Do Egito chamei quem???
Mateus 2:15 diz:
“…onde ficou até a morte de Herodes. E assim se cumpriu o que o Senhor tinha
dito pelo profeta: “Do Egito chamei o meu filho”
Oseias 11:1-2:
“”Quando Israel era menino, eu o amei, e do Egito chamei o meu filho. Mas,
quanto mais eu o chamava, mais eles se afastavam de mim. Eles ofereceram
sacrifícios aos baalins e queimaram incenso aos ídolos esculpidos.”
A todos os irmãos em
Cristo, a paz do Senhor! Sejam bem vindos ao meu bloguinho sobre curiosidades
do mundo virtual! Hoje discutiremos um texto que é muito atacado por aqueles
que são anticristãos para desacreditar nossa fé. E como cristãos, às vezes,
ficamos na dúvida sobre a nossa fé quando somos confrontados por argumentos
desse tipo de gente. Bem, o que vou publicar aqui não é de forma alguma uma
refutação ou ataque aos anticristãos, mas apenas uma tentativa de ensinar meus
amados irmãos a entenderem a fé que professam.
Como visto acima, esta citação de Oseias se refere a Israel, não ao Messias. E a pergunta surge imediatamente: Então Mateus mentiu, distorceu o texto de Oseias? A Resposta: Não!
Em primeiro lugar, os evangelhos foram feitos para pessoas
convertidas, não necessariamente para converter. Isso mesmo, as pessoas que receberam o
evangelho de Mateus já eram cristãs!!! Além disso, o evangelho de Mateus foi
escrito para judeus, pessoas que conheciam muito bem as suas Escrituras. Ou
seja, a hipótese de distorção não faz sentido algum, mas, sim, que se tratava
de um método interpretativo utilizado nos primeiros séculos, o que logo à
frente mostrarei com detalhe.
Em segundo lugar, o que muita gente não sabe (incluindo a
maioria dos cristãos) é que, na era apostólica, os discípulos viam, nos eventos
passados, figuras ou representações do Messias. Para provar isso,
vou citar um trecho da carta de Clemente de Roma aos Coríntios. Clemente foi um
cristão que pode nos ajudar a entender muito bem essa passagem de Mateus. Isso
porque, segundo a história eclesiástica, ele viveu entre os anos 10 e 100 d. C.
Exatamente, Clemente conviveu com os apóstolos! Agora vejamos um trecho de sua
carta:
“1. Por causa da fé e
hospitalidade, Raabe, a prostituta, se salvou. 2. Pois quando Josué, filho de Num, mandou
espiões para Jericó, o rei daquela nação ficou sabendo que haviam chegado
homens para explorar a terra; então mandou homens para os prenderem e, após
presos, matarem-nos. 3. Raabe, a
hospitaleira, recebeu-os e os ocultou sob a palha do linho no andar superior. 4. Quando os emissários do rei se apresentaram
e lhe falaram: "Aqui entraram os espiões que vieram reconhecer nosso
território. O rei manda que os entregueis", ela respondeu-lhes: "De
fato, os homens que procurais entraram em minha casa, porém já se retiraram e
continuam seu caminho". E ela apontou-lhes em direção oposta. 5. Então ela falou aos espiões: Disto sei e me
convenci: o Senhor vos entregou esta terra porque o medo e pânico se apossaram
de seus habitantes. Quando a conquistardes, salvai a mim e a casa de meu
pai". 6. Os espiões responderam: "Será como falaste! Quando nos vires
aproximar, reúnam-se todos os teus parentes sob o teto da tua morada e todos
serão salvos; porém, aqueles que estiverem do lado de fora perecerão". 7.
Como outro sinal, propuseram-lhe ainda que dependurasse algo vermelho na casa,
tornando evidente que, pelo sangue do Senhor, viria a redenção para todos
aqueles que cressem e esperassem em Deus. 8.
Vede, amados: nesta mulher não houve apenas fé, MAS TAMBÉM DOM DE PROFECIA”
(Capítulo XII)
Como você pode observar, aquele sinal deixado por Raabe para proteger sua família durante o ataque israelita, para Clemente, também apontava para a morte de Cristo. Era, na visão dele, um símbolo do que ocorreria com Jesus, nosso Senhor!
A carta de Clemente
na íntegra pode ser vista aqui: http://www.e-cristianismo.com.br/historia-do-cristianismo/pais-apostolicos/clemente-de-roma-aos-corintios.html
Outro cristão que pode dizer o mesmo é Justino, o Mártir.
