Jesus deveria vir em sua geração (Mt 24: 34)?
Mateus 24:34 ARC
"Em verdade vos digo que não passará esta geração até que todas essas coisas aconteçam".
Mateus 24:34 é frequentemente interpretado como uma declaração de que Jesus já teria vindo figuradamente em juízo no ano 70 d.C., durante a destruição de Jerusalém. Essa visão é sustentada até por alguns cristãos, que tomam as palavras "esta geração não passará até que todas essas coisas aconteçam" e entendem que todas as profecias descritas em Mateus 24 já se cumpriram, incluindo a vinda de Jesus. Ou seja, Jesus já veio, assim como Deus veio em juízo em Isaías 19:1 sobre o Egito, e não virá mais nessa perspectiva. Ou melhor explicando: o próprio juízo sobre a cidade seria a vinda de Jesus. No entanto, uma análise mais cuidadosa revela que o texto não sustenta essa interpretação de forma conclusiva. Nesta publicação, vamos examinar o contexto e os detalhes dessa passagem, e mostrar que se trata de um básico erro de interpretação.
A Contradição com o Ensino de Jesus:
Para começar, essa interpretação seria uma contradição direta, pois o próprio Jesus deixa claro, no mesmo capítulo, que ninguém saberia o dia ou a hora de Sua vinda, nem os anjos, nem Ele mesmo, mas somente o Pai (Mateus 24:36). Se a vinda de Cristo fosse realmente algo destinado a acontecer naquela geração, dentro de um período de 40 anos, como sugerem alguns, então as palavras de Jesus sobre a imprevisibilidade de Sua vinda não fariam sentido algum. Isso evidencia que a visão de um cumprimento imediato no ano 70 é inconsistente com o ensino geral de Cristo sobre o caráter inesperado de Sua segunda vinda. Jesus viria, portanto, num período de até 40 anos.
A Geração:
Outro ponto importante é a interpretação do termo "geração". Muitos, ao lerem "esta geração não passará", interpretam a palavra "genea" como "raça", dando a entender que a raça judaica não passaria até a vinda de Jesus. É verdade que o termo "genea" pode, em alguns contextos, se referir a um grupo étnico ou uma linhagem, e também é verdade que a raça judaica estará viva até a manifestação do Senhor; mas essa não é a maneira mais comum de usar o termo grego. Na maioria dos casos, como podemos ver no próprio evangelho de Mateus, "genea" é traduzido como "geração", referindo-se a um período de tempo e não a uma etnia. No capítulo 1, por exemplo, "genea" é usado para descrever as gerações de Jesus, desde Abraão até Davi e até José, pai de Jesus (Mateus 1:1-17). Se quiser estender mais sobre o assunto, você poderá ver o próprio usa da palavra AQUI e observará que o significado, no mínimo mais usual pra não dizer total, é "geração" mesmo.
Portanto, o uso consistente do termo "genea" em Mateus nos leva a concluir que a interpretação de "geração" é mais coerente do que a ideia de "raça", que não se aplica aqui. Como se não bastasse, Jesus falou isso no ano 30 d.C.; e no ano 70 d. C. (quarenta anos) ocorreu a destruição de Jerusalém, o que seria uma grande "coincidência". Pra você que interpreta palavra grega como "raça": você não acha muuuiuito curioso demais Jerusalém ser destruída num período equivalente a uma geração após Jesus dizer essas palavras?
Mas geração é realmente 40 anos mesmo?
Em Mateus 24:34, a interpretação mais provável é que "geração" se refira a um período de 40 anos, pois esse era um marco significativo na cultura judaica, como demonstrado no tempo de peregrinação no deserto (Números 32:13) e em outros ciclos históricos. Neste caso, "esta geração" começaria por volta de 30 d.C., quando Jesus proferiu essa profecia. No entanto, há quem alegue que "geração" possa significar 100 anos, com base em Gênesis 15:13-16, onde Deus menciona quatro gerações para um período de 400 anos. Contudo, é importante lembrar que, no tempo de Abraão, a expectativa de vida era significativamente maior, frequentemente ultrapassando 100 anos, o que justifica tal medida de geração naquela época.
Se considerarmos a possibilidade de uma geração de 70 anos, com base no Salmo 90:10, também não haveria problema, pois Jerusalém foi destruída em 70 d.C., praticamente no fim desse período, assumindo que Jesus tinha aproximadamente 30 anos ao fazer essa profecia. Isso reforça a precisão de Suas palavras e a flexibilidade do termo "geração" dependendo do contexto, ainda que o intervalo de 40 anos seja o mais consistente com o padrão histórico e cultural da época.
