O [mau] uso aniquilacionista de Isaías 34: 9, 10
também esse beberá do vinho da cólera de Deus, preparado, sem mistura, do cálice da sua ira, e será atormentado com fogo e enxofre, diante dos santos anjos e na presença do Cordeiro. A fumaça do seu tormento sobe pelos séculos dos séculos, e não têm descanso algum, nem de dia nem de noite, os adoradores da besta e da sua imagem e quem quer que receba a marca do seu nome. Apocalipse 14:10-11 ARA
A paz do Senhor! Sempre quando confrontados com um texto claro sobre o sofrimento eterno dos ímpios como o de cima, aniquilacionistas tentam ligá-lo a outro com expressões similares. No caso em questão, tentam ligar Apocalipse 14 com Isaías 34, em que as mesmas expressões são usadas, e em um contexto que não é de eternidade:
Os ribeiros de Edom se transformarão em piche, e o seu pó, em enxofre; a sua terra se tornará em piche ardente. Nem de noite nem de dia se apagará; subirá para sempre a sua fumaça; de geração em geração será assolada, e para todo o sempre ninguém passará por ela.
Isaías 34:9-10ARA
Para tornar mais forte o argumento, citam ainda a seguinte passagem:
Depois destas coisas, ouvi no céu uma como grande voz de numerosa multidão, dizendo: Aleluia! A salvação, e a glória, e o poder são do nosso Deus, porquanto verdadeiros e justos são os seus juízos, pois julgou a grande meretriz que corrompia a terra com a sua prostituição e das mãos dela vingou o sangue dos seus servos. Segunda vez disseram: Aleluia! E a sua fumaça sobe pelos séculos dos séculos. Apocalipse 19:1-3 ARA
Como visto, tanto Isaías 34 quanto Apocalipse 19 falam da fumaça de duas cidades subindo para todo o sempre, mas como sabemos Edom não se encontra mais queimando, e o mesmo podemos sugerir da Babilônia escatológica, que embora seja uma profecia futura, acreditamos que ela não queimará para sempre na terra. Finalizam os aniquilacionistas: "Esse para sempre aí é no sentido de irreversibilidade, ou seja, a consequência do fogo é eterna, não o fogo em si".
Antes de tudo, a fumaça que sobe em Apocalipse 14:11 é a do tormento, o que já estabelece uma distinção fundamental em relação à fumaça de Isaías 34:10. Além disso, a expressão “nem de dia nem de noite” está associada, em Apocalipse, à ausência de repouso para os que adoram a besta, o que difere claramente do caso de Edom. Algo semelhante é dito sobre Jerusalém em no próprio livro de Isaías:
“As tuas portas estarão abertas de contínuo; nem de dia nem de noite se fecharão, para que tragam a ti as riquezas das nações, e conduzidos com elas os seus reis.” Isaías 60:11
A expressão “dia e noite” transmite a ideia de algo incessante e ininterrupto. Literalmente, o texto fala de um tormento sem pausa e sem fim. Mas deixando de lado, por um momento, a discussão sobre sua eternidade — será que aqueles que defendem um tormento temporário realmente acreditam que os ímpios terão pequenos intervalos de descanso entre os períodos de sofrimento? Sinceramente, não creio que seja esse o caso.
Assim, o único ponto realmente comum entre as passagens é a fumaça que sobe — mas mesmo isso acontece por motivos diferentes: em Isaías, é a fumaça da destruição de uma cidade; em Apocalipse, é a fumaça do tormento constante daqueles que adoraram a besta. Até o enxofre é empregado em situações diferentes.
Agora indo aos pontos em comum, o grande e principal problema de olhar para passagens parecidas e acreditar que elas estão dizendo a mesma coisa é desconsiderar o contexto em que elas estão inseridas. Vejamos o contexto de Isaías 34:
Os seus mortos serão lançados fora, dos seus cadáveres subirá o mau cheiro, e do sangue deles os montes se inundarão. Todo o exército dos céus se dissolverá, e os céus se enrolarão como um pergaminho; todo o seu exército cairá, como cai a folha da vide e a folha da figueira. Porque a minha espada se embriagou nos céus; eis que, para exercer juízo, desce sobre Edom e sobre o povo que destinei para a destruição. A espada do Senhor está cheia de sangue, engrossada da gordura e do sangue de cordeiros e de bodes, da gordura dos rins de carneiros; porque o Senhor tem sacrifício em Bozra e grande matança na terra de Edom. Os bois selvagens cairão com eles, e os novilhos, com os touros; a sua terra se embriagará de sangue, e o seu pó se tornará fértil com a gordura. Porque será o dia da vingança do Senhor, ano de retribuições pela causa de Sião. Os ribeiros de Edom se transformarão em piche, e o seu pó, em enxofre; a sua terra se tornará em piche ardente. Nem de noite nem de dia se apagará; subirá para sempre a sua fumaça; de geração em geração será assolada, e para todo o sempre ninguém passará por ela. Mas o pelicano e o ouriço a possuirão; o bufo e o corvo habitarão nela. Estender-se-á sobre ela o cordel de destruição e o prumo de ruína. Já não haverá nobres para proclamarem um rei; os seus príncipes já não existem. Nos seus palácios, crescerão espinhos, e urtigas e cardos, nas suas fortalezas; será uma habitação de chacais e morada de avestruzes. As feras do deserto se encontrarão com as hienas, e os sátiros clamarão uns para os outros; fantasmas ali pousarão e acharão para si lugar de repouso. Aninhar-se-á ali a coruja, e porá os seus ovos, e os chocará, e na sombra abrigará os seus filhotes; também ali os abutres se ajuntarão, um com o outro. Isaías 34:3-15 ARA
Como visto em negrito, ninguém acredita que os montes seriam inundados de sangue, que estrelas cairiam do céu, que rios se transformariam em fogo, etc. Além do mais, como destaquei em sublinhado, o próprio texto mostra animais morando na cidade que, segundo texto, sua fumaça subiria para sempre. Logo trata- se uma hipérbole, isto é, de uma linguagem exagerada.