Este viveu entre os anos 100 e 165 d. C., e usa o mesmo método interpretativo,
provando que o uso de Mateus era comum na comunidade cristã da Antiguidade, não
uma distorção. Ele inclusive usa a mesma passagem que Clemente, em Diálogo com
Trifão:
“Não sei quem possa afirmar isso, mas o fato é
que antecipadamente anunciava a salvação que viria para todo o gênero humano
por meio do sangue de Cristo. O mesmo sinal da fita escarlate que os
exploradores mandados por Jesus (Josué), filho de Nave, deram em Jericó à prostituta Raab, dizendo-lhe que a pendurasse na
janela por onde os fizera descer para enganar os inimigos, foi também símbolo
do sangue de Cristo. Por meio dele, salvar-se-ão os que antes se entregavam
à fornicação e à iniqüidade, pessoas de todas as nações que recebem o perdão de
seus pecados e não tornam mais a pecar.” (Diálogo com Trifão, cap. 113: 4)
Para Justino, o nome dado a Josué, sucessor de Moisés, o
episódio da serpentes no deserto (o qual Moisés fez um sinal de cruz) e muitos
outros apontavam para Jesus:
"1Também não foi por acaso que o profeta Moisés permaneceu até a
tarde mantendo a figura da cruz, quando Hor e Aarão lhe sustentavam os braços,
pois também o Senhor permaneceu sobre a cruz até quase o entardecer; e pelo
entardecer o sepultaram, para ressuscitar no terceiro dia."E a serpente de
bronze, a qual mandou que os picados olhassem para ela e eles se curavam. Fez
isso depois que ele próprio tinha ordenado que ninguém absolutamente fabricasse
imagem.” (Cap. 94)
“ 1Trifão replicou: — Sabes muito bem que o nosso povo todo espera pelo Cristo. Também te concedemos que todas as passagens das Escrituras, que citaste, se referem a ele. Eu pessoalmente te declaro também que o nome de Jesus [Josué] dado ao filho de Num levou-me a ceder também nesse ponto.” (Cap. 89)
Aqui Trifão, um judeu que
estava dialogando com Justino, concorda com ele sobre o nome dado a Josué (que
é o mesmo de Jesus) ser um símbolo do Messias.
Se isso não é bastante, agora vou citar o Talmud, livro da literatura judaica, que demonstra a forma como os judeus interpretavam (e interpretam) as Escrituras:
A propósito do
Messias, a Gemara pergunta: Qual é o seu nome? A escola do rabino Sheila diz:
Shiloh é o seu nome, como está escrito: “Até quando Shiloh vier” ( Gênesis
49:10 ). A escola de Rabi Yannai diz: Yinnon é seu nome, como está escrito:
“Que seu nome dure para sempre; que seu nome continue [ yinnon ] enquanto o
sol; e que os homens se abençoem por ele ”( Sl 72:17 ). A escola do rabino Ḥanina
diz: Ḥanina é o seu nome, como se diz: “Pois não te mostrarei favor algum [ ḥanina
]” ( Jeremias 16:13 ). E alguns dizem
que Menaḥem ben Ḥizkiyya é seu nome, como se diz: “Porque o consolador [ menaḥem
] que deve aliviar minha alma está longe de mim” ( Lamentações 1:16 ). E os
rabinos dizem: O leproso da casa do rabino Yehuda HaNasi é seu nome, como está
escrito: “De fato, nossas doenças ele suportou e nossas dores ele suportou; mas
nós o consideramos ferido, ferido por Deus e afligido ” ( Is 53:4 ). (Sanhedrin
98b)
Se você conferir em sua Bíblia, o trecho de Lamentações 1:
16, do qual o rabino sugere que seja referência ao Messias, não é
messiânico,mas ele faz uma aplicação. Ele errou? Não! Trata-se apenas de um
midrash, método interpretativo do judaísmo. Os discípulos eram judeus, certo? E mais um:
O Mundo Vindouro foi preparado para você desde os seis
dias da criação. Como diz (Êxodo 33:22), “Deus disse, aqui está um lugar perto
de mim; fique de pé sobre aquela rocha.”O Santo Abençoado tomou a alma de Moisés
e guardou-a sob o Trono da Glória. (Como está dito [I Samuel 25:29], “E a alma
de meu mestre será ligada no vínculo da vida.”) E quando Ele o pegou, Ele o fez
com um beijo. Como diz (Deuteronômio 34:5), “[Moisés morreu...] pela boca de
Deus.” E não apenas a alma de Moisés está armazenada sob o Trono da Glória, mas
também as almas de todos os justos estão armazenadas lá! Como diz (I Samuel
25:29), “[Se alguém se dispuser a persegui-lo e buscar a sua vida], a alma do
meu mestre estará ligada ao vínculo da vida” (Avot D'Rabbi Natan 12:8, Mishná, século
2).
