Milênio: Literal ou Alegórico? No céu ou na terra?
A paz do Senhor! Hoje abordarei o assunto do milênio, se é literal,
na terra ou no céu. Para isso, veremos os textos que fazem referência a ele e
também a interpretação que melhor se encaixa no assunto abordado em cada um.
É literal?
Todos sabemos que existem muitos irmãos amilenistas, ou
seja, que acreditam que este é um período simbólico, que compreende desde a
cruz até a segunda vinda de Jesus. A primeira ressurreição seria, para eles, a
conversão:
Ele vos deu a vida quando estáveis mortos pelos vossos delitos e pecados, Efésios 2:1 TB
Entretanto, comparemos a descrição de Paulo com a de
Apocalipse:
Vi também tronos, e se assentaram sobre eles, e foi-lhes
dado o poder de julgar. Vi as almas daqueles que tinham sido decapitados por
amor do testemunho de Jesus e da palavra de Deus, e os que não adoraram a besta
nem a sua imagem, e que não receberam a marca na testa nem na mão; eles viveram
e reinaram com Cristo mil anos. Os outros mortos não viveram até que fossem
cumpridos os mil anos. Esta é a primeira ressurreição. Apocalipse 20:4-5
TB
O texto é claríssimo: a ressurreição é daqueles que foram
mortos pela besta. É muito difícil imaginar uma ressurreição alegórica aí. É
muito mais coerente interpretarmos o capítulo 20 como a sequência do 19, em que
a besta é lançada no lago de fogo, e suas vítimas ressuscitadas. Veja a
harmonia com os capítulo 6 e 14:
Quando abriu o quinto selo, vi debaixo do altar as almas
daqueles que tinham sido mortos por causa da palavra de Deus e por causa do
testemunho que mantinham. Clamaram com uma grande voz: Até quando, Senhor,
santo e verdadeiro, deixas de julgar os que habitam sobre a terra e deles
vingar o nosso sangue? A cada um deles foi dada uma vestidura branca; e
foi-lhes dito que repousassem ainda por um pouco de tempo, até que
também se completasse o número dos seus conservos e seus irmãos que deviam ser
mortos como eles o foram. Apocalipse 6:9-11 TB
Ouvi uma voz do céu dizendo: Escreve: Bem-aventurados os mortos
que, desde agora, morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que repousem dos seus trabalhos, porque as suas obras os acompanham. Apocalipse 14:13
Não há dúvidas que o mesmo sentido das almas do capítulo 20
sejam o mesmo das do 6 pela descrição ser similar. E nenhum amilenista vai negar
que as almas do capítulo 6 sejam pessoas mortas literalmente. O descanso das do
capítulo 6 é repetido no 14, trecho que fala do domínio da besta, e portanto
essa ressurreição só pode ser após a vinda de Jesus.
Pra complementar, a expressão “e os outros mortos não
viveram até que se completem os mil anos” exige que a segunda ressurreição
seja no mesmo sentido da primeira.
Já a questão do milênio ser na terra ou no céu, uma leitura simples já é determinante para isso:
Vi um anjo descendo do céu, tendo a chave do abismo e uma
grande cadeia na mão. Ele se apoderou do dragão, da antiga serpente, isto é, do
Diabo e Satanás, e o amarrou por mil anos, e o lançou no abismo, do qual fechou
a porta e a selou sobre ele, para que ele não enganasse mais as nações,
até que fossem cumpridos os mil anos; e, depois disso, cumpre que ele seja
solto por um pouco de tempo. Quando forem cumpridos os mil anos, Satanás
será solto da sua prisão e sairá a seduzir as nações que estão nos quatro cantos
da terra, a Gogue e a Magogue e a reuni-las para a guerra, cujo número é como a
areia do mar. Subiram sobre a largura da terra, e cercaram o acampamento
dos santos e a cidade querida. Mas desceu fogo de céu e os devorou; e o Diabo,
que os seduzia, foi lançado no lago de fogo e enxofre, onde se acham a besta e
o falso profeta. Eles serão atormentados dia e noite pelos séculos dos séculos.
