor Jesus com os anjos do seu poder, em chama de fogo, tomando vingança contra os que não conhecem a Deus e contra os que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus. Estes sofrerão penalidade de eterna destruição, banidos da face do Senhor e da glória do seu poder, quando vier para ser glorificado nos seus santos e ser admirado em todos os que creram, naquele dia (porquanto foi crido entre vós o nosso testemunho). 2Tessalonicenses 1:6-10 ARA

Primeiramente, o que devemos fazer é saber de onde Paulo tirou essas expressões. E temos duas passagens que serão relevantes para o estudo e comparação:

Vós o vereis, e o vosso coração se regozijará, e os vossos ossos revigorarão como a erva tenra; então, o poder do Senhor será notório aos seus servos, e ele se indignará contra os seus inimigos. Porque eis que o Senhor virá em fogo, e os seus carros, como um torvelinho, para tornar a sua ira em furor e a sua repreensão, em chamas de fogo, porque com fogo e com a sua espada entrará o Senhor em juízo com toda a carne; e serão muitos os mortos da parte do Senhor. Isaías 66:14-16 ARA

Como visto, é inegável que quando Paulo escreveu sua segunda carta, não tinha em mente essa passagem. E o pano de fundo de Isaías 65: 15 é encontrado em Naum, texto que fala da invasão Assíria, em que este império foi massacrado em instantes:

Ai da cidade sanguinária, toda cheia de mentiras e de roubo e que não solta a sua presa! Eis o estalo de açoites e o estrondo das rodas; o galope de cavalos e carros que vão saltando; os cavaleiros que esporeiam, a espada flamejante, o relampejar da lança e multidão de traspassados, massa de cadáveres, mortos sem fim; tropeça gente sobre os mortos. Naum 3:1-3 ARA

No entanto, o fogo ali te consumirá, a espada te exterminará, consumir-te-á como o gafanhoto. Ainda que te multiplicas como o gafanhoto e te multiplicas como a locusta; Naum 3:15 ARA

O "Comentário Bíblico sobre o Antigo Testamento de Keil e Delitzsch" traz uma nota importante sobre Isaías 66: 15:

Ele é comparado a um guerreiro, dirigindo carros de guerra semelhantes a ventos tempestuosos, que forçam tudo para fora de seu caminho e esmagam em pedaços tudo o que passa sob suas rodas. O plural מרכּבתיו (Seus carros) provavelmente não é apenas amplificador, mas um plural estrito; pois Jeová, o Único, pode se manifestar em amor ou ira em diferentes lugares ao mesmo tempo. A mesma cláusula substantiva מרכבתיו וכסופה ocorre em Jeremias 4:13 , onde não é usada por Jeová, mas pelos caldeus.

Acabou? Não! Além de Isaías 66: 15, outro e segundo texto texto que Paulo faz alusão é Êxodo 33:

Então, ele disse: Rogo-te que me mostres a tua glória. Respondeu-lhe: Farei passar toda a minha bondade diante de ti e te proclamarei o nome do Senhor; terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia e me compadecerei de quem eu me compadecer. E acrescentou: Não me poderás ver a face, porquanto homem nenhum verá a minha face e viverá. Êxodo 33:18-20 ARA

Note que os mesmos elementos de 2 Tessalonicenses, glória e face, são apresentados nesse texto. Diante de tudo isso, creio que a tradução “de eterna destruição da face do Senhor e da glória do seu poder” seja a mais coerente, como está na “New King James”, ou seja, que a destruição seria causa pela glória e face do Senhor, pois todos os textos apontam para um Rei que vem demolindo seus adversários, como ocorreu com Nínive, além das passagens abaixo parecer reforçar ainda mais essa ideia:

Pois que, quando disserem: Há paz e segurança, então, lhes sobrevirá repentina destruição, como as dores de parto àquela que está grávida; e de modo nenhum escaparão. 1Tessalonicenses 5:3 ARC

Ae, então, será revelado o iníquo, a quem o Senhor desfará pelo assopro da sua boca e aniquilará pelo esplendor da sua vinda; 2Tessalonicenses 2:8 ARC

Um estudo mais aprofundado pode ser visto numa página aniquilacionista AQUI e AQUI.