É óbvio que nenhuma das passagens citadas pelo rabino fazem referência (pelo menos clara e direta!) à construção de mundo vindouro desde o sexto dia nem à imortarlidade da alma. Será que o Rabbi Natan, que obviamente lia a Bíblia Hebraica desde criança, errou algo tão simples para enganar seus irmãos judeus? Ou isso seria um método interpretativo judaico? Eu fico com a segunda opção.
Além do mais, isso pode ser visto na própria Biblia. Um clássico exemplo está em Mateus 12, quando os judeus pedem um sinal:
Então, alguns escribas e fariseus replicaram: Mestre,
queremos ver de tua parte algum sinal. Ele, porém, respondeu: Uma geração má e
adúltera pede um sinal; mas nenhum sinal lhe será dado, senão o do profeta
Jonas. Porque assim como esteve Jonas três dias e três noites no ventre do
grande peixe, assim o Filho do Homem estará três dias e três noites no coração
da terra. Mateus 12:38-40 ARA
Já no evangelho de João, o Mestre faz uma analogia de si com o
episódio da serpente (Nm 21: 4-9), em que o fato de ela ser levantada trouxe
cura para os israelitas:
Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa
que o Filho do Homem seja levantado, para que todo o que nele crê tenha a vida
eterna. João 3:14-15 TB
O mesmo padrão é encontrado na primeira carta de Pedro, em que
Pedro vê no dilúvio uma figura do batismo:
os quais, noutro tempo, foram desobedientes quando a
longanimidade de Deus aguardava nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca,
na qual poucos, a saber, oito pessoas, foram salvos, através da água, a qual, figurando
o batismo, agora também vos salva, não sendo a remoção da imundícia da
carne, mas a indagação de uma boa consciência para com Deus, por meio da
ressurreição de Jesus Cristo; 1Pedro 3:20-21 ARA
Note que assim como os pais da Igreja apostólicos e os
judeus do Talmud, o método em ver nas passagens do Antigo Testamento como
figuras do Salvador era também um método interpretativo dos apóstolos.
Veja a semelhança entre ambos (Jesus e Israel):
Jesus: quando criança, foi levado por JOSÉ ao Egito;
Israel: Também foi levado por JOSÉ ao Egito;
Jesus: Saiu do Egito quando criança;
Israel: Também saiu do Egito no seu início;
Jesus: Ao sair das águas, passou quarenta períodos de
provação no deserto;
Israel: Também passou quarenta períodos de tentação após
sair das águas;
Jesus: Morreu pelos romanos;
Israel: Também foi destruído pelos romanos em 70 d. C.
Outro ponto que pode mostrar essa visão cristã dos primeiros
séculos são os ritos mosaicos! Na lei de Moisés, existia a Festa das Primícias;
Cristo, para os cristãos é a ‘primícia dos que dormem’ (I Co 15: 20). Da mesma
forma, Jesus Cristo é tido como o cordeiro Pascal. Ou seja, todo o
cerimonialismo do Antigo eram uma representação, um símbolo de Cristo e do
Evangelho, conforme Colossenses 2: 16-17 e Hebreus 8: 4-6.
Como visto de acordo com o testemunho patrístico, cultural e o Novo Testamento trata-se apenas de um método interpretativo da época. Para os judeus, é chamado "midrash"; para os cristãos, tipologia. O problema, muitas das vezes, é que, nós, como não somos os destinatários primários, começamos a procurar enteder o texto à luz de nosso próprio contexto ocidental.
Se você conferir em sua Bíblia, o trecho de Lamentações 1: 16, do qual o rabino sugere que seja referência ao Messias, não é messiânico,mas ele faz uma aplicação. Ele errou? Não! Trata-se apenas de um midrash, método interpretativo do judaísmo.
ResponderExcluirAte voce ainda nao entendeu o ojetivo dos midrashim? Aprenda Roneilson NAO EXISTE EXEGESE SOBRE MIDRASH. Ou seja o midrash nao explica o verso em questao, sempre eh o contrario!
Meu amigo, seus estudos vagueiam por aguas turvas, nao se pode, por motivos obvios atribuir profecias cumpridas fazendo uso de midrashim.
ResponderExcluirBem, creio que ficou bem exemplificado que esses textos todos como "contradições" refletem apenas um método interpretativo da época, e que até o judaísmo ortodoxo tem interpretação parecida.
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