Apocalipse 20:1-3, 7-10 TB
É evidente a presença de nações na terra durante e depois do
milênio, sendo enganadas pelo diabo no fim. Mas alguém poderia supor que todas
as nações morreriam na vinda de Cristo e que, portanto, o diabo não as enganaria
porque ficaria sozinho na terra. Sendo assim, elas ressuscitariam no fim do
milênio para serem enganadas pelo diabo. Essa é uma leitura forçada e estranha. Pra começar, no dia do juízo, todos estarão reunidos na presença de Deus e depois serão jogados no fogo pelos anjos (Mt 13: 49, 50 e Ap 20: 12), e não nos quatros cantos da terra. Ou seja, no lugar de ser os anjos que reúnem o povo que estão nos quatro cantos para o juízo e depois serem lançados no fogo, torna-se Satanás o responsável por essa atividade. Mas vejamos como Apocalipse 20 se harmoniza com outros trechos:
Vi também tronos, e se assentaram sobre eles, e foi-lhes
dado o poder de julgar. Vi as almas daqueles que tinham sido decapitados por
amor do testemunho de Jesus e da palavra de Deus, e os que não adoraram a besta
nem a sua imagem, e que não receberam a marca na testa nem na mão; eles viveram
e reinaram com Cristo mil anos. Os outros mortos não viveram até que fossem
cumpridos os mil anos. Esta é a primeira ressurreição. Bem-aventurado e santo é
o que tem parte na primeira ressurreição! Sobre estes a segunda morte não tem
poder, mas serão sacerdotes de Deus e de Cristo e reinarão com ele durante
os mil anos.
Apocalipse 20:4-6 TB
E cantavam um novo cântico, dizendo: Digno és de receber
o livro e de abrir os seus selos, porque foste morto e compraste para Deus, com
o teu sangue, homens de toda tribo, e língua, e povo, e nação, e lhes fizeste,
para nosso Deus, reino e sacerdotes, e reinarão sobre a terra. Apocalipse
5:9-10 TB
Como visto, é bem difícil negar que as partes em negrito não
dizem sobre o mesmo assunto. Ambos falam que os fiéis serão reis e sacerdotes, e reinarão (no futuro, e não no presente) na terra e no milênio. Acabou? Não!
Da sua boca saía uma espada afiada para com ela ferir as
nações; ele as regerá com uma vara de ferro e ele é o que pisa o lagar
do vinho do furor da ira do Deus Todo-Poderoso. Apocalipse 19:15 TB
Proclamarei o decreto do Senhor: Ele me disse: Tu és
meu Filho, eu, hoje, te gerei. Pede-me, e eu te darei as nações por herança e
as extremidades da terra por tua possessão. Com vara de ferro as regerás e
as despedaçarás como um vaso de oleiro. Agora, pois, ó reis, sede prudentes;
deixai-vos advertir, juízes da terra. Salmos 2:7-10 ARA
Este texto deixa claro que Jesus herdará e regerá as nações.
Note que o “regerá as nações” do 19 se encaixa perfeitamente com o “para que ele não enganasse mais as nações”
do capítulo 20. Alguém poderia sugerir que este governo é sobre a sua
Igreja, mas o verso abaixo deixa muito claro que sua Noiva participa desse
governo juntamente com Ele:
Ao vencedor, e ao que guarda as minhas obras até o
fim, lhe darei autoridade sobre as nações. Ele as regerá
com vara de ferro, quebrando-as, como são quebrados os vasos de oleiro,
assim como eu a recebi de meu Pai. Apocalipse 2:26-27 TB
Note a frase Ao vencedor, e ao que guarda as minhas
obras até o fim deixa evidente que essa não é uma promessa para o
presente, pois os amilenistas alegam que a Igreja já reina; mas uma promessa
para aquele que ser fiel ao cristianismo até sua morte. O crente que for fiel até o
fim, portanto, junto com Cristo, terá autoridade sobre as nações e as
regerá/pastoreará com vara de ferro. O verbo para reger aqui é:
Cognato: 4165 poimaínō – apropriadamente, pastorear , cuidar (proteger) o rebanho.
Fonte: https://biblehub.com/greek/4165.htm
A pergunta que fica
é: Quando essa promessa se cumprirá para aqueles que acreditam que não haverá
nações na terra durante o milênio? Ora, a pouco vemos que, pela leitura
natural, há nações na terra durante o milênio; o reino e sacerdócio será na
terra e durante mil anos, e Cristo e a Igreja pastorearão as nações com vara de
ferro. O que nos impede de ligarmos todas essas informações numa só?