A Interpretação de "Todas Essas Coisas":
O próximo passo é entender o que são "todas essas coisas" mencionadas em Mateus 24:34. O padrão que Jesus usa aqui é o mesmo que aparece em Mateus 6:31-33, quando Ele fala sobre as necessidades básicas da vida. Em Mateus 6, Jesus menciona as preocupações com o que comer, beber e vestir e, em seguida, utiliza a expressão "todas essas coisas" de forma coesa, como um elemento que resume todas as necessidades materiais mencionadas. Ele diz:
"Portanto, não se preocupem, dizendo: 'O que vamos comer?' ou 'O que vamos beber?' ou 'Com o que vamos nos vestir?' Porque os pagãos é que procuram todas essas coisas; mas o Pai celestial sabe que vocês precisam delas. Busquem, pois, em primeiro lugar, o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas lhes serão acrescentadas." (Mateus 6:31-33)
Temos: "O que vamos comer? ou O que vamos beber? ou Com o que vamos nos vestir?" (v. 31) igual a "todas essas coisas" (v. 32) que é igual "todas essas coisas" (v. 33)
Aqui, a expressão "todas essas coisas" está vinculada a uma série de preocupações materiais, e a palavra "todas" é usada para consolidar essas necessidades em um único grupo. O mesmo padrão é encontrado em Mateus 24:32-34, onde Jesus fala sobre sinais específicos de Sua vinda, como a própria destruição do estado judaico, que será abordada mais à frente, e, em seguida, usa a expressão "todas essas coisas" para englobar esses sinais, indicando que a proximidade do verão (simbolizando Sua vinda) seria claramente visível.
"Aprendam a parábola da figueira: Quando já seus ramos se tornam tenros e brotam folhas, sabem que o verão está próximo. Assim, também vocês, quando virem todas essas coisas, saibam que ele está próximo, às portas. Em verdade lhes digo que não passará esta geração até que todas essas coisas aconteçam." (Mateus 24:32-34)
Temos: "ramos se tornam tenros e brotam" (v. 32) igual a "todas essas coisas" (v. 33) que é igual a "todas essas coisas" (v. 34).
E: "verão está próximo" (v. 32) igual a "ele está próximo, às portas" (v. 33).
Portanto, em ambos os casos, "todas essas coisas" se refere a uma série de elementos relacionados entre si: em Mateus 6, as necessidades básicas da vida, e em Mateus 24, os sinais que precedem a vinda de Cristo. É importante notar que "todas essas coisas" em Mateus 24:34 não se refere à vinda de Jesus em si, mas às mesmas coisas mencionadas no versículo 33 do capítulo 24, que são os sinais claros e visíveis que indicam que Sua vinda está próxima.
Além disso, podemos ver um paralelo claro em Lucas 21:30-32, onde a expressão "todas essas coisas" também é utilizada, confirmando que os sinais de Sua vinda são o foco da passagem e não a própria vinda em si:
"Quando começarem a brotar as folhas, vocês mesmos, vendo isso, sabem que o verão está perto. Assim [conclusão] também, quando virem acontecer essas coisas, saibam que o Reino de Deus está próximo. Em verdade lhes digo que não passará esta geração até que tudo aconteça." (Lucas 21:30-32)
Aqui, fica claro que a expressão "essas coisas" se refere aos sinais e eventos que indicam a proximidade da vinda do Senhor, e não ao cumprimento imediato da vinda de Cristo.
Vale ressaltar que os próprios teólogos da prosperidade também cometem o mesmo erro com Mateus 6:33. Eles leem o versículo isoladamente sem considerar a linha de raciocínio que começa no versículo 31. Da mesma forma, muitos ditos "cristãos" leem apenas o versículo 34 do capítulo 24 sem considerar o raciocínio que começa no 32.
O Novo Testamento Grego do Expositor é bem elucidativo ao analisar Mateus 24:34, afirmando que a garantia solene de que o previsto acontecerá está relacionada à destruição iminente do estado judeu, conforme já abordado em Mateus 24:33. A expressão πάντα ταῦτα (panta tauta) é, portanto, mais naturalmente compreendida como referindo-se às mesmas coisas mencionadas no versículo anterior, ou seja, aos sinais que indicam a queda do estado judeu. Jesus tinha, portanto, plena certeza de que esses eventos se realizariam dentro da geração então viva (ἡ γενεὰ αὕτη). Isso demonstra a autoridade e a visão de Cristo sobre os acontecimentos futuros, os quais Ele sabia estarem inevitavelmente prestes a se cumprir.