Um aniquilacionista nessa hora, deve estar pulando de alegria. Entretanto, o negócio não acaba só aí. Note que o verso 24 de Isaías 66 é uma continuação do pensamento do 15:

Porque eis que o Senhor virá em fogo, e os seus carros, como um torvelinho, para tornar a sua ira em furor e a sua repreensão, em chamas de fogo, porque com fogo e com a sua espada entrará o Senhor em juízo com toda a carne; e serão muitos os mortos da parte do Senhor. Isaías 66:15-16 ARA

E será que, de uma Festa da Lua Nova à outra e de um sábado a outro, virá toda a carne a adorar perante mim, diz o Senhor. Eles sairão e verão os cadáveres dos homens que prevaricaram contra mim; porque o seu verme nunca morrerá, nem o seu fogo se apagará; e eles serão um horror para toda a carne.

Isaías 66:23-24 ARA

Repetindo o que falei anteriormente, a figura representada é de um rei que vem com seu exército e mata à espada seus inimigos e depois incendeia seus corpos ficando expostos fora de Jerusalém. Se levarmos ao pé da letra o que os aniquilacionistas sugerem, teríamos o seguinte:

*Jesus viria e mataria (à espada ou com sua glória- aí já seria outro problema para os aniquilacionistas saberem) os ímpios e os incendiaria;

*Passaria um milênio e construção do universo com muuuuito fogo (2 Pd 3: 7)!;

*E depois de mil anos e da reconstrução do mundo (advinha!), estariam esses corpos (ainda!) pegando fogo. Isso mesmo, Isaías 66: 24 está no contexto de novo céu e nova terra! Que corpos resistentes, hein? Seria um tormento de cadáver eterno?

Na realidade , o aniquilacionismo fica encurralado, pois teria de decidir como seria essa destruição dos ímpios durante a vinda de Jesus; se seria pela glória, por espada ou até mesmo pelo sopro do Rei. O mais bizarro é que muitos acreditam que os ímpios sofreriam um destruição permanente na vinda de Cristo, e, depois do milênio, seria ressuscitados para receberem outra destruição permanente. Isso não é só ilógico; é ridículo! Como a pessoa pode receber duas destruições eternas? Já que a primeira destruição eterna só durou mil anos, quem garante que esse povo não possa ser restaurado depois da segunda destruição, não é?

Acabou? Nem um pouco. Mesmo se aceitássemos essas duas destruições eternas em que uma é temporária e a outra não é, o problema dos cadáveres indestrutíveis continuaria. Boa parte dos aniquilacionistas acreditam que o mesmo fogo de Apocalipse 20: 9 seja o mesmo de 2 Pedro 3, em que o mesmo além de matar os ímpios construiria o novo céu e nova terra, onde, segundo Isaías, estaria os corpos dos ímpios aiiiiiiiinda pegando fogo. Agora imagine a carniça fedor que milhões de corpos mortos podem causar. Imagine como seria fazer um culto em uma cidade em que fora dela está esses milhões de corpos exalando aquele cheiro horroroso! Se esse povo acha um absurdo um crente no céu sabendo que seu filho está bem distante sofrendo incessantemente, imagina um pai que vê toda semana ou todo mês o cadáver de seu filho fedendo e queimando ao sair do culto. Pois é, este é o céu aniquilacionista.

Alguns vão apelar que essa eterna destruição é só depois do juízo final, optando pela tradução da ARA (Estes sofrerão penalidade de eterna destruição, banidos da face do Senhor e da glória do seu poder), e não durante a vinda de Cristo. Isso contradiz todo o contexto, principalmente a ligação com 2 Ts 2: 8,  e pano de fundo bélico de Isaías 66. Só lembrando que essa tradução só reforçaria o pensamento de quem acredita num tormento eterno, pois essa eterna destruição seria ser banido da presença de Cristo, o que estaria em total harmonia com Mateus 8: 12. A destruição aí seria um estado de ruína total, já que o termo grego também tem ruína como possível tradução. Mas surge a pergunta: mas o que destruirá esses cadáveres, que já resistiram a toda a destruição e reconstrução do universo e ainda estão na nova terra sendo expostos? 

1 : Como é feita a aplicação no Novo Testamento

É importante salientar que nem sempre a aplicação que o NT faz é idêntica à que está nos profetas. Isso porque o figurado também, muitas das vezes, faz parte da literatura bíblica. Vejamos o caso da espada, para melhor ilustrarmos a situação.