Um suposto apelo:
Alguns, para tentar invalidar o que está óbvio, poderão
apelar para as traduções modernas do texto hebraico do Salmo 2, ignorando
completamente a aplicação joanina de “poimaíno” :
Tu as quebrarás com uma vara de ferro, fá-las-ás
em pedaços, como vaso de oleiro. Salmos 2:9 TB
A Bíblia de Cambridge diz:
9 . Tu os quebrarás com uma vara de ferro ] Uma figura
para a severidade do castigo que aguarda os rebeldes. Ou talvez, 'um cetro de
ferro ' ( Salmos 45:6 ), símbolo de uma regra severa e irresistível. Mas a
palavra traduzida como quebrá-los , se lida com diferentes vogais, pode
significar governá -los (lit. pastoreá- los ),
então o LXX (e depois dele Apocalipse 2:27 ; Apocalipse 12:5 ; Apocalipse 19:15
), siríaco e Jerônimo. Nesse caso, a vara significará o cajado de um pastor
( Miquéias 7:14 ), e a frase será um oxímoro.
Isto é, João tirou sua leitura da Septuaginta, antiga versão grega. No entanto, mesmo ignorando a aplicação joanina da LXX, que seria absurdo, o texto hebraico não dá uma margem total para criarmos uma interpretação tão diferente:
Tu as despedaçarás [nakah] com uma vara [shebet] de ferro, fá-las-ás em
pedaços, como vaso de oleiro.
Salmos 2:9
porém com justiça julgará os necessitados, e com equidade
reprovará em defesa dos mansos da terra. Ferirá [Nakah] a terra com a vara [shebet]
da sua boca e matará ao perverso com o assopro dos seus lábios.
Isaías 11:4 TB
Se alguém ferir [nakah] com vara [shebet] o seu escravo
ou a sua escrava, e o ferido morrer debaixo da sua mão, será punido; Êxodo
21:20 ARA
Não retires da criança a correção, pois, se a fustigares [nakah] com a vara [shebet], não há de morrer. Tu a baterás [nakah] com a vara [shebet] e
livrarás a sua alma do Sheol. Provérbios 23:13-14
E aí você pergunta: O que essas passagens têm em comum?
Respondo: o mesmo verbo [nakah] e o mesmo substantivo [shebet]. Era comum o povo bater os
servos desobedientes e até os filhos com varas. Veja mais um caso relacionado:
O açoite é para o cavalo, o freio, para o jumento, e a vara,
para as costas dos insensatos. Provérbios 26:3 ARA
Voltando ao salmo 2, vemos que, mesmo uma tradução que não
seja pastorear e ignorando a aplicação da Septuaginta por João, o que seria um
verdadeiro absurdo, o sentido básico do salmo é de um rei que corrige
rigosamente os desobedientes. As varas eram ferramentas de correção,
não execução. Um exemplo de um governo com vara de ferro é bem exemplificado em
Zacarias:
Todos os que restaram de todas as nações que vieram
contra Jerusalém subirão de ano em ano para adorarem o Rei, Jeová dos Exércitos
e para celebrarem a Festa dos Tabernáculos. Se qualquer das famílias da terra
não subir a Jerusalém para adorar o Rei, Jeová dos Exércitos, não cairá sobre
eles a chuva. Se a família do Egito não subir, nem vier, não virá sobre eles a
chuva; virá a praga com que Jeová ferirá as nações que não subirem para
celebrar a Festa dos Tabernáculos. Este será o castigo do Egito e o castigo de
todas as nações que não subirem a celebrar a Festa dos Tabernáculos. Zacarias
14:16-19 TB
Apelo a 2 Pedro 3
Alguns sugerem que um milênio na terra contradiz as passagens
abaixo:
Mas virá como ladrão o Dia do Senhor, em
que os céus passarão com grande estrondo, os elementos, com o calor, se
dissolverão, e a terra e as obras que nela há serão descobertas. Uma vez
que todas essas coisas hão de ser assim dissolvidas, quais vos convém ser em
santo procedimento e piedade, esperando e desejando ardentemente a vinda do Dia
de Deus, pelo qual os céus, ardendo, se dissolverão, e os elementos, com
o calor, se fundirão? Mas nós, segundo a sua promessa, esperamos novos céus
e uma nova terra, nos quais habita a justiça. 2Pedro 3:10-13 TB
Assim como foi nos dias de Noé, assim será também nos
dias do Filho do Homem: comiam, bebiam, casavam-se e davam-se em casamento, até
o dia em que Noé entrou na arca, e veio o dilúvio e destruiu todos. Lucas 17:26-27
TB
Acreditam que quando Cristo vier, tudo será destruído,
inclusive a terra e o céu. O erro parte de duas percepções erradas. A primeira
é esquecer a descrição de Apocalipse 19, em que os aliados da besta serão
mortos, não as outras nações.