Os versículos de Lucas 21:5-6 e 20-22 reforçam, contextual e logicamente, a perspectiva do Expositor’s Greek New Testament sobre a expressão "todas essas coisas" em Mateus 24:34, indicando que se referem à destruição iminente de Jerusalém. Em Lucas 21:5-6, Jesus fala sobre a destruição do Templo, um evento que era central nas profecias que Ele estava anunciando: "Quanto a estas coisas que vedes, dias virão em que se não deixará pedra sobre pedra, que não seja derribada" (Lucas 21:6). Este anúncio, portanto, não faz referência à Sua segunda vinda, mas à destruição do Templo, que seria uma manifestação do juízo de Deus sobre Jerusalém.
Logo após, em Lucas 21:7, os discípulos questionam Jesus: "Mestre, quando serão, pois, estas coisas? E que sinal haverá quando isto estiver para acontecer?". Eles claramente se referem às "coisas" mencionadas por Jesus, ou seja, à destruição do Templo e dos eventos associados a esse juízo. Em Lucas 21:20-22, a conexão fica ainda mais clara: "Mas, quando virdes Jerusalém cercada de exércitos, sabei, então, que é chegada a sua desolação... Porque dias de vingança são estes, para que se cumpram todas as coisas que estão escritas" (Lucas 21:20-22). Essas passagens não falam de um evento futuro e distante, mas sim da destruição de Jerusalém, já que Jesus alerta que aqueles sinais seriam um prenúncio do juízo iminente.
Dessa forma, os versículos de Lucas corroboram e reforçam a interpretação de que a frase "todas essas coisas" em Mateus 24:34 não se refere à vinda de Cristo, mas sim à destruição de Jerusalém e ao cumprimento do juízo divino sobre a nação judaica. A leitura contextual dessas passagens sustenta a visão de que os eventos descritos ocorreriam dentro da geração contemporânea de Jesus, como Ele mesmo profetizou.
Os três primeiros versículos como chave para a compreensão
Mateus 24:1-3 ARC
"[1] E, quando Jesus ia saindo do templo, aproximaram-se dele os seus discípulos para lhe mostrarem a estrutura do templo. [2] Jesus, porém, lhes disse: Não vedes tudo isto? Em verdade vos digo que não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja derribada. [3] E, estando assentado no monte das Oliveiras, chegaram-se a ele os seus discípulos, em particular, dizendo: Dize-nos quando serão essas coisas e que sinal haverá da tua vinda e do fim do mundo?"
Em Mateus 24:1-3, vemos claramente a distinção entre três questões que os discípulos fazem a Jesus, o que ajuda a compreender a sequência de eventos que ele descreve no discurso sobre o fim dos tempos. A pergunta dos discípulos é tripla, envolvendo três pontos distintos:
1. "Quando serão essas coisas?" – Os discípulos estavam se referindo à destruição do templo, mencionada por Jesus no versículo 2. Eles queriam saber quando esse evento ocorrerá. Quando lemos esta parte, o versículo 34 e sabemos que no 70 d. C. não ficou "pedra sobre pedra'" (v. 2), acredito que não há conclusão melhor a se chegar.
2. "Que sinal haverá da tua vinda?" – Aqui, os discípulos se referem à vinda de Cristo, que é distinta da destruição de Jerusalém e está associada ao retorno de Jesus no fim dos tempos.
3. "E do fim do mundo?" – Esta parte da pergunta se refere ao fim dos tempos, ao juízo final (Mateus 13:39), quando o mundo como o conhecemos chegará ao seu fim.
Jesus, ao responder, faz uma distinção clara entre esses eventos, como vemos ao longo do capítulo 24. Ele começa a descrever os sinais da destruição de Jerusalém e a queda do templo (o primeiro evento), depois passa a falar sobre os sinais de Sua vinda (o segundo evento) e, por fim, sobre o fim do mundo, associado ao juízo final (o terceiro evento).