1. 1: Espada

porque com fogo e com a sua espada entrará o Senhor em juízo com toda a carne; e serão muitos os mortos da parte do Senhor. Isaías 66:16 ARA

O mesmo evento do verso acima (vinda do Messias como um rei e guerreiro triufante) está em Apocalipse 19:

Vi o céu aberto, e eis um cavalo branco. O seu cavaleiro se chama Fiel e Verdadeiro e julga e peleja com justiça. Os seus olhos são chama de fogo; na sua cabeça, há muitos diademas; tem um nome escrito que ninguém conhece, senão ele mesmo. Está vestido com um manto tinto de sangue, e o seu nome se chama o Verbo de Deus; e seguiam-no os exércitos que há no céu, montando cavalos brancos, com vestiduras de linho finíssimo, branco e puro. Sai da sua boca uma espada aguda, para com ela ferir as nações; e ele mesmo as regerá com cetro de ferro e, pessoalmente, pisa o lagar do vinho do furor da ira do Deus Todo-Poderoso. Apocalipse 19:11‭-‬15 

Agora vejamos as referências de Apocalipse:

fez a minha boca como uma espada aguda, na sombra da sua mão me escondeu; fez-me como uma flecha polida, e me guardou na sua aljava, Isaías 49:2 ARA

Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração. Hebreus 4:12 ARA

Aqui, a espada de Cristo é claramente sua Palavra.

Algo similar é encontrado em Isaías 11, comparando a versão hebraica com a Septuaginta:

Hebraica:

mas julgará com justiça os pobres e decidirá com equidade a favor dos mansos da terra; ferirá a terra com a vara de sua boca e com o sopro dos seus lábios matará o perverso. Isaías 11:4 ARA

Septuaginta:

mas julgará a causa dos humildes, e repreenderá os humildes da terra; e ferirá a terra com a palavra da sua boca, e com a sopro de seus lábios destruirá o ímpio. Isaías 11: 4 (Cf. AQUI)

 Não é necessário ser uma pessoa inteligente para deduzir que isso não tem um cumprimento literal, isto é que os ímpios morrerão rapidamente após verem Jesus, assim como a ideia de que Cristo matará o Anticristo assoprando (2 Ts 2: 8). Em suma, o que podemos concluir é que, quando Cristo retornar, diante de sua presença, todo império e filhos do maligno, que atormentam o povo de Deus, serão varridos completamente da terra para a implantação do seu Reino, pois pela sua Palavra, isso se tornará realidade.

1. 2: Glória e face do Senhor

Ao contrário do que pensam os aniquilacionistas, estar diante da glória de Cristo, não significa morrer na hora:

Quando vier o Filho do Homem na sua glória e todos os anjos com ele, então, se assentará no trono da sua glória; e todas as nações serão reunidas em sua presença, e ele separará uns dos outros, como o pastor separa dos cabritos as ovelhas; Mateus 25:31-32 

Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade. Mateus 7:22-23

Só ressaltando que muitos dispensacionalista também colocam esse julgamento antes do milênio, mas isso não interfere em nada na discussão aqui. Na realidade só pioraria para o aniquilacionismo. Mas vemos acima povos ímpios vivinhos da Silva diante de Cristo em sua glória, e inclusive há um certo diálogo (que é bem desagradável!). O mais estranho é que, conforme o que alguns dessa vertente já me falaram, na segunda vinda os ímpios não suportarão a glória de Jesus e morrerão de repente; mas no julgamento, suportarão, tendo tempo até para terem um diálogo. Há uma explicação bíblica para isso? Nenhuma! É possível que a visão de Isaías seja a chave para entendermos a questão da glória e da presença do Senhor:

No ano da morte do rei Uzias, eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono, e as abas de suas vestes enchiam o templo. Serafins estavam por cima dele; cada um tinha seis asas: com duas cobria o rosto, com duas cobria os seus pés e com duas voava. E clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória. Então, disse eu: ai de mim! Estou perdido! Porque sou homem de lábios impuros, habito no meio de um povo de impuros lábios, e os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos! Isaías 6:1-3, 5 ARA

Aqui, Isaías estava vivo ainda, mas sabia que seu destino, por ser um homem pecador, não era dos melhores por estar diante da presença de um Deus santo. No capítulo 2, vemos um evento interessante:

