Tormento temporário seguido de aniquilação???
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A paz do Senhor! Hoje falarei sobre o aniquilacionismo, doutrina que afirma a destruição do homem no fim dos tempos. Antes de tudo, é importante ressaltar que há duas linhas dessa vertente. A primeira é a opinião de que os ímpios serão exterminados imediatamente; a segunda, que os ímpios serão atormentados por um tempo, e depois serão destruídos. Eu irei falar sobre a segunda e mostrar como os próprios textos-provas para defenderem essa visão simplesmente não a defendem. Na interpretação em questão, a pessoa seria castigada conforme os seus pecados. Por exemplo, o ladrão de galinha seria atormentado por um pouco de tempo e depois seria destruído; já um assassino passaria mais tempo no lago de fogo para depois ser destruído. Bem vejamos os principais textos utilizados para defender essa doutrina.
Malaquias 4: 1
Pois eis que vem o dia e arde como fornalha; todos os soberbos e todos os que cometem perversidade serão como o restolho; o dia que vem os abrasará, diz o Senhor dos Exércitos, de sorte que não lhes deixará nem raiz nem ramo. Malaquias 4:1 ARA
Eu te garanto: qualquer discussão com um aniquilacionista terá esse texto citado. Mas será que esse texto prova mesmo a ideia acima? Pra quem não sabe, "restolho" é a palha seca do trigo, que os judeus usavam como combustível no forno após o colher. Faça uma comparação do texto acima com o episódio de Mateus 3: 12 e te esclarescerá mais. E agora eu te pergunto: você já viu palha queimando num forno ardente? Farei questão de te mostrar uma palha de trigo!!!
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Pois é, amigo, a palha queima em instantes!! É bem difícil você ligar a ideia de um restolho queimando com uma pessoa que passa um tempo sendo atormentando para depois ser destruída, não é mesmo?
Para termos noção, a mesma expressão é utilizada no cântico de Miriã em Êxodo 15 para a rápida derrota dos egípcios por água:
A tua destra, ó Senhor, é gloriosa em poder; a tua destra, ó Senhor, despedaça o inimigo. Na grandeza da tua excelência, derribas os que se levantam contra ti; envias o teu furor, que os consome como restolho. Com o resfolgar das tuas narinas, amontoaram-se as águas, as correntes pararam em montão; os vagalhões coalharam-se no coração do mar. Êxodo 15:6-8 ARA
O que realmente Deus queria dizer em Malaquias, é que embora os israelitas acreditassem que Deus não castigue os ímpios, chegaria um momento em que Deus executaria um juízo repentino sobre a terra, assim como o agricultor a seu tempo ("Dia do Senhor") colhia os restos do trigo e lançava o restolho na fornalha. A expressão "não sobrará nem raiz nem ramo" apenas alude a ideia do restolho de trigo sendo arrancado do local da plantação e jogado no fogo. Igualmente, os ímpios também serão "arrancados" da terra (local da plantação) e jogados no lago de fogo.
Vamos pra outro texto?
Judas 1: 7
como Sodoma, e Gomorra, e as cidades circunvizinhas, que, havendo-se entregado à prostituição como aqueles, seguindo após outra carne, são postas para exemplo do fogo eterno, sofrendo punição. Judas 1:7 ARA
Esse texto é muito utilizado quando a gente alega que o tormento é eterno porque o fogo é eterno. A meu ver, o texto acima diz que o fogo de Sodoma era um "exemplo" no mesmo sentido em que o Templo terrestre era um "exemplo" do celestial (Hb 8: 5), ou seja, era uma figura, representação do castigo futuro, e não o mesmo castigo. Mas vamos ver como foi a destruição de Sodoma e Gomorra e ver se essa doutrina dá pra ser provada por esse texto:
Porque maior é a maldade da filha do meu povo do que o pecado de Sodoma, que foi subvertida como num momento, sem o emprego de mãos nenhumas. Lamentações 4:6 ARA
O dicionário Strong define a palavra traduzida por "momento" como "De raga' . Uma piscadela (de olhos), ou seja, um espaço de tempo muito curto - instante, momento, espaço, de repente."
Fonte: https://biblehub.com/hebrew/7281.htm
Novamente, o texto diz o contrário do que essa doutrina prega. Enquanto dizem que os ímpios passarão um tempo para serem destruídos no fogo, as cidades foram destruídas num instante. Outra comparação sem nexo, não é mesmo??
Salmo 37
Este é outro trecho da Bíblia que esse povo ama citar, inclusive o citam todo como prova irrefutável de que a doutrina deles corresponde a verdade bíblica. Citarei apenas uma parte, mas você poderá conferi-lo todo em sua Bíblia:
Os ímpios, no entanto, perecerão, e os inimigos do Senhor serão como o viço das pastagens; serão aniquilados e se desfarão em fumaça. Salmos 37:20 ARA
Mas aí você diz: "Mas parece que é mesmo, não é?" Não é, amigo! Pra começar o salmo nem é escatológico!!! Duvida? Veja mais à frente:
Vi um ímpio prepotente a expandir-se qual cedro do Líbano. Passei, e eis que desaparecera; procurei-o, e já não foi encontrado. Salmos 37:35-36 ARA.