Um exemplo de hipérbole muito utilizada no cotidiano é: "Chorei rios de lágrimas".
Como Apocalipse é, na maioria das vezes, um conjunto de "recortes" ( confira Ez 2: 9, 10 e 3: 1-3 com Ap 5: 1 e 10: 8-10) de ideias extraídas do Antigo Testamento, o capítulo 19 parece trazer a mesma ideia. Vejamos a descrição da Babilônia:
Então, exclamou com potente voz, dizendo: Caiu! Caiu a grande Babilônia e se tornou morada de demônios, covil de toda espécie de espírito imundo e esconderijo de todo gênero de ave imunda e detestável, Apocalipse 18:2 ARA
Note que é a mesma descrição de Isaías 34: 11-15 mostrando animais na cidade em que sua fumaça subiria para sempre. Vale ressaltar que embora o texto mencione espíritos (demônios), essa é uma adaptação da Septuaginta, versão grega do Antigo Testamento. Veja como está Isaías 34 nela:
E os demônios se encontrarão com os sátiros, e eles chorarão uns aos outros: ali os sátiros descansarão, tendo encontrado para si [um lugar de] descanso. (Isaías 34: 14, LXX).
Ainda:
Então, um anjo forte levantou uma pedra como grande pedra de moinho e arrojou-a para dentro do mar, dizendo: Assim, com ímpeto, será arrojada Babilônia, a grande cidade, e nunca jamais será achada. Apocalipse 18:21 ARA
Como visto todo o contexto aponta para cidades que seriam destruídas completamente e nunca mais voltariam a existir. Todo o assunto de Isaías 34 é hiperbólico, e em Apocalipse, João pega emprestado as expressões atribuídas por Isaías e aplica à Babilônia escatológica.
Agora sabendo que tanto Isaías 34 quanto Apocalipse 19:3 são hipérboles, veremos se Apocalipse 14:10,11 é ou não pelo contexto geral.
Mas a besta foi aprisionada, e com ela o falso profeta que, com os sinais feitos diante dela, seduziu aqueles que receberam a marca da besta e eram os adoradores da sua imagem. Os dois foram lançados vivos dentro do lago de fogo que arde com enxofre. Apocalipse 19:20 ARA
O diabo, o sedutor deles, foi lançado para dentro do lago de fogo e enxofre, onde já se encontram não só a besta como também o falso profeta; e serão atormentados de dia e de noite, pelos séculos dos séculos. Apocalipse 20:10 ARA
Bem, o texto é claríssimo. Depois de mais de mil anos, a besta e o falso profeta ainda estão no lago de fogo, o que corrobora com uma ideia de eternidade, e não hiperbólica, como está em Isaías 34 e Apocalipse 19:3.
Outro texto que também mostra a ideia de eternidade:
E irão estes para o castigo eterno, porém os justos, para a vida eterna. Mateus 25:46 ARA
Como visto acima, a eternidade do castigo é colocada em paralelo com a da vida. Seria no mínimo tendencioso interpretar a vida como eterna e o castigo como temporário ou até mesmo hiperbólico, certo?
Só lembrando que é muito comum entre os sectários pegar expressões parecidas sem considerar o contexto em que ambas estão inseridas e acreditarem que elas dizem a mesma coisa. O mesmo fazem os preteristas completos, que utilizam estas duas passagens para afirmarem que a vinda de Cristo já ocorreu em juízo sobre Jerusalém em 70 d. C., e não foi e não será literal:
Sentença contra o Egito. Eis que o Senhor, cavalgando uma nuvem ligeira, vem ao Egito; os ídolos do Egito estremecerão diante dele, e o coração dos egípcios se derreterá dentro deles. Isaías 19:1 ARA
Respondeu-lhe Jesus: Tu o disseste; entretanto, eu vos declaro que, desde agora, vereis o Filho do Homem assentado à direita do Todo-Poderoso e vindo sobre as nuvens do céu. Mateus 26:64 ARA
E, adivinha, da mesma forma dos aniquilacionistas, os preteristas totais desconsideram o contexto geral, em declara vir Jesus da mesma forma como subiu, isto , literalmente:
Ditas estas palavras, foi Jesus elevado às alturas, à vista deles, e uma nuvem o encobriu dos seus olhos. E, estando eles com os olhos fitos no céu, enquanto Jesus subia, eis que dois varões vestidos de branco se puseram ao lado deles e lhes disseram: Varões galileus, por que estais olhando para as alturas? Esse Jesus que dentre vós foi assunto ao céu virá do modo como o vistes subir.
Atos 1:9-11 ARA
Como sempre digo, mais um alarme falso de quem insiste em justificar o ímpio, abraçando ideias contrárias aos ensinamentos da Bíblia. Para finalizar, vou mostrar um pequeno trecho da fala do pastor Carlos Augusto Vaillati sobre a questão da eternidade do inferno de forma curta e bem resumida:
Referências:
BIBLE.COM. Bíblia Sagrada: Almeida Revista e Atualizada. Disponível em: https://bible.com/bible. Acesso em: 25 nov. 2024.
ELLÓPOS. Septuagint Greek Text. Disponível em: https://www.ellopos.net/elpenor/greek-texts/septuagint/chapter.asp?book=43&page=34. Acesso em: 25 nov. 2024.
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