Com isso, a gente se abate, e o homem se avilta; portanto, não lhes perdoarás. Vai, entra nas rochas e esconde-te no pó, ante o terror do Senhor e a glória da sua majestade. Os olhos altivos dos homens serão abatidos, e a sua altivez será humilhada; só o Senhor será exaltado naquele dia. Porque o Dia do Senhor dos Exércitos será contra todo soberbo e altivo e contra todo aquele que se exalta, para que seja abatido; contra todos os cedros do Líbano, altos, mui elevados; e contra todos os carvalhos de Basã; contra todos os montes altos e contra todos os outeiros elevados; contra toda torre alta e contra toda muralha firme; contra todos os navios de Társis e contra tudo o que é belo à vista. A arrogância do homem será abatida, e a sua altivez será humilhada; só o Senhor será exaltado naquele dia. Os ídolos serão de todo destruídos. Então, os homens se meterão nas cavernas das rochas e nos buracos da terra, ante o terror do Senhor e a glória da sua majestade, quando ele se levantar para espantar a terra. Naquele dia, os homens lançarão às toupeiras e aos morcegos os seus ídolos de prata e os seus ídolos de ouro, que fizeram para ante eles se prostrarem, e meter-se-ão pelas fendas das rochas e pelas cavernas das penhas, ante o terror do Senhor e a glória da sua majestade, quando ele se levantar para espantar a terra. Isaías 2:9-21 ARA

Diante da majestade de Cristo, nenhuma impiedade é suportada. Afinal, ninguém quer estar diante de alguém que não suporta o erro e conhece até o mais profundo do nosso coração. Apocalipse pega também essa referência de Isaías 2:

Os reis da terra, os grandes, os comandantes, os ricos, os poderosos e todo escravo e todo livre se esconderam nas cavernas e nos penhascos dos montes e disseram aos montes e aos rochedos: Caí sobre nós e escondei-nos da face daquele que se assenta no trono e da ira do Cordeiro, porque chegou o grande Dia da ira deles; e quem é que pode suster-se? Apocalipse 6:15-17 ARA

Embora possa ser apenas um texto simples ou mais referência, a passagem traz um fato importante para refletirmos. Primeiramente, quando o lemos em conjunto com Isaías 2, vemos que é deste que João faz a referência e que, portanto, ele fala da vinda de Cristo e seu juízo. Mas sobra a pergunta: Por que esses reis pediriam a morte no lugar do juízo de Deus? Ora, se o juízo se resume simplesmente em aniquilação, por que toda a humanidade prefere que o mesmo seja feito de forma antecipada, e, principalmente esmagados por rochas, que é uma forma horrenda de perder a vida?

1. 3: O fogo que não se apaga

Como visto acima, em Isaías 66,  a figura retratada é de um rei inimigo que vem com carros de guerra, espada e fogo matando e incendiando os inimigos, ficando expostos fora da cidade, em que cada sábado e mês são vistos pelo povo de Deus ao saírem de Jerusalém. Sem dúvida alguma, é difícil (ou impossível!) que um cadáver possa durar meses queimando com um fogo incessante e sendo comido por vermes, como é mostrado em Isaías. Já a aplicação neotestamentária é um pouco diferente, em que os homens maus serão lançados vivos no fogo eterno, onde haverá lamento e tormento eterno:

Mandará o Filho do Homem os seus anjos, que ajuntarão do seu reino todos os escândalos e os que praticam a iniquidade e os lançarão na fornalha acesa; ali haverá choro e ranger de dentes. Mateus 13:41-42 ARA

Observe:

Lançado no fogo eterno” (Mt 18: 8)

“[Os anjos] Lançarão na fornalha acessa” (Mt 13: 42).

É notório, primeiramente, que fogo eterno (geena) e fornalha sejam escatologicamente sinônimos. Segundo, que as pessoas estarão lá vivas, para lamentar, uma aplicação diferente da profecia de Isaías, em que os inimigos são mortos à espada pelo guerreiro feroz.