O salmo apenas fala da experiência de vida do rei Davi, e a conclusão que ele chegou entre ser justo e ser ímpio e o destino de cada um nesse mundo. Aliás esse salmo está completamente ligado a lei da obediência ou desobediência de Deuteronômio 28, em que Deus promete bençãos aos israelitas caso fossem fiéis, mas maldição a quem fosse infiel:
Fui moço e já, agora, sou velho, porém jamais vi o justo desamparado, nem a sua descendência a mendigar o pão. É sempre compassivo e empresta, e a sua descendência será uma bênção. Salmos 37:25-26 ARA
Mais um texto, gente!!!
Lucas 12: 45-48
45Mas, se aquele servo disser consigo mesmo: Meu senhor tarda em vir, e passar a espancar os criados e as criadas, a comer, a beber e a embriagar-se, 46virá o senhor daquele servo, em dia em que não o espera e em hora que não sabe, e castigá-lo-á, lançando-lhe a sorte com os infiéis. 47Aquele servo, porém, que conheceu a vontade de seu senhor e não se aprontou, nem fez segundo a sua vontade será punido com muitos açoites. 48Aquele, porém, que não soube a vontade do seu senhor e fez coisas dignas de reprovação levará poucos açoites. Mas àquele a quem muito foi dado, muito lhe será exigido; e àquele a quem muito se confia, muito mais lhe pedirão. Lucas 12:45-48 ARA
Esse é o texto que, pra mim, mais chega perto da ideia defendida por essas pessoas. Só lembrando que chega a ser vergonhoso o uso de uma parábola por quem tanto critica quem formula suas doutrinas com base na perícope de "O Rico e Lázaro". Mas beleza, vamos ver se esse trecho prova um tormento seguido de execução, não é mesmo?
Pra acabar de vez com a festa, as penas de açoites judaicas nunca foram seguidas de execução:
Se alguém ferir o olho do seu escravo ou o olho da sua escrava e o inutilizar, deixá-lo-á ir forro pelo seu olho. E, se com violência fizer cair um dente do seu escravo ou da sua escrava, deixá-lo-á ir forro pelo seu dente. Êxodo 21:26-27 ARA
Opa!!!! Sim, se o dono do escravo o ferisse gravemente, o lesionado seria liberto na hora. Mesmo se alguém sugerir que seja o regime romano (que também não dá base para essa ideia - Lc 23: 16), essa ideia de um servo levar alguns açoites e depois ser executado é bizarra. Sinceramente, é muito mais fácil provar o universalismo ou o purgatório com esses versículos, pois os servos depois de serem açoitados, voltavam a trabalhar normalmente na casa de seus senhores. Na realidade, esse é um dos textos também usados pelos católicos para provarem a existência de purgatório. As únicas penas compostas de tormento seguido de execução são aquelas do PCC.
Creio que, nessa parábola, a meta do Senhor Jesus é provar que todos os crentes totalmente desobedientes (v. 46), desleixados (v. 47) ou ignorantes (v. 48) serão dignos de castigo. Isto é, assim como um dono de escravos chegava de uma viagem e punia a todos os que não cuidaram de seus bens corretamente, o mesmo fará Jesus na sua vinda. Algumas versões da Bíblia diz que o servo totalmente desobediente que maltratava seus criados do verso 46 seria cortado ao meio, o que tornaria esse modelo aniquilacionista sem sentido; pois enquanto o servo do verso 46, que é o pior tipo, seria executado, o desleixado, que é um tipo menos pior de servo, levaria muitos açoites para depois ser morto.
Sobre essa passagem, o site Carm.org tem um ótimo comentário:
"Mesmo que os aniquilacionistas tenham visões diferentes sobre a natureza e extensão do julgamento final, sua visão de experimentar uma medida de punição antes de ser aniquilado parece ser autorrefutável. Se os ímpios sofrem de acordo com a Lei, então, uma vez que o sofrimento termina, por que eles não vão para o céu? Eles não deveriam ser salvos porque cumpriram os requisitos da Lei? Mas, ter Deus os aniquilando significaria que eles sofreriam duas punições, não uma pelas mesmas ofensas. Isso arriscaria acusar Deus de imoralidade ao fazê-lo punir uma pessoa duas vezes pelos mesmos pecados cometidos. Não faz sentido e não pode ser verdade."
Fonte: https://carm.org/annihilationism/annihilationism-and-luke-1247-48-and-degrees-of-punishment/
Além desses textos, há mais de 180 totalmente descontextualizados com o intuito de provar uma mentira que agrade o ouvido de quem vive no pecado. Pra se ter ideia, o povo, inclusive, pega até passagens de Provérbios e Jó, que não são livros escatológicos como evidência aniquilacionista. O tormento é eterno (Ap 20: 10), mas a vida também é eterna e é de graça. Agora se a pessoa não quer receber algo gratuito para ter o salário do pecado, não culpe ou acuse Deus do que ele nunca foi, alguém que tem prazer em ver o sofrimento do ímpio:
E irão estes para o castigo eterno, porém os justos, para a vida eterna. Mateus 25:46 ARA
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