Assim, o versículo 3 de Mateus 24 evidencia que os discípulos estão separando os eventos e perguntando sobre eles de forma distinta, e essa separação é importante para entendermos a diferença entre o juízo sobre Jerusalém e a vinda final de Cristo.
Chegamos ao preterismo parcial então?
Os irmãos preteristas parciais acreditam que todos os eventos que antecedem a vinda de Cristo foram cumpridos até 70 d.C., tendo como base a declaração de Jesus em Mateus 24:34. Isso incluiria a Grande Tribulação e o próprio Anticristo. Para mim, essa visão é questionável, pois a Bíblia declara que a vinda de Jesus marcará o fim do reino do Anticristo (2 Tessalonicenses 2:1-8). Para validar essa interpretação, seria necessário alegorizar o “filho da perdição” e o período de 42 meses de governo mundial descritos em Daniel 7:25, Daniel 9:27 e Apocalipse 13:5, o que, em minha opinião, carece de base bíblica suficiente. Afinal, se você alegorizar o filho da perdição, certamente terá de fazer o mesmo com a vinda de Jesus! E bem vindos ao preterismo total!!!
Creio que, em Mateus 24, Jesus funde eventos próximos à sua época com eventos do fim dos tempos, utilizando uma técnica comum na linguagem apocalíptica. Em Mateus 25:31-46, por exemplo, Ele descreve sua vinda e o julgamento final como eventos consecutivos, embora saibamos, pelo Apocalipse 20, que há ao menos mil anos entre eles. Essa forma de falar – mesclando passado, presente e futuro – é um recurso encontrado em várias profecias do Antigo Testamento.
Enquanto Lucas enfatiza o aspecto histórico das falas de Jesus, Mateus adota uma linha mais apocalíptica, o que é evidente em vários pontos do Antigo Testamento. Um exemplo é Isaías 8 e 9. Isaías começa com um aviso sobre a iminente invasão da Assíria, ameaçando Judá e Samaria, dizendo: “Porque o Senhor fará vir sobre eles as águas do rio, fortes e impetuosas... e passará por Judá” (Isaías 8:7-8). Contudo, sem transição, o capítulo 9 anuncia a vinda de um governante glorioso que trará esperança e salvação, com a famosa profecia: “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros” (Isaías 9:6). Aqui, o juízo iminente e a esperança messiânica futura se encontram numa mesma linha profética, revelando tanto o desfecho próximo quanto o futuro reino glorioso do Messias.
A mesma fusão ocorre entre Isaías 10 e 11. Isaías 10 fala sobre o castigo que Deus traria sobre Israel e o orgulho da Assíria, dizendo: “Sucederá, pois, que quando o Senhor tiver acabado toda a sua obra no monte Sião e em Jerusalém, então castigará o fruto do arrogante coração do rei da Assíria” (Isaías 10:12). No entanto, no capítulo 11, o profeta projeta para o futuro uma visão de restauração e paz, com a promessa de um Messias que virá da “raiz de Jessé” e que estabelecerá justiça sobre a Terra: “E repousará sobre ele o Espírito do Senhor... Com justiça julgará os pobres” (Isaías 11:1-4). Mais uma vez, vemos o juízo imediato e o reino futuro do Messias entrelaçados.
Esse estilo profético não apenas em Isaías, mas também em Mateus 10, onde Jesus dá instruções aos discípulos antes de uma missão específica. Ele começa com conselhos para os desafios que enfrentariam naquela viagem (v. 5-15), mas logo passa a falar de perseguições que ocorreriam bem depois, até mesmo após sua ascensão. Ele diz: “E sereis odiados de todos por causa do meu nome; mas aquele que perseverar até o fim será salvo” (Mateus 10:22). Esse fim está além daquela missão inicial, apontando para uma culminação futura, possivelmente o retorno de Cristo.
Além do mais, a diferença entre Mateus e Lucas na narrativa da expulsão dos demônios evidencia esse foco apocalíptico de Mateus. Em Mateus 8:29, os demônios clamam: "Vieste aqui atormentar-nos antes do tempo?", indicando uma referência ao juízo final e ao tempo determinado para sua condenação. Já em Lucas 8:28, o texto registra apenas: "Rogo-te que não me atormentes", omitindo qualquer menção ao "tempo", sugerindo um enfoque mais imediato e terreno. Essa distinção reflete o caráter escatológico presente em Mateus, enquanto Lucas frequentemente prioriza questões práticas e contextuais do ministério de Jesus.