Então, o Rei dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos. Mateus 25:41 ARA

Seguiu-se a estes outro anjo, o terceiro, dizendo, em grande voz: Se alguém adora a besta e a sua imagem e recebe a sua marca na fronte ou sobre a mão, também esse beberá do vinho da cólera de Deus, preparado, sem mistura, do cálice da sua ira, e será atormentado com fogo e enxofre, diante dos santos anjos e na presença do Cordeiro. A fumaça do seu tormento sobe pelos séculos dos séculos, e não têm descanso algum, nem de dia nem de noite, os adoradores da besta e da sua imagem e quem quer que receba a marca do seu nome. Apocalipse 14:9-11 ARA

Mas surge a pergunta: então os homens maus que estiverem diante da face e glória de Cristo não morrerão? Sim, e eternamente:

Quanto, porém, aos covardes, aos incrédulos, aos abomináveis, aos assassinos, aos impuros, aos feiticeiros, aos idólatras e a todos os mentirosos, a parte que lhes cabe será no lago que arde com fogo e enxofre, a saber, a segunda morte. Apocalipse 21:8 ARA 

O texto é claríssimo em afirmar que a segunda morte é um lugar, o lago de fogo. E para finalizar, vou continuar com o comentário de  Keil e Delitzsch, em que eles, com maestria distingue a diferença entre a profecia e a aplicação neotestamentária de Isaías 66: 24. Afinal, este é um dos maiores erros aniquilacionistas, achar que a profecia se cumprirá da mesma forma que está lá, ignorando que às vezes, o profeta faz uso de figuras de linguagem para ilustrar o futuro:

Aqueles que vão em peregrinação a Jerusalém a cada lua nova e sábado, veem ali com seus próprios olhos o terrível castigo dos rebeldes. "E eles saem e olham para os cadáveres dos homens que se rebelaram contra mim, porque seu verme não morrerá e seu fogo não se apagará, e eles se tornam uma abominação para toda a carne."[...] É muito difícil imaginar a imagem que passou pela mente do profeta. Como é possível que toda a carne, isto é, todos os homens de todas as nações, encontrem lugar em Jerusalém e no templo? Mesmo que a cidade e o templo fossem ampliados, como Ezequiel e Zacarias predizem, a coisa em si ainda permanece inconcebível. E, novamente, como os cadáveres podem ser comidos por vermes ao mesmo tempo em que estão sendo queimados, ou como eles podem ser presas infindáveis ​​de vermes e fogo sem desaparecer completamente da vista do homem? É perfeitamente óbvio que a coisa em si, como aqui descrita, deve parecer monstruosa e inconcebível, por mais que possamos supor que seja realizada. O profeta, pelo próprio modo de descrição adotado por ele, exclui a possibilidade de concebermos a coisa aqui apresentada como realizada em qualquer forma material neste estado atual. Ele está falando do estado futuro, mas em figuras extraídas do mundo presente. O objeto de sua predição não é outro senão a nova Jerusalém do mundo vindouro e o tormento eterno dos condenados; mas a maneira como ele o retrata nos obriga a traduzi-lo das figuras tiradas desta vida para as realidades da vida futura [...]  ....Esta é apenas a distinção entre o Antigo Testamento e o Novo, que o Antigo Testamento traz a vida que está por vir ao nível desta vida, enquanto o Novo Testamento eleva esta vida ao nível da vida por vir; que o Antigo Testamento descreve tanto esta vida quanto a vida futura como uma extensão infinita desta vida, enquanto o Novo Testamento descreve como uma linha contínua em duas metades, sendo o último ponto neste estado finito o primeiro ponto do estado infinito além; que o Antigo Testamento preserva a continuidade desta vida e da vida futura, transferindo o lado externo, a forma, a aparência desta vida para a vida futura, o Novo Testamento, tornando o lado interno, a natureza, a realidade de a vida futura, o δυνάμεις με λλοντος αἰῶνος, imanente nesta vida. A nova Jerusalém de nosso profeta tem de fato um novo céu acima dela e uma nova terra abaixo dela, mas é apenas a velha Jerusalém da terra elevada à sua mais alta glória e felicidade; enquanto a nova Jerusalém do Apocalipse desce do céu e, portanto, é de natureza celestial. No primeiro habita o Israel que foi trazido de volta do cativeiro; no último, a igreja ressurreta daqueles que estão inscritos no livro da vida. E enquanto nosso profeta transfere o local em que os rebeldes são julgados para a vizinhança de Jerusalém; no Apocalipse, o lago de fogo no qual a vida dos ímpios é consumida e a morada de Deus com os homens estão separados para sempre. O vale de Hinom fora de Jerusalém tornou-se Gehenna, e isso não está mais dentro dos limites da nova Jerusalém.

Fonte: https://biblehub.com/commentaries/kad/isaiah/66.htm



 

 

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