A segunda é simplesmente não ler todo o texto:
Isto de propósito esquecem: que eram já dantes os céus e
a terra que da água e no meio da água subsiste pela palavra de Deus. Por causa
dessas coisas, pereceu o mundo de então, afogado em água; mas os céus que
agora existem e a terra, pela mesma palavra, se guardam para o fogo,
reservados [céus e terra, certo?] até o Dia
do Juízo e da perdição dos homens ímpios. 2Pedro 3:5-7 TB
Até o dia do juízo, ainda existirão céus e terra, é só isso. Vejamos a comparação com Apocalipse:
Vi um grande trono branco e o que estava sentado
sobre ele, de cuja presença fugiu a terra e o céu; e lugar nenhum foi
achado para eles. Vi também os mortos, grandes e pequenos, em pé diante do
trono; livros foram abertos, e foi aberto outro livro, que é o da vida; e foram
julgados os mortos pelas coisas que estavam escritas nesses livros
segundo as suas obras. Apocalipse 20:11-12 TB
Vi um novo céu e uma nova terra, porque o primeiro céu e
a primeira terra já se foram, e o mar já não é. Apocalipse 21:1 TB
O texto de Apocalipse está dizendo praticamente a mesma coisa de Pedro. Neste, no juízo, terra e céu desaparecem; naquele, no juízo, terra e céu também desaparecem.
A suposta divergência de ser destruído por fogo (segundo Pedro) ou pela presença de Deus (segundo João) talvez seja resolvida pelo verso abaixo:
O aspecto da glória do Senhor era como um fogo consumidor no cimo do monte, aos olhos dos filhos de Israel. Êxodo 24:17 ARA
Se ainda restam dúvidas, eu acredito que a passagem abaixo seja esclarecedora:
Reina o Senhor. Regozije-se a terra, alegrem-se as muitas ilhas. Nuvens e escuridão o rodeiam, justiça e juízo são a base do seu trono. Adiante dele vai um fogo que lhe consome os inimigos em redor. Os seus relâmpagos alumiam o mundo; a terra os vê e estremece. Derretem-se como cera os montes, na presença do Senhor, na presença do Senhor de toda a terra. Os céus anunciam a sua justiça, e todos os povos veem a sua glória. Salmos 97:1-6 ARA
Já sobre o Dia do Senhor, não é um período de 24 horas, até mesmo porque o próprio apóstolo Pedro diz que um dia diante do Senhor é como mil anos, e mil anos, como um dia. (2Pedro 3:8 TB), frase extraída do salmo 90: 4, assim como o novo céu e nova terra de Isaías 65: 25.
Biblicamente, o Dia do Senhor trata-se de um grande período de mais de mil anos, em que Deus executará todos os seus juízos. Um ponto interessante é que até Agostinho de Hipona (século 4°), praticamente todos os cristãos que temos registros acreditavam num milênio literal e na terra, ou seja, criam assim como nós cremos.
Mas quem seriam os súditos do reino?
Aqui temos duas hipóteses:
Dispensacionalista e pré-tribulacionista: Esses súditos,
isto é, nações, seriam as pessoas convertidas durante o período tribulacional. A
igreja seria arrebatada antes da Grande Tribulação, após isso haveria
conversões, e essas pessoas convertidas seriam essas nações as quais Cristo irá
reinar com a Igreja;
Pré-milenista clássica: Essa perspectiva é
pós-tribulacionista. A maioria crê que o Anticristo não reinará sobre todos com
exceção dos crentes, mas haveria nações (ou pessoas delas) que não seriam nem
adoradores da besta nem cristãos. O domínio sobre toda tribo, povo e nação
de Apocalipse 13: 7 seria entendido à luz de passagens como Daniel 3: 29, em
que a mesma expressão aparece, mas sabemos que Nabucodonosor não reinou sobre
os medos e persas; foi apenas o império mais poderoso de sua época. Esses
seriam os súditos.
Como visto acima, uma perspectiva tanto a perspectiva amilenista
quanto a de um milênio no céu são facilmente rejeitadas por uma leitura simples
de Apocalipse 20. E se nós aprofundarmos mais nas referências bíblicas, a
conclusão que chegaremos é simplesmente aquilo que já está claro na Bíblia: um
período de mil anos na terra em que Cristo com sua Igreja reinará nele.
Comentários
Postar um comentário