Essa combinação de eventos próximos e distantes em Mateus 24 sugere que Jesus estava utilizando uma fusão profética, cumprindo alguns elementos em 70 d.C., mas reservando o cumprimento total para o fim dos tempos. Em Mateus, vemos uma unidade entre o tempo de Jesus e o futuro apocalíptico, o que torna sua profecia não apenas uma advertência para o presente, mas também uma visão dos últimos dias.
Para uma melhor compreensão das profecias de Mateus 24, o próprio Cristo nos direciona ao livro de Daniel:
Mateus 24:15-16 (A21)
[15] “Quando virdes no lugar santo a abominação desoladora, da qual falou o profeta Daniel — quem lê, entenda —, [16] então os que estiverem na Judeia fujam para os montes.”
O contexto em Daniel ilumina nossa compreensão dos eventos de Mateus. Daniel profetiza sobre desolações múltiplas, não apenas uma, sugerindo que essas desolações poderiam ocorrer em momentos diferentes:
Daniel 9:26
[26] “E depois de sessenta e duas semanas, o ungido será tirado, e já não estará; e o povo do príncipe que virá destruirá a cidade e o santuário, e o seu fim será com uma inundação; e até o fim haverá guerra; desolações estão determinadas.”
A pluralidade de desolações e guerra até o fim indicam, portanto, mais de uma devastação de Jerusalém. Uma confirmação bíblica disso encontra-se no profeta Zacarias, que descreve um cerco e ataque a Jerusalém que não se encaixa nos eventos de 70 d.C., pois naquele ano a cidade foi totalmente destruída:
Zacarias 14:1-2 (A21)
[1] “Eis que vem o dia do Senhor, em que os teus despojos se repartirão no meio de ti. [2] Pois ajuntarei todas as nações para a luta contra Jerusalém; a cidade será tomada, as casas serão saqueadas, e as mulheres violentadas; metade da cidade sairá para o cativeiro, mas o restante do povo não será exterminado da cidade.”
Essa descrição de Zacarias não corresponde ao cerco romano, quando Jerusalém foi arrasada por completo. Em vez disso, ela se alinha com a visão de Apocalipse 11, como confirma a "Exposição de Gill de toda a Bíblia", onde uma parte de Jerusalém é preservada enquanto outra é “pisada pelos gentios” por um período de 42 meses (Apocalipse 11:2), o mesmo tempo de domínio da besta (Apocalipse 13:5). Zacarias 14 continua descrevendo a vinda de Jesus (v. 5), e este retorno ocorre, segundo a cronologia bíblica, no fim do reinado do Anticristo (2 Tessalonicenses 2:8 e Apocalipse 19:19).
A comparação entre Zacarias 14 e Apocalipse revela uma conexão clara na cronologia escatológica, indicando que ambos os textos falam do mesmo evento. Quando fazemos um estudo cuidadoso, vemos que os eventos de 70 d.C. não cumpriram todas essas profecias.
Em resumo, a análise de Mateus 24:34 e seus contextos paralelos em Lucas e Daniel nos leva a entender que a expressão "esta geração" está relacionada à destruição de Jerusalém em 70 d.C., como um sinal visível de um juízo iminente, mas distinto da vinda final de Cristo e do fim dos tempos. A visão preterista parcial, que coloca o cumprimento de toda a profecia de Mateus 24 no primeiro século, falha em considerar o caráter inesperado da segunda vinda, claramente enfatizado por Jesus. Ao confundir o juízo sobre Jerusalém com a volta final de Cristo, essa interpretação negligencia a estrutura sequencial e a separação de eventos presentes nas perguntas dos discípulos. Portanto, uma interpretação equilibrada exige que reconheçamos o conteúdo profético: Jesus antecipa o juízo sobre Jerusalém como um símbolo do juízo final, mas mantém a expectativa de um retorno futuro e definitivo.
Fontes:
1. BIBLEHUB. Strong’s Concordance - 1074 (Grego: gennēma). Disponível em: https://biblehub.com/greek/strongs_1074.htm. Acesso em: 25 mar. 2023.
2. Expositor's Greek New Testament (2024). Disponível em: https://biblehub.com/commentaries/egt/matthew/24.htm. Acesso em: 6 nov. 2024.
3. GILL, John. Commentary on Zechariah 14. Disponível em: https://biblehub.com/commentaries/gill/zechariah/14.htm. Acesso em: 7 nov. 2024.
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